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Bacellar: com pedido de licença, deputado busca articulação para se manter no cargo ou indicar sucessor à presidência da Alerj

Aliados de Bacellar tentam convencê-lo de que a melhor maneira de manter o controle da Casa seria renunciar à presidência, indicando alguém de seu grupo político como sucessor

Agência O Globo - 11/12/2025
Bacellar: com pedido de licença, deputado busca articulação para se manter no cargo ou indicar sucessor à presidência da Alerj
Rodrigo Bacellar - Foto: Reprodução / Instagram

Preso e afastado da presidência da Alerj no dia 3, por determinação do ministro do STF Alexandre de Moraes, o deputado Rodrigo Bacellar (União Brasil) ganhou liberdade provisória após votação realizada na Casa, na última segunda-feira. Esses foram dois capítulos importantes de uma história ainda longe de terminar. Em episódio mais recente da mesma trama, divulgado ontem, Bacellar pediu licença do mandato por dez dias — tempo que, emendado com o recesso parlamentar, pode dar ao político dois meses para articulações em torno de sua sobrevivência política e de seu prestígio no xadrez do poder fluminense. Em 2026, a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro só volta a se reunir depois do carnaval.

Rodrigo Bacellar:

Disputa pela sucessão de Rodrigo Bacellar:

Rodrigo Bacellar foi preso por suspeita de vazar informações sigilosas sobre operação da Polícia Federal que tinha como alvo o então deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Jóias, acusado de ligação com a facção criminosa Comando Vermelho. As incertezas a respeito de seu destino respingam sobre o futuro da política no estado: antes de ser preso, o presidente da Alerj era o substituto direto do governador, nas suas eventuais ausências, e chegou a ser apontado pelo próprio Cláudio Castro candidato à sua sucessão no cargo.

Opções na mesa

Aliados de Bacellar tentam convencê-lo de que a melhor maneira de manter o controle da Casa seria renunciar à presidência, indicando alguém de seu grupo político como sucessor — sua situação atual, de afastamento definido pelo STF, reforça a indefinição do cenário. O cargo está ocupado pelo vice-presidente Guilherme Delaroli (PL), que, de acordo com o regimento, não pode assumir a função de governador. Em abril do ano que vem, poderá, por exemplo, caber ao titular da presidência da Alerj comandar a eleição indireta de um governador para um “mandato tampão” até o fim de 2026, caso Cláudio Castro renuncie para disputar o Senado, como se cogita. O vice-governador eleito com Castro, Thiago Pampolha, renunciou ao cargo para se tornar conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE).

Bacellar já foi o preferido do governador para exercer esse “mandato tampão”, tendo a força da máquina pública para tentar se tornar governador em outubro. Mas começou a perder espaço em julho, após demitir o secretário estadual de Transportes, Washington Reis, quando ocupou o cargo interinamente durante uma viagem de Castro ao exterior. A prisão e seu afastamento só pioraram o quadro.

— A situação é delicada. Pelo quadro político atual, se Cláudio Castro deixar o governo, quem assumir não terá tempo de mostrar serviço e tentar a reeleição. Irá para o sacrifício — avalia um deputado da base.

Delaroli afirma que a Alerj seguirá funcionando normalmente.

— O que aconteceu com o presidente Rodrigo Bacellar, infelizmente, aconteceu. Hoje eu estou aqui, presente, e a gente tem que tocar as pautas que melhoram a vida do povo do nosso estado — disse ele na sessão de ontem.

Hoje, Castro prefere que Bacellar continue como presidente afastado, afirmam seus aliados. Isso facilitaria a indicação de seu preferido para comandar o estado em seu lugar, caso se afaste: o atual secretário da Casa Civil, Nicola Miccione, que tem bom trânsito no parlamento estadual. A licença de Bacellar ocorreu em um momento em que a Assembleia tem temas sensíveis para serem votados, como a adesão ao Propag (novo programa da União de renegociação das dívidas com o estado) e o orçamento, que devem ser apreciados pelos deputados na próxima semana. Na avaliação desses nomes próximos a Castro, Delaroli é um aliado e não seria bom para o governo que outra crise se instalasse numa disputa da cadeira agora.

Na sessão de ontem, houve momentos tensos, provocados pela revelação do GLOBO de que deputados próximos a Bacellar estavam se articulando em busca de apoios para assumir o comando da Alerj.

—Basicamente, o que estão fazendo é velando o nosso presidente ainda vivo, antes de qualquer definição final do STF — disse o deputado Thiago Rangel (Democratas), que participou da sessão de forma remota.

Segundo Rangel, deputados ligados ao presidente afastado teriam conversado com Castro para tentar tratar da sucessão. Citado como um dos interessados no espólio de Bacellar, Chico Machado (Solidariedade) negou participação em qualquer negociação para tratar de sucessão:

— Fui eleito para ser deputado, não para ser presidente. Peço, inclusive, de presente de aniversário, que não me perguntem mais sobre sucessão.

Denúncias de retaliação

Dois dias após a Alerj decidir soltar Bacellar, deputados de esquerda que votaram pela permanência do político na cadeia afirmaram ser vítimas de um “boicote coordenado” desde segunda-feira, com sucessivas manobras regimentais que estariam travando suas proposições. No campo da oposição, uma surpresa foi Carla Machado (PT), degastada com seu partido após votar pela liberdade de Bacellar. Em nota, a Executiva estadual do PT informou que a Comissão de Ética vai investigar e punir ‘‘transgressões às decisões e princípios partidários’’. A deputada também não foi à Alerj: participou da sessão de forma virtual da sessão.

A base governista nega retaliação e alega que as ações fazem parte do “jogo político” e do uso legítimo do regimento. O deputado Flávio Serafini (PSOL) foi o primeiro a se manifestar publicamente sobre o impasse e relatou uma série de episódios que, segundo ele, indicariam retaliação direta aos parlamentares que se posicionaram a favor do STF.

— Projetos de parlamentares da esquerda receberam emendas ridículas, visivelmente para serem retirados de pauta. Terça-feira, fui praticamente impedido pelo deputado Rodrigo Amorim de defender emendas ao projeto do Corpo de Bombeiros.

Líder do governo, Rodrigo Amorim (União) nega qualquer boicote:

— Não existe recomendação para obstruir qualquer matéria.

O jeito é aguardar próximos capítulos.