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Veja quem é o 'mentor das barricadas', empresário que virou cérebro das estruturas do Comando Vermelho
Cosme Rogério Ferreira Dias, dono de ferro-velho em Inhaúma, idealizou a engenharia das barreiras do tráfico e movimentou R$ 207 milhões em lavagem de dinheiro, segundo a DRF
Apontado pela Delegacia de Roubos e Furtos (DRF) como o cérebro por trás das barricadas usadas pelo Comando Vermelho, o empresário Cosme Rogério Ferreira Dias passou anos despercebido, apresentando-se como um simples comerciante do ramo da reciclagem. Mas as investigações revelam um personagem que ascendeu no crime organizado ao unir fornecimento de matéria-prima, lavagem de dinheiro e engenharia de bloqueios urbanos, transformando-se no responsável pela evolução das estruturas que hoje dificultam a entrada da polícia em complexos como Alemão e Penha.
Território dominado:
Barricada Zero:
Cosme, agora preso, é chamado pelos investigadores de “mentor das barricadas”. Segundo a polícia, ele não apenas fornecia cabos, trilhos e vigas metálicas para o tráfico — ele concebeu o modelo das novas barreiras, mais resistentes, profundas e com características de obras de engenharia. A DRF afirma que ele foi capaz de transformar as antigas barricadas improvisadas em estruturas planejadas, concebidas para suportar a remoção mecânica e retardar operações policiais.
De comerciante a estrategista do tráfico
Cosme mantinha um ferro-velho em Inhaúma, nos arredores do Complexo do Alemão, além de outras empresas ligadas ao ramo de reciclagem. Esses negócios funcionavam como cobertura para um esquema que envolvia compra, furto e desvio de materiais de concessionárias de energia, telefonia e, principalmente, da malha ferroviária. A investigação apontou que ele contava com o apoio de eletricistas e funcionários de concessionárias, que usavam sua função para subtrair cabos, equipamentos e até trilhos de trem.
Estado prevê ofensiva para retirar barricadas do crime:
Esses trilhos eram levados para dentro de comunidades, onde serralheiros a serviço da facção trabalhavam o material para transformá-lo em barreiras metálicas fixadas no solo. As estruturas, vistas hoje nos complexos da Penha e do Alemão, são descritas pela polícia como “verdadeiras obras de engenharia”, mais largas, mais profundas e montadas com vigas e ferragens de alto poder resistente.
— Ele era o cérebro dessa operação. O responsável por idealizar como as barricadas deveriam ser feitas, como reforçar as estruturas, como aproveitar o material subtraído. Era o lado inteligente dentro da engrenagem — disse um dos delegados.
Retorno:
Financiador, operador e lavador
A atuação de Cosme não se limitava à logística. A DRF identificou que ele operava o braço financeiro da organização criminosa, usando laranjas e empresas de fachada para movimentar recursos provenientes tanto da venda dos materiais quanto do repasse do tráfico. O dinheiro circulava por contas de pessoas com passagens por tráfico e roubo, que serviam como intermediárias para ocultar a origem ilícita.
Foram identificados R$ 207 milhões movimentados pelo grupo, ligados à atividade de lavagem de dinheiro. A Polícia Civil sequestrou o imóvel de luxo de Cosme, em um condomínio no Recreio, e veículos avaliados em cerca de R$ 500 mil, todos registrados em nome dele ou de laranjas.
Segundo os investigadores, parte significativa do dinheiro arrecadado pelo esquema era repassada diretamente à cúpula do Comando Vermelho, em troca de proteção e autorização para operar dentro de territórios dominados pela facção. Com isso, Cosme ganhou status privilegiado e acesso aos líderes do grupo.
Recuperação em aparelhos: ‘
Uma ascensão protegida pela “lei branda”
Cosme já havia sido preso duas vezes em 2023 por receptação qualificada de materiais de concessionárias, mas permaneceu pouco tempo na prisão. Para a polícia, essa reincidência e a rápida libertação evidenciam o que chamam de “legislação branda”, que teria colaborado para que ele continuasse atuando e se aprofundando na relação com o tráfico.
Com o risco de novas prisões em via pública, ele passou a atuar majoritariamente dentro de comunidades, onde contava com proteção armada e com a própria estrutura que ajudou a fortalecer: as barricadas que dificultam a entrada de blindados e equipes operacionais.
— Ele idealizou as novas barricadas e contribuiu para aperfeiçoar até as antigas. Era responsável por pensar as estruturas, fornecer o material e garantir o financiamento. Ele estava no topo dessa cadeia — afirmou o delegado Jefferson Monteiro.
A engrenagem que alimentava o tráfico
A polícia identificou dezenas de integrantes do esquema, incluindo furtadores profissionais, operadores logísticos, laranjas e técnicos que desviavam materiais usando conhecimento privilegiado. A rotina envolvia desde a retirada clandestina de cabos até o transporte de vigas inteiras de trilhos para dentro das favelas, onde eram moldadas e fincadas no solo como barreiras.
O fornecimento direto de Cosme ao Comando Vermelho é descrito no inquérito como “constante e volumoso”, a ponto de permitir que a facção elevasse o padrão das estruturas de bloqueio.
O delegado Jefferson Ferreira resume:
— Ele não só abastecia, mas pensava as barricadas. Era o responsável pela engenharia, pela logística e pela lavagem. É o mentor.
As investigações continuam para detalhar se ele também participou da concepção das primeiras barricadas metálicas que se tornaram marca de comunidades dominadas pelo CV. O fornecimento que ele fazia, porém, é considerado pela polícia como peça central para a consolidação das estruturas que desafiam operações no Rio.
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