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'Megahospital' com 500 leitos: fusão entre Gaffrée e Guinle e Servidores deve acontecer na primeira quinzena de dezembro; entenda

Integração faz parte do plano de reestruturação dos hospitais federais no Rio; novo plano prevê que as unidades passem a funcionar no mesmo endereço sob gestão com a Ebserh

Agência O Globo - 06/11/2025
'Megahospital' com 500 leitos: fusão entre Gaffrée e Guinle e Servidores deve acontecer na primeira quinzena de dezembro; entenda
- Foto: Reprodução / Agência Brasil

Quase um ano após a assinatura do Acordo de Cooperação Técnica (ACT) pelo Ministério da Saúde, em novembro do ano passado, a fusão inédita que criará um "megahospital" no Rio de Janeiro avançou. Os planos para unir o Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG/Unirio) e o Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE) entraram em fase de formalização. O sinal verde foi dado nesta terça-feira, quando o secretário-executivo do Ministério da Saúde, Adriano Massuda, reuniu-se com representantes das unidades para detalhar a etapa decisiva: a cessão de prédio, equipamentos e pessoal do HFSE à Unirio.

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Segundo fontes do Executivo, esse passo é crucial para, em seguida, haver a assinatura do contrato de gestão com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), que assumirá o comando do complexo. O projeto prevê ainda que os dois hospitais funcionem juntos no mesmo endereço, na Rua Sacadura Cabral, no bairro da Saúde, com uma capacidade total de 500 leitos.

A expectativa é que a assinatura do documento ocorra até a segunda semana de dezembro e seja marcada por uma cerimônia com a presença do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e outras autoridades. Enquanto isso, reuniões técnicas já definem o cronograma para a migração gradual de serviços e ajustam os termos da minuta do contrato de gestão, que terá duração prevista de 20 anos.

Modelo inédito no país

O formato é considerado inédito no Brasil: ao contrário de processos anteriores de municipalização ou troca de comando, a operação prevê a fusão de dois hospitais em funcionamento. A proposta é integrar leitos, programas de residência e linhas de cuidado sem interrupção nos atendimentos, em um processo gradual que se estenderá ao longo de 2026.

Na semana passada, o presidente da Ebserh, Arthur Chioro, comentou sobre o tema e ressaltou que o processo exigirá uma “tessitura institucional” cuidadosa.

— Estamos sendo muito cuidadosos para que todas as pontas sejam resolvidas. É uma experiência inédita, não há antecedentes no país de fusão entre hospitais públicos — afirmou.

A Unirio já aprovou a incorporação do HFSE ao Gaffrée e Guinle em sessão conjunta de seus conselhos superiores. Paralelamente, equipes técnicas do Ministério da Saúde, do Ministério da Gestão e da Inovação, do MEC e da Ebserh avançam nas análises patrimoniais e jurídicas que vão regular a transferência de bens e servidores.

Como será a fusão

Pelo desenho em discussão, o Ministério da Saúde — atual responsável pelo Hospital dos Servidores — fará a cessão do prédio, equipamentos e trabalhadores para a Unirio, que, por sua vez, firmará um novo contrato de gestão com a Ebserh. O acordo prevê a administração unificada dos dois hospitais por um período inicial de 20 anos.

Atualmente, as duas unidades somam cerca de 480 leitos ativos. Com a fusão, a previsão é alcançar 500 leitos disponíveis ao SUS no Rio de Janeiro. O plano busca também reorganizar serviços e especialidades de forma complementar, evitando sobreposição e ampliando a capacidade assistencial.

Perfis e estruturas complementares

O Hospital dos Servidores é uma unidade de referência em casos de alto risco, oncologia, hematologia, pediatria, doenças cardiovasculares e renais crônicas com hemodiálise. Também atua em transplantes de rim, córnea e esclera, obesidade mórbida e saúde bucal. Tem capacidade para 500 leitos, com cerca de 320 em operação, e 18 salas cirúrgicas, sendo 16 ativas. Mantém 38 programas de residência médica e dois multiprofissionais.

Já o Gaffrée e Guinle — Hospital universitário vinculado à Unirio — atua na área da obstetrícia e parto normal, ortopedia de alta complexidade, atenção psicossocial, transplantes de córnea e esclera, mastologia e cirurgia reparadora. É referência nacional no tratamento de HIV/Aids e saúde auditiva com implantes. Possui 224 leitos, sendo 170 ativos, e dez salas cirúrgicas, com oito em funcionamento. Mantém 40 programas de residência médica e oito de pós-graduação.

O plano não prevê aporte imediato de novos recursos, mas a otimização do orçamento já existente das duas unidades. Segundo gestores, a integração permitirá redistribuir profissionais, ampliar a capacidade cirúrgica e investir na modernização de equipamentos e infraestrutura.

Embora o HFSE não enfrente situação tão precária quanto outras unidades federais do Rio, serão necessárias obras de adequação e intervenções estruturais — em escala menor do que a do Hospital de Bonsucesso, por exemplo. Não há, neste momento, previsão de aumento no gasto público.

Transição gradual e atenção aos trabalhadores

Dirigentes da Ebserh e do Ministério da Saúde afirmam que a transição será feita de forma “respeitosa com a população e com os trabalhadores”, sem paralisações. A migração dos serviços será gradual, e a definição de quais setores serão transferidos primeiro ainda está em estudo. Entidades sindicais que representam servidores do HFSE cobram transparência e garantias de manutenção de direitos durante o processo. O governo sustenta que a cessão de pessoal e patrimônio seguirá a legislação vigente e que nenhum vínculo será alterado sem negociação.

Entre os marcos esperados estão a assinatura do contrato entre Unirio e Ebserh, a formalização da cessão de bens e servidores pelo Ministério da Saúde e a definição do cronograma de integração dos serviços. Se não houver novos entraves administrativos, o processo de unificação começará ao longo de 2026.