Notificada ontem pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a Assembleia Legislativa do Rio marcou para hoje uma reunião extraordinária da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), para analisar a prisão do deputado Rodrigo Bacellar. Os sete integrantes do grupo vão elaborar um parecer para referendar ou revogar a decisão da corte. A determinação de afastar o parlamentar do Legislativo também será discutida. A decisão final caberá ao plenário na sessão da próxima segunda-feira.

Operação 'Unha e Carne':

Partido de Eduardo Paes:

Nos corredores da Assembleia, é dada como certa a suspensão da ordem de prisão. E o placar não deve ser apertado. Ontem pela manhã, o assunto ainda era quase tabu, com deputados de todas as correntes evitando se manifestar. Após uma reunião, 12 deputados do PT, PSB, PCdoB e PSOL anunciaram que vão votar pela manutenção da prisão e pelo seu afastamento da presidência da Alerj. Segundo integrantes desse grupo, há sinais de que parte da base do governo Cláudio Castro também deve acompanhar esse entendimento, embora a base esteja dividida sobre o futuro da Mesa Diretora.

Segundo Carlos Minc (PSB), o caso envolve “indícios de possível conivência com o Comando Vermelho”, o que causa constrangimento aos políticos de direita:

— Deputados da direita, que dizem combater o crime, estão muito incomodados, porque isso atinge diretamente o discurso deles. Nós queremos analisar o processo inteiro, respeitando a presunção da inocência. Mas não se pode manter conivência nem frear investigações da Polícia Federal e do Supremo.

Minc disse ainda que essa crise deve reconfigurar o cenário político da Casa.

— Há muito debate na base. Alguns discutem até quem assumiria a presidência caso haja nova eleição. Mas há quem avalie que o STF pode resolver antes essa questão, o que evita desgaste interno — afirmou.

Mérito não será avaliado

O PSD, partido do prefeito Eduardo Paes, também decidiu orientar sua bancada na Alerj a votar pela manutenção da prisão de Bacellar. A posição foi firmada em uma reunião convocada pelo deputado federal Pedro Paulo, na sede do partido, no Centro do Rio, com a presença dos seis parlamentares estaduais da sigla: Átila Nunes, Cláudio Caiado, Lucinha, Luiz Paulo, Munir Neto e Sérgio Fernandes.

O presidente em exercício da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Guilherme Delaroli (PL), disse que os detalhes da investigação não chegaram à Casa, o que, segundo ele, não impede o início do rito previsto na Constituição estadual. A prerrogativa dos deputados, no entanto, será a de analisar o processo de soltura e não o mérito da acusação, que ficará a cargo da Justiça.

Líderes partidários estão certos da suspensão da ordem de prisão, mas têm dúvidas sobre a volta de Bacellar à Alerj. Alguns veem brecha para que Delaroli se torne “presidente em exercício” até o fim do atual mandato. O regimento não prevê que o vice herde a cadeira do titular, o que só é possível em casos de cassação, condenação criminal ou excesso de faltas.

Nos bastidores, no entanto, o PL já busca construir apoios para emplacar na presidência da Casa o atual secretário estadual de Cidades, Douglas Ruas, que está licenciado do mandato de deputado estadual. Ruas era uma das apostas do PL para suceder Bacellar à frente da Alerj após as eleições de 2026. Ele e Delaroli são próximos ao deputado federal Altineu Côrtes, líder do PL na Câmara dos Deputados, que esteve ontem na Assembleia. Segundo ele, apesar de reconhecer a gravidade da prisão de Bacellar, cada parlamentar estadual de seu partido deve decidir individualmente como votará:

— É um assunto extremamente delicado e muito triste. O nosso estado está passando por esse momento novamente. O presidente Bacellar foi eleito com unanimidade, exerce grande relação pessoal com muitos deputados.

Após conversar com Delaroli, Altineu rasgou elogios ao vice-presidente:

— É um cara inteligente e competente. A minha opinião para ele foi que faça as coisas com cautela, com calma, dentro do regimento.