RJ em Foco
Prefeitura do Rio lança programa para plantar 200 mil mudas nas ruas; entenda
Proposta é tentar reduzir desigualdade entre as regiões da cidade. Com poucas árvores, Zona Norte sofre com mais calor
No vídeo postado esta semana numa rede social, que já estava com quase três milhões de visualizações na sexta-feira, o estudante de gestão pública Pedro Nassif, de 23 anos, mostra a imagem árida de um trecho da Avenida Ministro Edgard Romero, em Madureira, na Zona Norte, com muitos postes de iluminação e quase nenhuma árvore. Em contraste, exibe a foto da arborizada Rua Bolívar, em Copacabana, na Zona Sul. Na legenda, o jovem escreve: “É por isso que o morador do subúrbio sente mais calor que o da Zona Sul”.
Líder do Santo Daime:
Homicídio:
O poder público não tem dados recentes daquilo que o carioca sente na pele: há mais árvores nas ruas das áreas nobres que nas vias da periferia. O último levantamento é de 2015 e consta do Plano Diretor de Arborização Urbana, da Fundação Parques e Jardins. O estudo apontava para a existência de um milhão de árvores, número semelhante ao déficit indicado em 2023 pela Sociedade Brasileira de Arborização Urbana.
Pedidos pelo 1746
Numa tentativa de atenuar o problema, a prefeitura lançou esta semana o projeto Planta+Rio. A ideia é contar com o apoio da população, que, por meio do serviço 1746, poderá indicar onde há necessidade de novos plantios. A expectativa é ter mais 200 mil mudas nas ruas até 2028.
—A Zona Norte será muito beneficiada, pois é a região que mais precisa do plantio de árvores, especialmente bairros como Ramos, Olaria e Bonsucesso — disse o vice-prefeito Eduardo Cavaliere, ao participar do plantio da primeira árvore do projeto na Rua Felisberto Freire, em Ramos, na última quinta-feira.
Num passeio pela cidade é possível observar a diferença exibida no vídeo de Pedro também em outras regiões. Enquanto na mesma Copacabana, ruas como a Santa Clara têm uma grande quantidade de árvores que formam um imenso corredor verde de uma extremidade a outra, em vias como a Rua Sargento Pinto de Oliveira, em Ramos, o que se vê é exatamente o oposto.
O professor Andrew Lucena, do Laboratório Integrado de Geografia Física Aplicada (Liga), da Universidade Federal Rural do Rio, classificou a Zona Norte como o “caldeirão de calor” da cidade, por conta da escassez de árvores. Ele aponta Irajá, Penha, Vila da Penha, Olaria, Bonsucesso, Manguinhos e Costa Barros como os locais com maior carência de verde e, consequentemente, mais quentes. Na outra extremidade, com ruas mais arborizadas, aparecem Jardim Botânico, Gávea, São Conrado, Ipanema, Leblon e Leme, além de Copacabana — uma garantia de frescor.
— Ainda que venham a ocorrer ações da prefeitura, a Zona Norte é toda pavimentada ou cimentada, com pouquíssimas exceções. Então, continua apresentando as temperaturas mais altas, que estão associadas a baixas áreas de biomassa, ou seja, de florestas ou árvores que poderiam amenizá-las — aponta Andrew Lucena.
O professor integra uma equipe que está preparando o mapeamento do calor nas 1.200 favelas da cidade, e as do Complexo Alemão já despontam no topo do ranking. No outro extremo estão Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu — todas na Zona Sul, com clima mais ameno por conta da presença de áreas verdes. Ele diz ainda que, nas zonas Oeste e Sudoeste, algumas regiões em Campo Grande, Santa Cruz, Guaratiba e Barra de Guaratiba, apesar do crescimento horizontal, ainda têm trechos com muito verde e isso ajuda a reduzir a temperatura.
A professora Nubia Beray Armond, do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Geografia e Clima da UFRJ, explica que as áreas verdes cumprem papel importante na diminuição da temperatura, tanto fornecendo o sombreamento com suas copas, como na retirada da água do solo que, num processo de evaporação, também pode atenuar a sensação de calor no ambiente.
— A arborização e as áreas verdes cumprem um papel fundamental na diminuição das temperaturas e na promoção de melhores condições de conforto térmico nas cidades — explica ela.
Um estudo do laboratório, feito no verão de 2023, constatou que em Madureira, num trecho entre o mercadão e a estação do BRT, foi encontrada uma diferença de temperatura de quase 12°C ao longo do dia em comparação com a registrada no Alto da Boa Vista. Outro trabalho do mesmo centro mostra que vegetação de grande porte contribui para uma redução de temperatura entre 40% e 60%.
— As políticas de arborização que chegam à Zona Norte não têm continuidade por falta de fiscalização ou de interesse. Por conta disso, a gente vê o nível do calor subindo, e a população é que sofre — critica Pedro Nassif, morador de Irajá.
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