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Deputados evitam votação imediata sobre situação de Bacellar e temem reação do STF

Cúpula da Alerj teme novas medidas judiciais caso Bacellar tente reassumir o cargo após eventual soltura, além de possíveis interferências externas.

Agência O Globo - 04/12/2025
Deputados evitam votação imediata sobre situação de Bacellar e temem reação do STF
Rodrigo Bacellar - Foto: Reprodução / internet

A prisão do presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar (União), pela Polícia Federal nesta quarta-feira, desencadeou uma articulação imediata entre parlamentares para evitar decisões precipitadas e minimizar o risco de desgaste institucional. Bacellar é acusado de vazar informações sigilosas de uma operação policial ao deputado TH Joias, preso sob suspeita de envolvimento com o Comando Vermelho.

A Alerj já articula a possibilidade de revogar a prisão de Bacellar, mas há cautela diante dos indícios de vazamento de informações.

O atual presidente interino da Casa, Guilherme Delaroli, abriu a sessão desta quinta-feira sem mencionar a prisão de Bacellar, adotando um tom de normalidade institucional e buscando demonstrar força política em meio à crise. Para reforçar sua posição, levou ao plenário uma comitiva de aliados — entre eles, seu irmão, o prefeito de Itaboraí, Marcelo Delaroli, e o prefeito de São João de Meriti, Léo Vieira — além de outros apoiadores.

Nos bastidores, articuladores relatam que Delaroli tenta sinalizar que "não irá se deixar comandar enquanto estiver como presidente", reforçando sua autonomia no comando interino da Assembleia. A movimentação também mira o cenário eleitoral de 2026, quando o deputado pretende ampliar sua influência política.

Em fevereiro, Bacellar foi reeleito presidente da Alerj por unanimidade. Após a prisão, deputados da cúpula da presidência afirmam que "não é o momento de tomar decisões a toque de caixa", relembrando o episódio envolvendo Jorge Picciani em 2017. Na ocasião, após a Alerj decidir pela soltura do então presidente, o Judiciário considerou que os prazos não foram respeitados e determinou novamente sua prisão — um trauma que os parlamentares não desejam repetir.

Durante reuniões internas realizadas até tarde da noite, líderes defenderam conduzir a crise "com serenidade e sem atropelo". O temor é que uma eventual soltura imediata de Bacellar, ou mesmo a tentativa de reassumir a presidência, possa gerar novos atritos com o Supremo Tribunal Federal (STF). A avaliação é que isso poderia resultar em medidas cautelares mais duras, caso a Corte entenda que o deputado estaria interferindo no plenário mesmo após a ordem de prisão.

A cúpula da Alerj também teme possíveis retaliações políticas. Um dos receios é que deputados ligados ao governo estadual aproveitem a instabilidade para pressionar aliados de Bacellar ou até mesmo estimular pedidos de impeachment. Há ainda preocupação de que membros da base tentem convencer integrantes da Mesa Diretora a renunciarem às suas cadeiras.

No momento, a Assembleia aguarda a notificação formal da Justiça sobre a prisão — documento que ainda não chegou à Casa. A expectativa é que a votação sobre o caso ocorra a partir da próxima semana, após análise jurídica dos autos e construção de um entendimento político mais sólido.

Apesar da cautela, há divisão entre os parlamentares sobre o futuro da cadeira de Bacellar. A decisão do ministro Alexandre de Moraes determina apenas o afastamento da presidência, o que abre margem para que ele, se solto, retorne ao mandato. No entanto, o precedente de 2017 — quando Jorge Picciani foi afastado e o vice assumiu — pode fazer com que a presidência permaneça com o atual vice, Guilherme Delaroli (PL), considerado aliado de Bacellar.

O clima, segundo interlocutores, é de apreensão e expectativa. A principal preocupação, neste momento, é evitar que a crise se agrave e coloque a Alerj novamente no centro de um embate com o Judiciário.