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'Parece Covid' diz moradora da ZN: Rio tem madrugada vazia após dia de megaoperação nos Complexos da Penha e Alemão
Depois do dia de caos e terror, cariocas esvaziam ruas e bares durante a noite e a madrugada
Após um dia de megaoperação das polícias Civil e Militar, nos complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte do Rio, a madrugada carioca foi marcada pelo silêncio, ruas vazias e estabelecimentos de portas fechadas em diversas regiões. Um cenário que começou a ser desenhado ainda durante a tarde desta terça-feira, depois do município entrar no estágio 2 do nivelador de risco, devido às nas Zonas Norte, Oeste, Sudoeste e Centro. Segundo a RioÔnibus, ao menos 71 coletivos foram usados como barricadas em diferentes pontos da cidade. Relatos de comerciantes também apontam que muitas lojas foram fechadas a pedido de criminosos e a volta para casa foi caótica. O clima de tensão também se fez presente no período da noite.
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Uma mulher passeava com o seu cachorro de estimação pela Praça Varnhagen, na Tijuca, Zona Norte do Rio, por volta das 23h, quando pontuou que estava se sentindo incomodada na rua por conta da solidão. "Parece Covid-19, né? Muito estranho", disse ela.
Realmente, se uma pessoa tivesse visitado o Rio de Janeiro nas primeiras semanas da Pandemia e só tivesse retornado ao município nesta madrugada, o cenário encontrado seria muito parecido. Conhecido como "Buxixo", o espaço onde a moradora transitava sozinha com seu pet é velho conhecido da boemia tijucana. É ponto de ofertas de bebida, comidas, sambas e entretenimento ao longo da noite, sete vezes por semana. Por isso, é comum que suas calçadas fiquem tomadas por pessoas, mas a cena não se repetiu na madrugada desta quarta-feira.
Os famosos bares e restaurantes estiveram todos fechados, as ruas tomadas por veículos ficaram vazias e as calçadas acostumadas a ouvir muitas histórias entre um brinde e outro, foram silenciadas pelo medo da população.
Zona Norte
No começo da madrugada desta quarta-feira, o Boulevard 28 de Setembro, em Vila Isabel, bairro vizinho da Tijuca, também dava sinais de uma noite deserta em outro ponto historicamente movimentado ao longo das noites. Ao percorrer toda a extensão da via, a equipe do GLOBO constatou quem só havia dois garis e dois catadores de material reciclável no local, além de um botequim aberto. O lugar tem fama por seus diversos bares e botecos que recebem rodas de samba e viraram inspiração para compositores como Noel Rosa e Martinho da Vila.
Em paralelo, a Rua Teodoro da Silva, que corta todo bairro fazendo a ligação de Vila Isabel, Grajaú e Andaraí com o Centro, também era um deserto em um único veículo, seja carro, ônibus ou moto, em toda sua extensão.
No Largo Verdun, no Grajaú, uma farmácia 24 horas baixou as portas e o entorno se mostrou sem qualquer movimento, assim como na região do Maracanã e na Avenida Rei Pelé (antiga Radial Oeste).
Já na rua Barão do Bom Retiro, no Engenho Novo, além da falta de movimento, o fechamento da autoestrada Grajaú-Jacarepaguá também chamou atenção nesta madrugada. "Via bloqueada. Proibida a Circulação". Com começo no bairro da Zona Norte, a via é uma das principais ligações entre a Zona Norte e a Zona Sudoeste do Rio.
Com nove quilômetros de extensão, ela corta diferentes comunidades do Complexo do Lins, área de domínio da facção Comando Vermelho (CV), alvo da megaoperação policial.
Em gráficos:
Por volta das 3h30 da madrugada, o Centro de Operações e Resiliência do Rio (Cor-Rio), informou que todas as vias da cidade ficaram liberadas para o trânsito de veículos. A última a ser liberada foi a autoestrada Grajaú-Jacarepaguá, sentido Jacarepaguá.
