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Caminhos de Niterói: debate sobre segurança pública defendeu uso de tecnologia, integração entre poderes e investimento em ações sociais
Primeira edição do encontro, no auditório da Editora Globo, reuniu prefeito de Niterói, comandante do batalhão local e especialistas como o colombiano Hugo Acero
A transformação da segurança pública em Niterói foi o eixo do Caminhos de Niterói, evento realizado no auditório da Editora Globo com autoridades e especialistas diretamente envolvidos na formulação e execução de políticas de redução da violência. A íntegra do debate, que teve a mediação do jornalista Rafael Galdo, está disponível no .
'Fomos reconhecidos como uma instituição resiliente':
Investimento em esporte:
O prefeito Rodrigo Neves abordou a criação de estruturas como o Pacto Niterói Contra a Violência, que combinam investimento social e fortalecimento da presença do Estado em áreas vulneráveis.
Representando as forças de segurança local, o tenente-coronel Leonardo Borges, comandante do 12º BPM, detalhou a relação integrada entre Polícia Militar e administração municipal.
Entre os especialistas convidados esteve o colombiano Hugo Acero. Ex-secretário de Segurança de Bogotá, ele ajudou a reverter cenários dominados por facções e compartilhou exemplos de ações que priorizam governança e ocupação social de territórios.
O painel contou ainda com a antropóloga Carolina Grillo, professora da UFF e referência em estudos sobre criminalidade nas metrópoles brasileiras.
Também participou Alberto Kopittke, diretor-executivo do Instituto Cidade Segura e consultor de diversos governos brasileiros. Ele tratou da importância da análise de dados, da integração institucional e da prevenção como pilares para políticas eficientes e sustentáveis de segurança pública.
O Caminhos de Niterói é uma realização dos jornais O GLOBO e Extra com apoio da Prefeitura de Niterói. Veja a seguir um resumo do que foi dito no encontro.
Hugo Acero
‘A questão é a ausência do Estado em certas áreas’
“Primeiro, é preciso reconhecer o problema. Quando chegamos a Bogotá, a cidade tinha uma taxa de 80 homicídios por cada cem mil habitantes. Nove anos depois, saímos com uma taxa de 23, e hoje a taxa está em 14. Na Colômbia, os prefeitos têm responsabilidade constitucional e legal em matéria de segurança. Então, nosso prefeito, em uma cidade de oito milhões de habitantes, assumiu essa liderança. Liderança de quem governa, seja presidente, governador ou prefeito. Há territórios onde o Estado não tem controle. São os criminosos os que têm controle do território. E este não é um problema só de polícia e militares. Se o Estado, se o desenvolvimento social, não trabalha em seus territórios, não é possível recuperá-los. Então, se requer a presença de segurança e justiça, mas também a presença das organizações de desenvolvimento social. Tem que entrar com saúde, educação e outros projetos que sejam capazes de realizar a retomada completa do local. É fundamental para isso ouvir quem vive nessas áreas. A estratégia contra o crime incluiu a convocação da Polícia Nacional, do Departamento de Inteligência, do Ministério Público, das Forças Militares e da Justiça. A questão fundamental da América Latina é a ausência do Estado em certas áreas. Tem que ir atrás das ligações políticas, porque o verdadeiro traficante não mora na favela.”
Rodrigo Neves
‘O cidadão espera uma segurança pública mais eficiente’
“O cidadão não é federal, não é estadual, nem municipal. Ele é cidadão. E como cidadão, ele espera do Estado brasileiro uma resposta que lhe garanta o direito de viver e uma segurança pública mais eficiente nas cidades. Na época (há dez anos), a cidade (Niterói) vivia uma realidade dramática, com indicadores de criminalidade superiores aos da capital fluminense. O roubo de veículos era igualmente alarmante. As ruas eram palco de assaltos à luz do dia, com a atuação do chamado ‘bonde do fuzil’ gerando um clima de pavor entre moradores e visitantes. Niterói, há dez anos, tinha uma realidade completamente diferente da que tem hoje. Não existem soluções simples para problemas complexos. São dez anos fazendo reunião de maneira quase que religiosa, sistemática, com os coordenadores e operadores de segurança pública da cidade, estudando mês a mês os indicadores de violência. E o Gabinete de Gestão Integrada foi uma ferramenta muito importante para os avanços que Niterói teve. Decidimos encarar esse desafio, priorizando a estruturação de um plano de prevenção à violência urbana com base nas melhores experiências internacionais. Até porque as melhores experiências internacionais de prevenção à violência e combate ao crime foram lideradas pelo poder público local.”
