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Quem são os mortos e presos? Entenda o que se sabe até agora sobre a operação mais letal do Rio

Corpos na mata, famílias em luto e um cerco sem precedentes: a megaoperação que transformou a Zona Norte do Rio em cenário de guerra

Agência O Globo - 29/10/2025
Quem são os mortos e presos? Entenda o que se sabe até agora sobre a operação mais letal do Rio
- Foto: Reprodução

A operação mais letal do Rio, deflagrada por policiais civis e militares nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte, na terça-feira, já deixou 113 presos e ao menos 119 mortos. O número, atualizado na manhã desta quarta-feira, aumentou após a retirada de corpos na região de mata da Vacaria, na Serra da Misericórdia. Entre os mortos estão quatro policiais e pessoas que o governo classifica como "suspeitas". O governador Cláudio Castro afirmou, no entanto, que ainda não é possível precisar o total de vítimas, já que a contagem oficial só é feita quando os corpos chegam ao Instituto Médico-Legal (IML) ou a hospitais públicos. Segundo o secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, os policiais são as "únicas vítimas" dos confrontos.

Cadáveres enfileirados:

Megaoperação do Rio:

O principal alvo da operação, que mobiliza 2,5 mil agentes, é Edgar Alves de Andrade, o Doca ou Urso, apontado como integrante da cúpula do Comando Vermelho (CV). Na terça-feira, ele passou a estampar um novo cartaz de “procurado” do Disque Denúncia, com a recompensa elevada de R$ 1 mil para R$ 100 mil. Também são procurados Pedro Paulo Guedes, o Pedro Bala; Carlos Costa Neves, o Gadernal; e Washington Cesar Braga da Silva, o Grandão — todos identificados como chefes do CV.

Quem são os mortos?

O sargento do Bope Heber Carvalho da Fonseca

O policial do Bope Heber Carvalho da Fonseca, de 39 anos, tinha pelo menos 14 anos de experiência na divisão de elite. Ele chegou a ser socorridos com vida, mas não resistiu aos ferimentos. Heber tinha deixa a esposa, dois filhos e um enteado. Nas redes sociais, o Bope lamentou a mortes dos policiais.

“Dedicaram suas vidas ao cumprimento do dever e deixa um legado de coragem, lealdade e compromisso com a missão policial militar”, diz o comunicado.

O sargento do Bope Cleiton Serafim Gonçalves

O policial do Bope Cleiton Serafim Gonçalves tinha 17 de carreira. Assim como Heber, ele também chegou a ser atendido no HGV, mas não resistiu. Serafim tinha 42 anos e deixa uma esposa e filha.

O policial civil Rodrigo Cabrale

Há apenas dois meses na corporação, Rodrigo Cabral estava lotado na 39ª DP (Pavuna), era considerado um profissional promissor. Durante o confronto, ele levou um tiro na nuca e não resistiu aos ferimentos. Nas redes sociais, o policial compartilhava momentos de sua vida fora do trabalho Em quase todas as fotos, aparecia sorridente, cercado pela família: viagens com a esposa e a filha, brincadeiras com elas e idas ao estádio Nilton Santos para acompanhar o Botafogo, time do coração.

Rodrigo era descrito pela esposa como "o melhor pai, marido e amigo".

O policial civil Marcos Vinicius Cardoso Carvalho

Marcos Vinicius Cardoso Carvalho, conhecido entre colegas como Máskara, apelido pelo qual era amplamente conhecido, tinha uma longa carreira na Polícia Civil e recentemente assumiu uma das chefias da 53ª DP (Mesquita), estava há 20 anos estava nos quadros da corporação e era muito respeitado entre colegas pela atuação no enfrentamento ao crime organizado, costumava participar diretamente das operações em campo, mesmo ocupando cargo de chefia.

Ele foi atingido na cabeça. Um áudio gravado por uma policial que o socorria na favela mostra o cenário de guerra que os agentes enfrentaram. Em meio ao som de tiros e explosões, ela comunicou à corporação que Marcus Vinicius havia sido baleada. Ele foi levado ao Hospital estadual Getúlio Vargas, mas não resistiu.

“Galera, o Maskara foi baleado na cabeça, a gente tá preso aqui na favela, estou pedindo prioridade. Tem que dar uma atenção, é sério, o Maskara foi baleado na cabeça", disse a policial.

Outros mortos

Ainda não há investigação da Polícia Civil a respeito dos mortos nesta operação. No entanto, o Governo do Estado já trata do número como sendo de pessoas "suspeitas".

Na manhã desta quarta-feira, em meio à fila formada por dezenas de corpos estendidos em frente a uma creche na Vila Cruzeiro, O GLOBO foi até o Complexo da Penha, Zona Norte do Rio, dar nome aos mortos.

Tempo real:

Como combater as facções?

Um avô — que criou o neto como filho — contou que não conseguiu ver o cadáver de Jean Alex Santos Campos, o Café, de 17 anos, na manhã desta quarta-feira, pois já tinha sido removido pelo rabecão.

No Instituto Médico Legal (IML) do Centro do Rio, aguardando o reconhecimento do corpo do marido, Maria Fernanda Araújo e o irmão, Pedro, relatam o marido, Adaylton Bruno, já sabia da operação na madrugada de terça-feira e havia conversado com ela antes. Segundo os familiares, Adaylton Bruno era envolvido com o Comando Vermelho e participou da operação. Seu corpo foi encontrado na mata, com um tiro no rosto.

Quem são os presos?

Até o momento, 113 presos, 10 são menores apreendidos na megaoperação. Entre os presos mais visados está o traficante Thiago do Nascimento Mendes, conhecido como Belão, considerado braço direito de Edgard Alves de Andrade, o Doca, apontado como uma das principais chefes do Comando Vermelho (CV) na região.

Belão foi capturado dentro de uma casa, escondido na Favela da Chatuba, na Penha. Ele chefia o Morro do Quitungo, também na Penha. Segundo dados do site do Conselho Nacional de Justiça, o traficante tinha em seu nome seis mandados de prisão expedidos pelo Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ) ligados ao tráfico de drogas, comércio de armas e confrontos com quadrilhas rivais.

Ele foi alvo de operações anteriores da Polícia Civil. Em julho de 2024, por exemplo, uma tentativa de interceptar um comboio do CV na Rua Guaporé resultou em intenso tiroteio, ferindo duas pessoas, e na fuga de Belão. Na ocasião, a polícia apreendeu três fuzis, munição e carregadores, mas o traficante conseguiu escapar.

Segundo a investigação, Belão vinha participando de reuniões estratégicas do CV, organizando a logística e a distribuição de armamentos entre as comunidades da Penha e do Alemão. Ele também coordenava o controle do território do Quitungo, disputado com o Complexo de Israel, dominado pelo Terceiro Comando Puro (TCP), liderado por Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão.

Além dele, os agentes capturaram Nikolas Fernandes Soares, apontado como operador financeiro de Doca, responsável pela contabilidade do tráfico, abastecimento de armas e drogas, comunicação interna e pagamento de “soldados”.

Quem são os policiais feridos?

Entre os agentes de segurança feridos, quatro ainda necessitam de doação de sangue, segundo o Hemorio.

Subtenente da PM Luís Cláudio Fernandes Leal

Capitão da PM Luiz Felipe Alvarez da Costa

Delegado Bernardo Leal Anne Dias

Leandro Oliveira dos Santos

Rodrigo Vasconcelos Nascimento

Rodrigo da Silva Ferreira Soares

Cabo da PM Ricardo Oliveira de Farias