RJ em Foco
Deputados de esquerda acusam 'boicote coordenado' na Alerj após votação sobre prisão de Bacellar
Base de governo nega e fala em 'disputa ideológica legítima'
O clima na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) voltou a se acirrar nesta quarta-feira, dois dias após a votação que decidiu pela soltura do presidente afastado Rodrigo Bacellar (União). Deputados de esquerda afirmam que seus projetos passaram a sofrer um “boicote coordenado” desde segunda-feira, com sucessivas manobras regimentais que estariam travando proposições de parlamentares que votaram pelo afastamento e pela manutenção da prisão.
Já a base governista nega retaliação e alega que as ações fazem parte do “jogo político” e do uso legítimo do regimento em "disputas ideológicas". O deputado Flávio Serafini (PSOL) foi o primeiro a se manifestar publicamente sobre o impasse e relatou uma série de episódios que, segundo ele, indicariam retaliação direta aos parlamentares que se posicionaram contra Bacellar.
— Na segunda-feira, votamos o afastamento do Rodrigo Bacellar. Eles tiveram maioria, mas muitos deputados votaram pelo afastamento. Desde então, todos os projetos dos deputados que votaram pelo afastamento estão sendo boicotados — disse Serafini ao complementar:
— Ontem, fui praticamente impedido pelo deputado Rodrigo Amorim de defender emendas ao projeto do Corpo de Bombeiros. Hoje, a sessão caiu após pedido de verificação de quórum num projeto de um deputado que votou pela prisão de Bacellar. Projetos de parlamentares da esquerda receberam emendas ridículas, visivelmente para serem retirados de pauta.
Ele citou ainda a retirada de um projeto da deputada Élika Takimoto sob argumento de duplicidade com outra proposição já arquivada.
— Há dois dias ocorre uma ação coordenada para impedir que qualquer projeto dos deputados que votaram pela prisão continue tramitando. Isso é um absurdo e vai prejudicar o próprio Bacellar. Esses caras são inconsequentes — afirmou.
PT abre processo interno contra Carla Machado
A deputada Elika Takimoto (PT) também se posicionou, mas começou tratando da postura da colega de bancada Carla Machado, que contrariou a orientação do partido e votou pela libertação de Bacellar na segunda-feira.
— Tivemos orientação clara de como votar. A deputada Carla destoou, fugiu completamente da posição do partido. Isso é gravíssimo. Dado o peso das denúncias, envolvendo PGR, Polícia Federal e STF, não havia espaço para divergência. A Comissão de Ética já analisa o caso — disse.
Elika reforçou as críticas ao que classificou como um “padrão anormal” observado no plenário desde a votação:
— Depois de segunda-feira, coisas começaram a acontecer que não eram habituais. Emendas de última hora, revisão de quórum em matérias pacificadas, inclusive projetos sem qualquer teor ideológico. Isso salta aos olhos. Hoje, meu projeto sobre uma demanda da comunidade surda foi retirado de pauta com base em uma justificativa falsa sobre duplicidade com outro que já estava arquivado — afirmou.
Para ela, os episódios revelam tentativa clara de punição política:
— É uma manobra para prejudicar a esquerda. Isso não ocorre com projetos deles, só com os nossos. Isso não pega bem para a Casa nem para o deputado Rodrigo Bacellar. O que está acontecendo aqui é grave e precisa ser dito.
Líder do governo e um dos principais aliados de Bacellar, o deputado Rodrigo Amorim (União) refutou qualquer articulação de boicote, afirmando que o governo não interferiu na votação sobre a prisão e que não orienta obstrução.
— A votação sobre o presidente Bacellar não diz respeito ao governo. Não existe recomendação para obstruir matéria nenhuma. Isso é uma questão interna da Alerj — disse Amorim.
Segundo ele, o uso do regimento para dificultar a tramitação de projetos da esquerda faz parte da dinâmica política da Casa.
— Uma maioria conservadora e o maior partido da Alerj têm legitimidade para contestar pautas de esquerda. É natural. Qualquer mandato pode usar o regimento para confrontar outro grupo político. Isso não é irregular — afirmou.
Amorim destacou que, apesar do embate ideológico, a Alerj precisa correr para votar pautas essenciais antes do fim do ano legislativo, como o orçamento de 2026 (LOA), vetos do Executivo e o Propag — instrumento necessário para que o governo e os demais poderes tenham autorização de gastos.
— Temos quase 40 vetos a analisar, mensagens dos poderes, projetos que impactam a polícia penal, orçamento, Propag. Para o governo, obstrução não é boa. Trava tudo. Meu esforço tem sido para restabelecer a normalidade institucional — afirmou.
O deputado disse ainda que entregou ao presidente em exercício, Guilherme Delaroli (PL), uma lista de projetos considerados prioritários por parlamentares de esquerda, fruto de acordo anterior com Bacellar, para que fossem pautados em bloco. Ele negou que haja articulações para sucessão no comando da Alerj:
— Não há articulação nenhuma para eleição. O presidente da Casa é Rodrigo Bacellar, afastado por decisão judicial, e acatamos isso. Não existe hipótese regimental de eleição neste momento. Qualquer especulação é invenção — completou.
Base tenta reduzir tensão, mas clima segue pesado
Nos bastidores, parlamentares da esquerda mantêm a avaliação de que houve uma mudança brusca no comportamento da base desde a votação de segunda-feira — algo que deputados governistas rejeitam. O presidente em exercício, Guilherme Delaroli, tem atuado ao lado de Amorim para tentar reorganizar a pauta e evitar paralisia diante do calendário apertado.
Apesar das tentativas de reconstruir o clima institucional, a desconfiança permanece e promete marcar as últimas semanas antes do recesso.
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