Leonardo Oliveira
‘Trabalhamos com união, com respeito entre as instituições’
“Aqui em Niterói, nós testemunhamos todo o esforço da gestão municipal em acreditar na Polícia Militar, nas polícias como um todo, entendendo as dificuldades da nossa instituição em termos de recursos e as nossas necessidades. O município aderiu a convênios estabelecidos como o Programa de Integração da Segurança (Proeis). Trabalhamos com união, com integração, com respeito entre as instituições. Isso é muito importante. A tecnologia compartilhada em favor do município é outro pilar fundamental. O Centro Integrado de Segurança Pública hoje é uma grande fonte de informações para as polícias, tanto para a investigação da Polícia Civil quanto para a polícia ostensiva que está nas ruas e recebe os alertas em tempo real. Temos câmeras de monitoramento que compõem o chamado cercamento eletrônico, câmeras de monitoramento de trânsito que também trazem segurança viária para a cidade e uma nova tecnologia instalada neste ano de 2025: o ShotSpotter. Esse sistema possibilita que as polícias Civil e Militar mapeiem onde ocorrem mais disparos de arma de fogo. A resposta da Polícia Militar é imediata: quando há detecção nessas áreas mais conflagradas, a polícia vai ao local rapidamente. E não menos importante é a participação da população.”
Carolina Grillo
‘O roubo é a principal causa da sensação de insegurança’
“O roubo é a principal causa da sensação de insegurança por parte da população. Porque o tráfico de drogas é algo mais visível para uma parcela da população, mas não é diretamente violento. E os homicídios, é claro, são o principal indicador da violência, mas muitas vezes são concentrados numa população que possui algum envolvimento com práticas criminais. O grosso da população, todo mundo, está sujeito ao risco de ser assaltado. E principalmente o roubo armado, mais do que o furto, deixa as pessoas com medo, porque representa um risco para a sua segurança física, a sua integridade física, e a sua segurança patrimonial. Atualmente uma das maiores preocupações dos brasileiros é com furto ou roubo de celular, porque as pessoas têm a sua vida inteira nele. São aparelhos muito pequenos com alto valor agregado, e as pessoas têm esses celulares roubados ou furtados com muita frequência. Além do prejuízo econômico, há um custo também de ter que trocar todas as senhas, comunicar ao banco, cancelar os cartões. E os roubos de veículo são um tipo de ocorrência grave, porque eles são utilizados posteriormente para a prática de uma série de outros roubos de rua, no que eles (os criminosos) chamam de bode. Um carro roubado vai ser usado para praticar diversos roubos de bolso, de celular, a transeunte.”
Alberto Kopittke
‘Niterói mostra o papel da política de integrar as instituições’
“Existe também uma visão antiga que já está ultrapassada e não tem nada de novidade: alguns prefeitos que decidem entrar no tema da segurança acabam criando uma pequena PM azul-marinho. Pegam as guardas municipais, colocam o fuzil na mão e dizem: ‘Fiz minha parte’. E fazem isso sem nenhum plano, sem nenhuma mudança no modelo de segurança pública, numa visão totalmente desintegrada. Eu acho que o que Niterói mostra aqui para o Brasil é justamente esse papel da política, com P maiúsculo, de integrar as instituições, de unir a sociedade. Só existe crime organizado quando as instituições estão desorganizadas. E quem mais pode unir as instituições é justamente o prefeito, porque é ali, no município, que vivem o juiz, o promotor, o coronel, os delegados, os guardas, as equipes de saúde. O prefeito é quem pode fazer a verdadeira transformação de territórios. E é com isso que Niterói muda o paradigma no Brasil. Eu acho que Niterói quebra essa hipnose (de operações letais) da segurança pública que o Rio vive e mostra um caminho estruturado. Só para o Caramujo foram cinco anos de planejamento. Cinco anos para entrar em uma comunidade, até que num dia, de maneira integrada, de maneira suprapartidária, se fez uma operação e se iniciou todo um processo, e agora vai se seguir fazendo isso.”
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