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Ouro e pedras de diamante: as joias vendidas por deputado preso por corrupção

Eleito pelo MDB, parlamentar foi preso em setembro acusado de usar o mandato na Alerj para favorecer o crime organizado.

Agência O Globo - 03/12/2025
Ouro e pedras de diamante: as joias vendidas por deputado preso por corrupção
Ouro - Foto: Reprodução / Agência Brasil

Nascido no Morro do Fubá, na Zona Norte do Rio de Janeiro, o deputado estadual Thiego Raimundo dos Santos Silva, conhecido como TH Jóias, construiu sua trajetória inicial na joalheria. Herdeiro do ofício de ourives do pai, Juberto, cresceu acompanhando o trabalho da família em Madureira e, aos 19 anos, assumiu o negócio. Investigações posteriores apontaram que parte das peças confeccionadas por TH utilizava ouro de origem ilícita.

Além de anéis, colares e pulseiras, a joalheria de TH produziu itens de destaque, como uma estátua da divindade hindu Ganesha, cravejada de diamantes, rubis, esmeraldas e safiras.

Paralelamente ao ofício de ourives, TH buscava ampliar sua influência patrocinando feijoadas, campeonatos de futebol, festas em comunidades e camarotes de carnaval, sempre cultivando a imagem de empresário bem-sucedido e "generoso". Também financiava projetos sociais em favelas e apoiava atletas e músicos locais.

Sua aproximação com a política ocorreu por meio do ex-policial Marcos Falcon, então presidente da Portela, assassinado em 2016 durante campanha para vereador. Em seu perfil no site da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), ainda vinculado ao MDB, TH afirma ter apoiado centenas de atletas amadores e profissionais, além de artistas em ascensão, com recursos próprios.

Histórico de denúncias

TH assumiu uma cadeira na Alerj pelo MDB em 2024, como suplente, após a morte do deputado Otoni de Paula Pai. Presidiu a Comissão de Defesa Civil, responsável por coordenar ações de prevenção a desastres no estado. Mesmo preso em setembro, um habeas corpus garantiu temporariamente seu mandato.

No entanto, sua carreira política foi marcada por graves denúncias. TH responde a processos por tráfico de drogas, corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, além de ser suspeito de intermediar negociações de armas com o Comando Vermelho (CV). Nesta quarta-feira, foi preso durante uma operação conjunta da Polícia Federal, Polícia Civil e Ministério Público do Rio de Janeiro. Pelo menos 18 pessoas foram alvo de mandados, incluindo um assessor direto do deputado, também detido.

Apesar do histórico criminal, TH se lançou na política pelo MDB, que anunciou sua expulsão após a prisão. Em 2022, recebeu 15.105 votos, ficando como suplente. Dois anos depois, conquistou a vaga definitiva na Alerj, após obter habeas corpus que lhe permitiu responder aos processos em liberdade. Segundo o Ministério Público, o parlamentar teria usado o mandato para beneficiar a facção criminosa, nomeando aliados em cargos na Assembleia.

As investigações revelam um esquema de corrupção envolvendo a liderança do CV no Complexo do Alemão, agentes políticos e servidores públicos, incluindo delegado da Polícia Federal, policiais militares, ex-secretário municipal e o próprio deputado. De acordo com os investigadores, a organização infiltrava-se na administração pública para garantir impunidade, acesso a informações sigilosas, além de importar armas do Paraguai e equipamentos antidrone da China, revendidos até para facções rivais. Os investigados poderão responder por organização criminosa, tráfico internacional de armas e drogas, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro.

Procurada, a equipe do gabinete de TH Jóias informou que não há pronunciamento sobre o caso. Já a Polícia Militar afirmou que os policiais presos serão encaminhados à unidade prisional da corporação.