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Veja quais são os principais medos de quem usa moto para se deslocar na Região Metropolitana do Rio
Pesquisa inédita revela que 96,75% dos entrevistados usam moto como meio de transporte individual em algum momento das suas rotinas
A sensação de perigo iminente está sempre na garupa de quem usa o transporte individual por motocicletas na Região Metropolitano do Rio. Pelo menos é isso que mostra pesquisa realizada pelo Programa de Engenharia de Transportes da Coppe/UFRJ, que ouviu 2.616 pessoas em 22 cidades da Região Metropolitana do Rio entre junho e agosto deste ano. De acordo com o estudo, 99,92% disseram sentir algum tipo de preocupação nos deslocamentos de moto. Os maiores medos são de queda seguida de atropelamento (23,18%), colisão com outros veículos (17,92%) e roubo ou furto no trajeto (15,76%). O item seguinte não causa surpresa para quem observa o trânsito no Rio, em que não são raros os flagrantes de motociclistas avançando sinal, trafegando entre os carros de forma veloz e até pegando “atalhos” pela contramão: 14,22% temem a imprudência dos condutores.
Estacionamento irregular:
Com contra partida:
Os dados revelam que 96,75% dos entrevistados usam moto como meio de transporte individual em algum momento das suas rotinas, seja por aplicativos (57,38%), mototáxis (12,31%) ou veículo próprio (27,06%). Quase a metade deles (47,18%) já sofreu quedas ou outro tipo de acidente e 51,91% dizem conhecer alguém que viveu essa situação. Desse público que teoricamente deveria ser mais ressabiado, 59,74% seguem usando regularmente o meio de transporte.
— Mesmo tendo ciência desse risco, a pessoa coloca isso de lado e usa a motocicleta. A população está fazendo um pedido, isso para mim é um grito de socorro. É muito claro, ela diz: “Eu quero, eu preciso de deslocamento mais rápido e de ter previsibilidade — diz Cintia Machado de Oliveira, professora do Instituto Militar de Engenharia e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Energia e Sociedade do Cefet/RJ.
Na tarde de ontem, a autônoma Denise Fernandes, de 27 anos, esperava uma moto chamada por aplicativo na Avenida Maracanã, na Tijuca. Usuária contumaz do serviço, ela já viveu uma situação de perigo, mas segue como passageira fiel.
— Uso todos os dias. É o meio mais fácil de transporte, mais rápido. Medo eu tenho, mas arrisco. Há uns dois meses vivi uma situação na Avenida Brasil, a moto estava passando pelo corredor e batemos no pneu de um carro. Felizmente não me machuquei, mas foi tenso — lembra Denise, que normalmente trafega de moto no eixo entre a Ilha do Governador, Madureira e Centro.
Quanto às origens e os destinos predominantes, a pesquisa mostra que Baixada, Leste Fluminense (Niterói e São Gonçalo) e Zona Norte do Rio concentram a maior parte das viagens intermunicipais ou interbairros.
A pesquisa inédita da Coppe/UFRJ — que ganhou o longo nome de “Estudo sobre motivações e racionalidades na escolha pela motocicleta como meio de transporte individual na Região Metropolitana do Rio” — teve uma fase quantitativa e também rodadas de grupos de análise qualitativa. O trabalho completo será apresentado depois de amanhã em mesa redonda que faz parte da programação do 22º Congresso Rio de Transportes (RDT), que acontece no Museu do Amanhã.
A segurança pública também tem influência na hora da escolha do meio para se locomover nas cidades. A sensação geral de insegurança empurra os usuários a optarem pela viagem de ponto a ponto proporcionada pelas motocicletas, evitando, assim, o tempo de exposição em caminhadas ou em espera nas paradas do transporte público.
— O deslocamento começa no momento em que a pessoa decide o que vai fazer. Ela coloca o pé para fora de casa e já está teoricamente numa situação de mais vulnerabilidade dependendo do local. Isso leva as pessoas deixam de usar não só o ônibus, mas o metrô, o trem — diz Eunice Horácio, gerente de Mobilidade Urbana da Federação das Empresas de Mobilidade do Estado do Rio de Janeiro (Semove) e professora do Cefet-RJ .
Trajetos curtos
A amostragem revelou que 65% dos entrevistados usam as motos mais de três vezes por semana. A maioria realiza viagens curtas, de até 20 minutos, com gastos inferiores a R$ 10. São trajetos diários para o trabalho, acesso a serviços e tarefas pessoais.
Na raiz do aumento no número de usuários do transporte individual por motocicletas está um sintoma claro de deficiência dos modais coletivos e de massa, considerados os mais adequados para deslocamentos em grandes concentrações urbanas.
— Esses resultados reforçam a motocicleta como uma resposta eficiente para o microdeslocamento. Criar políticas públicas que possam trabalhar essas questões vai garantir que o usuário possa se deslocar mais rapidamente usando um modo de transporte adequado, com volume maior, evitando essa inundação de motocicletas. Está faltando investimento na área — aponta o professor Glaydston Mattos Ribeiro, coordenador do projeto e diretor executivo da Fundação Coordenação de Projetos, Pesquisas e Estudos Tecnológicos (Coppetec), da Coppe.
A inundação de motocicletas à qual o professor se refere está expressa nos números de veículos licenciados pelo Detran-RJ. Até outubro, a frota de motos no Estado do Rio era de 1.459.673, com 492.892 só na cidade do Rio. Em 2015, eram 910.072 e 302.095 no mesmo mês, respectivamente.
A engenheira de transportes Eunice Horácio destaca que, para que os passageiros voltem aos modais públicos, os investimentos devem ser feitos não só no próprio sistema, mas também na infraestrutura das cidades:
— Quando falamos dos ônibus, por exemplo, é preciso ter faixas preferenciais, abrigos para que os passageiros não fiquem sujeitos à chuva e ao sol e boas calçadas para chegar aos pontos — diz ela, que é gerente de mobilidade da Federação das Empresas de Mobilidade do Estado do Rio (Semove), que apoia a pesquisa.
Os problemas vão além quando o assunto é saúde pública. De acordo com a Secretaria estadual de Saúde, até setembro deste ano as unidades da rede registraram 2.641 internações por acidentes de moto, sendo 375 em UTI e 62 mortes. O problema é recorrente: em 2024 foram 594 internações, 394 em UTI e 72 mortes.
O estudo da Coppe apresenta ainda algumas recomendações preliminares a partir dos dados colhidos. Atacar o fator tempo encabeça a lista, com a sugestão de que sejam criados mais “corredores exclusivos e faixas preferenciais para ônibus, reduzindo o tempo de viagem e aumentando a previsibilidade dos deslocamentos”. A ampliação da oferta “especialmente nos deslocamentos interbairros e noturnos” é outro ponto destacado. Dar mais regularidade e possibilidade de rastreamento das viagens pelo usuário em tempo real “reduzindo a sensação de perda de tempo” também aparece nas conclusões do estudo.
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