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Quem são os músicos do interior do Rio que levaram choro e samba à recepção do príncipe William no Pão de Açúcar

Formado por três irmãos, o Trio Julio nasceu de um sonho em Cordeiro e hoje se divide entre apresentações e salas de aula na capital fluminense

Agência O Globo - 03/11/2025
Quem são os músicos do interior do Rio que levaram choro e samba à recepção do príncipe William no Pão de Açúcar
- Foto: Reprodução / Instagram

O som que embalou a visita do príncipe William, do Reino Unido, ao Pão de Açúcar, na Urca, Zona Sul do Rio, nesta segunda-feira, foi conduzido pelas cordas e percussões do Trio Julio — grupo formado pelos irmãos Maycon Julio, Magno Julio e Marlon Julio. Responsáveis pela trilha sonora da breve passagem do herdeiro da coroa britânica pelo cartão-postal carioca, os músicos apresentaram clássicos da música brasileira, como "A Voz do Morro", de Zé Kéti, "Samba de uma Nota Só", de Tom Jobim e Newton Mendonça, e "Brasileiro", de Waldir Azevedo.

O convite para a apresentação partiu da Prefeitura do Rio e surpreendeu os artistas, que se mostraram entusiasmados com a oportunidade.

— Quando recebemos o convite, nos disseram que foi o próprio prefeito que pediu nossa presença. Ficamos lisonjeados e tensos. Já tocamos para muita gente, mas para a realeza foi a primeira vez — contou Magno Julio.

A performance desta segunda-feira é resultado de 28 anos de dedicação à música. Naturais de Cordeiro, no interior do estado, os irmãos iniciaram a trajetória ainda crianças, incentivados por pais e familiares. Eles relatam que a paixão pela música nasceu em casa, ouvindo samba e MPB. Nomes como Dona Ivone Lara e Elis Regina serviram de inspiração para que se dedicassem aos estudos musicais.

Ainda na infância, começaram a estudar na Sociedade Musical Fraternidade Cordeirense, em sua cidade natal. Anos depois, aos 13 e 15 anos — Maycon e Marlon são gêmeos —, surgiu a oportunidade de estudar na Escola Portátil de Música (EPM), no Centro do Rio. Mesmo com a distância, não deixaram escapar a chance: as aulas aconteciam aos sábados, e durante oito anos enfrentaram 4h30 de viagem entre Cordeiro e a capital, ida e volta. Segundo eles, o apoio logístico da Prefeitura de Cordeiro foi fundamental nesse período.

Da dedicação e do antigo grupo formado com dois primos, nasceu a ideia de uma nova formação, apenas entre os irmãos. Assim surgiu o Trio Julio, batizado em homenagem à família que sempre os incentivou.

Desde então, o grupo soma apresentações, mudou-se para a capital há mais de dez anos e já tocou ao lado de grandes nomes da música brasileira, como Paulinho da Viola, Ney Matogrosso, Zélia Duncan, entre outros. Por isso, além do choro, o repertório também abrange samba, frevo, baião e MPB.

Hoje, com 36 e 38 anos, os irmãos dividem o tempo entre os palcos e as aulas que ministram na antiga EPM — escola que foi fundamental para o amadurecimento artístico do trio. Inspirados por mestres como Maurício Carrilho, João do Bandolim e Carlinhos Sete Cordas, seguem firmes na missão de preservar e difundir a música brasileira.

— Tocamos em diversos lugares e para públicos variados. Já nos apresentamos em eventos oficiais, inclusive na presença do prefeito Eduardo Paes e do presidente Lula. É gratificante ver nosso trabalho reconhecido e celebrado — destaca Magno.

E, na manhã desta segunda-feira, com o Rio de Janeiro sob os pés, os acordes e a harmonia do Trio Julio mostraram que o choro permanece vivo e segue como um dos gêneros mais autênticos da música brasileira — e, por alguns instantes, ecoou até para a realeza.