RJ em Foco
'Ele se iludiu, entendeu?', diz pai de adolescente que está na lista de suspeitos mortos em operação
Homem relembra tentativas de dar outro rumo à vida do filho: "Estava trabalhando na mente dele, trazendo ele para mim"
Entre os 117 suspeitos mortos durante a megaoperação realizada pelas forças de segurança do Rio de Janeiro nos complexos da Penha e do Alemão, no dia 28 de outubro, estavam dois adolescentes. Um deles tinha apenas 14 anos. Em depoimento em vídeo enviado à BBC Brasil, o pai do jovem relatou o choque ao ver as redes sociais do filho: "Ele se iludiu, entendeu? (...) Quando fui à rede social dele, fiquei totalmente assustado. Falei para ele: 'Filho, por que você está tirando foto com arma?'".
O homem acredita que as redes sociais e a ostentação promovida por pessoas ligadas ao crime exercem forte influência sobre os jovens. "A rede social influencia muito a mente deles (...) Eles acham que tudo é fácil", afirmou.
Tentativas de resgate
O pai também relembrou os esforços para tentar mudar o destino do filho. "Eu estava trabalhando na mente dele, trazendo ele para mim, fazendo o máximo como um pai que ama o filho para tirá-lo dessa situação. Mas, quando eu pensava que ele estava em casa, na verdade, ele estava na rua", contou.
As lembranças do dia da operação permanecem vivas. "Sempre, antes de sair para o trabalho, ligo a televisão. Quando a TV noticiou a situação, liguei para ele. Era terça-feira de manhã, 8h30. Quando tentei falar com ele, de repente, ele desligou rápido e o contato sumiu. Nesse momento, tomei um choque. Já fiquei em aflição".
Logo depois, começaram a circular fotos do local. "Começou a aparecer um monte de foto. O pessoal da comunidade mesmo começou a tirar foto. (...) Quando vi essa foto, tive certeza. Olhei o menino no chão e falei: 'Meu menino, é esse aqui'. O meu menino. Quando ele estava morto na mata, estava da forma como dormia. (...) Da forma como ele estava ali deitado. Isso me feriu".
O pai conta que não quis ir ao local, na Penha, onde os corpos foram enfileirados em praça pública, mas coube a ele reconhecer o filho no IML. "Vi meu filho com um ferimento na cabeça. Estou à base de remédio, tomando remédio para dormir".
As lembranças seguem presentes. "A cama dele está ali, a roupinha já toda dobradinha". Apesar da dor, o homem evita vitimizar o filho: "Eu não podia, nesse momento, como as pessoas queriam ou imaginavam, colocar o meu filho como uma vítima. Mesmo ele tendo 14 anos. Porque a vida é feita de escolhas".
No fim do vídeo, ele deixa um recado para outros jovens que possam pensar em seguir o mesmo caminho: "Que eles repensem a vida deles. Se realmente amam o pai, se realmente amam a mãe, ainda têm a chance de repensar a vida".
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