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Inscrições para programa que custeia aluguel de universitários de todo o Brasil em Niterói abrem nesta terça-feira; saiba como participar
Segunda etapa do Aluguel Universitário beneficiará mil estudantes de baixa renda que matriculados no município; na primeira, em julho, o mesmo quantitativo foi atendido
O vestibular nem sempre é o único desafio no caminho dos jovens até a universidade. Para muitos, após a aprovação, outros obstáculos se apresentam. Foi assim com o mineiro Gustavo Miranda Souza, de 19 anos, que, no ano passado, garantiu vaga para o curso de Letras (português e inglês) na Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói. Da sua cidade natal, Ituiutaba, no interior de Minas Gerais, celebrou, mas logo se deu conta de que não dispunha de dinheiro nem tinha onde morar no município fluminense.
Barricada Zero:
Homicídio:
Ele veio mesmo assim e conseguiu vaga num abrigo para moradores em situação de rua, onde viveu por três meses, até que foi beneficiado pelo Aluguel Universitário, da Prefeitura de Niterói, em julho. O programa se propõe a facilitar a vida de estudantes de baixa renda quando se trata de moradia, oferecendo R$ 700 por mês para alunos de graduação e pós-graduação das redes pública e privada custearem aluguel na Região Central da cidade. Nesta terça-feira, a partir das 18h, a prefeitura lança um novo edital do projeto, com mil vagas.
Gustavo chegou ao Rio em maio, um mês e meio após o início das aulas do primeiro período da faculdade. Para conseguir viajar, trabalhou fazendo faxina, reuniu R$ 300, comprou a passagem, custeou alimentação e deslocamento no caminho e chegou a Niterói com apenas R$ 30. Meses após dar entrada no abrigo, foi informado pelo setor de Assistência Social sobre o lançamento do Aluguel Universitário. Hoje, paga R$ 650 por um quarto individual numa república para estudantes. Ele recebe ainda uma bolsa permanência da UFF, no valor de R$ 500, e o Bolsa Família.
— Meu sonho era morar na cidade do Rio, porque é muito bonita, mas, como é muito perigosa, escolhi Niterói, que é mais segura, também é linda e está perto do Rio. Eu vim apreensivo, com medo de não conseguir lugar e ter que ficar na rua. Saí da minha cidade no dia 7 de maio e cheguei ao bairro da Urca no dia seguinte. Tinham me sobrado R$ 90, e eu paguei R$ 60 num carro de aplicativo para chegar a Niterói. O abrigo era um lugar limpo, porém, a convivência com moradores em situação de rua dependentes de álcool e droga não foi fácil. Alguns deles me assediaram. E era um ambiente bem conturbado, com episódios de briga. Tanto que eu passava o dia inteiro na UFF e voltava para o abrigo só para dormir — lembra o jovem. — Hoje, minha rotina está mais tranquila.
Quem também comemora o fato de, atualmente, morar perto da faculdade é Hash de Souza Rigotti Prestes, de 18 anos, natural de Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio. Estudante de Direito na UFF, o universitário mora num apartamento na principal via de Niterói, a Avenida Ernani do Amaral Peixoto, onde divide o aluguel, de R$ 1.300, com a avó, Sandra Rosane Prestes, de 62 anos, que passou para a mesma universidade que a neta, no curso de Ciências Sociais. Ambas passaram a residir no imóvel após conquistarem o Aluguel Universitário. O estúdio, de 32 metros quadrados de área, é dividido em sala, cozinha e banheiro.
Mas nem sempre foi assim. Até pouco tempo, elas viviam no bairro Covanca, em São Gonçalo, para onde haviam se mudado da Região Serrana no início do ano, logo depois da aprovação.
— Em São Gonçalo, nós vivíamos numa casa cedida, e as condições do imóvel eram muito precárias. O reboco estava desprendendo, e vivia faltando água e luz. Também era um lugar bem inseguro para voltar à noite, e eu e minha avó saímos da UFF por volta das 22h. Depois de conseguir o benefício, achamos o preço, e viemos para cá — conta Hash. — Afora o Aluguel Universitário, não temos renda fixa no momento. Eu faço alguns bicos como garçonete. Minha avó está com uma hérnia e não consegue trabalhar. Ela aguarda uma perícia, para começar a receber auxílio do INSS.
Critérios para receber o benefício
O benefício de R$ 700 mensais é destinado a estudantes de instituições públicas ou privadas de Niterói, maiores de 18 anos e com renda familiar de até três salários mínimos. Ele tem duração inicial de um ano, com possibilidade de renovação até a conclusão do curso, desde que não ultrapasse dois anos além do prazo regular.
As regras incluem visitas domiciliares para verificar a moradia declarada e não estabelecem limite de beneficiários por imóvel. Os imóveis têm que estar localizados na área de abrangência, que inclui os bairros do Centro e parte de São Domingos e São Lourenço.
Entre os objetivos estão garantir a permanência no ensino superior e promover a inclusão social. O programa se propõe ainda a incentivar o adensamento populacional no Centro de Niterói para estimular o mercado imobiliário e a revitalização da região.
O lançamento do novo edital será no Auditório do Caminho Niemeyer, às 18h, a partir de quando as inscrições poderão ser feitas, no site niteroi.rj.gov.br/alugueluniversitario/. A nova etapa beneficiará mil estudantes, mesmo número atendido na primeira fase, lançada em julho. O plano da prefeitura é atender sete mil estudantes até 2028, com uma abertura de inscrição a cada semestre.
— A demanda por assistência estudantil é muito grande nas universidades. O acesso à universidade se democratizou muito e, com isso, o desafio da permanência também. Niterói é uma cidade universitária, com cerca de 500 mil habitantes, sendo 70 mil estudantes universitários só na graduação. E muitos vêm de fora. Então, resolvemos ajudar essas pessoas a dar seguimento a seus sonhos, evitando a evasão — destaca João Pedro Boechat, coordenador da Juventude na Prefeitura de Niterói. —
João explica ainda que outra vertente do projeto é questão urbanística da cidade:
— Identificamos que trazer os universitários para morar na região do Centro pode contribuir com nossa ampla política de revitalização da área. Queremos transformar o Centro num bairro residencial. O bairro tem muita vida durante o dia, porque as pessoas trabalham aqui e vem consumir serviços e comércio, mas à noite a área fica vazia, assim como aos fins de semana.
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