RJ em Foco

Erosão reduz faixa de areia e muda paisagem na Praia da Macumba; saiba mais

Construções sobre área de restinga e dragagem de areia deslocada para canal Sernambetiba são principais fatores para o fenômeno

Agência O Globo - 06/11/2025
Erosão reduz faixa de areia e muda paisagem na Praia da Macumba; saiba mais
- Foto: Reprodução / Agência Brasil

Quatro degraus abaixo do nível da calçada e uma visível inclinação para baixo na direção do mar. A faixa de areia da Praia da Macumba, na Zona Sudoeste do Rio, parece ter sido sugada para dentro do oceano, criando um côncavo na praia. E o fenômeno é exatamente esse. A areia que é movimentada durante ressacas ou em marés mais fortes não tem conseguido voltar à praia.

De volta após seis anos:

Em visita ao Cristo:

Uma série de construções foram feitas há cerca de 20 anos sobre a área de restinga, vegetação responsável por absorver e diminuir os impactos das ondas. De lá para cá, os relatos são de pelo menos sete episódios de desmoronamento de alguma estrutura — ora calçada, ora ciclovia, ora rampas de acesso.

A urbanização no local foi mal planejada, segundo aponta a geóloga marinha Renata Rebouças, professora da faculdade de Oceanografia da UERJ. Ela lembra que, recentemente, foi proposta uma solução para conter a erosão com a instalação de geobags, sacos de material sintético cheios de concreto, empilhados. Sem sucesso.

— Criaram um calçadão na área de restinga, um projeto muito mal-sucedido. Depois instalaram os geobags, que contêm o avanço do mar, mas não absorvem o impacto das ondas como a restinga faria; eles devolvem a onda para o mar com a mesma força que ela chega. A areia que foi submersa em uma ressaca dificilmente vai voltar à praia, causando essa perda — explica a geóloga marinha.

Episódios de ressaca

Maria de Fátima Araújo, que mora em frente a Praia da Macumba, conta que o temor em relação ao avanço do mar é comum entre os vizinhos e relembra episódios de ressacas marcantes.

— Em 2017, o mar levou um pedaço da ciclovia. Quando a maré está muito alta, chega até a calçada. A prefeitura colocou umas barreiras, mas não adianta. Quando a maré está alta, não tem o que fazer — relata.

Outros moradores observam que há pelo menos 15 dias o nível de areia caiu consideravelmente. As amigas Neuza Mattos, Iara Rocha e Néia Meneses frequentam a Praia da Macumba há anos e tiveram que se deslocar para outro ponto da praia.

— Normalmente, ficamos em frente ao clube, mas lá já não tem mais areia — relata Iara.

Apesar de reconhecer a força das ressacas, ela conta que o mar costuma devolver a areia depois de um tempo. Agora, a recuperação parece mais lenta.

— Geralmente, a areia volta rápido, em um ou dois dias. Só que dessa vez está complicado — diz Neuza.

Areia vai parar no canal

Outro fator que agravou a situação da Praia da Macumba tem a ver com as dragagens no canal de Sernambetiba.

— Em algumas marés, a areia é levada para dentro do canal. E quando se faz a dragagem, a areia também não é devolvida na mesma quantidade — afirma a professora.

Apesar de acostumado com o movimento das marés, em 20 anos de praia, o barraqueiro Fernando de Oliveira estranhou a situação atual.

— Já era para a areia ter voltado. Estou até preocupado. Foi demais dessa vez — diz.

Necessidade de estudos técnicos

Ao longo da orla da Praia da Macumba existem 12 módulos de restinga, com aproximadamente 650 metros de extensão com vegetação, segundo informou a Secretaria de Meio Ambiente e Clima. No entanto, as áreas que mais têm sofrido impactos de forma recorrente não possuem esses módulos.

A pasta disse que está investindo na recomposição da restinga dessa área e que reuniu seu corpo técnico para estudar uma definição nesse trecho mais crítico para combater a erosão.

Qualquer intervenção, segundo Rebouças, precisa ser planejada com base em estudos técnicos.

— É preciso que tenha um bom estudo oceanográfico antes de qualquer solução. Tem que ter modelagem das ondas, evolução histórica das intervenções, embasamento em estudos específicos para o lugar, não simplesmente chegar com uma solução sem estudo técnico. Isso acaba gerando mais problemas — pondera a geóloga.

Ela citou como exemplo negativo a cidade Itajaí, em Santa Catarina, que investiu no engordamento das praias, causando inundações.

— O mais próximo do ideal é trabalhar com soluções baseadas na natureza, de acordo com as características do local. É preciso recuperar as restingas, que oferecem serviços ecossistêmicos naturais de proteção.