Zona Sul
A madrugada da Zona Sul do Rio também foi afetada pelo clima tenso da cidade. Após um trânsito intenso e problemas de mobilidade causadas pela volta para casa antecipada, o período da noite e a madrugada nesta região também tiveram muitos pontos vazios.
Na praça São Salvador, no bairro das Laranjeiras, não foi possível ver o tradicional agito das rodas de conversas e os bares lotados. Ao invés disso, poucas pessoas circulavam de forma apressada pelo local.
— Só estou de passagem, porque precisei ir ao mercado comprar alguns itens de urgência, mas estou correndo. Em uma noite qualquer, eu estaria vendo um jogo em alguma mesa, mas hoje é ficar quieto em casa — revelou um morador que preferiu não se identificar.
A situação se repetiu no Largo do Machado, bairro ao lado. Por lá, os estabelecimentos da rua Arno Konder, conhecidos pelo movimento até altas horas, estavam em sua maioria vazios e os que arriscaram manter o funcionamento, se depararam com público abaixo do comum.
— Terça-feira não é dos dias de maiores movimentos, nós sabemos. Mas hoje está bem difícil, as ruas estão desertas e os clientes que aparecem, ficam menos tempo que o normal — revelou Luis Felipe, garçom de um dos restaurante do local.
Ônibus é sequestrado
Uma farmácia e um chaveiro que funcionam 24horas na região, na área do Largo do Machado, também tiveram suas portas fechadas ao longo das últimas horas.
Em Botafogo, chamou atenção a falta de movimento de veículos e pedestres na Rua Voluntários da Pátria. Ela é uma das principais vias do bairro e da Zona Sul da cidade — um deserto visto em diferentes pontos do bairro boêmio.
Nem mesmo a badalada Rua Arnaldo Quintela, eleita pela revista Time Outo a oitava região mais "cool" (descolada) do mundo, no ano passado, contou com movimento nesta madrugada. Aliás, vale destacar que, por pertubação do sossego registradas no sistema 1746. O bairro só perde para Camorim, Copacabana e Barra da Tijuca.
Tão vazia quanta a Rua Arnaldo Quintela ficou a orla de Copacabana. A Praia de Copacabana fez sua fama por ser um lugar que "nunca dorme". Enquanto de dia as areias e as águas do mar são tomadas por banhistas, na madrugada são os quiosques que roubam a cena com seus eventos e turistas empolgados.
No entanto, o que se viu nesta madrugada foi uma Avenida Atlântica sem movimento de veículos e tão pouco de pedestres. Uma situação que se estendeu pelo Arpoador, Ipanema e chegou até a Rua Domingues Ferreira, no Leblon.
Em outros pontos da Zona Sul, como nas grama sintética do Aterro do Flamengo. Desde as primeiras horas da noite de terça-feira, até o fim da madrugada de quarta-feira, os campos de futebol tiveram o silêncio no lugar dos dribles, chutes e gritos de costume.
Integrantes do governo Lula rebatem Castro
Centro
Jonatan Eduardo trabalha como auxiliar de serviços gerais na Barra da Tijuca, na Zona Sudoeste, mas mora no bairro da Penha, a Zona Norte do Rio. Após ficar mais de uma hora aguardando pelo seu ônibus da linha 312 (Olaria - Candelária), na Central do Brasil, no Centro da cidade, ele lutou para não perder as esperanças de seguir viagem até em casa.
— Da Barra até aqui vim de metrô e foi relativamente rápido, embora mais cheio que o normal. O problema é que cheguei na Central há pouco mais de uma hora e ainda não vi meu ônibus, que costuma ser rápido, passar — disse Jonatan.
Nem mesmo a Lapa, com suas casas de show, rodas de samba, bares e restaurantes, foi capaz de atrair público após um dia tão tenso. Na Avenida Mem de Sá, menos de cinco estabelecimento estiveram abertos em toda sua extensão. Assim, o único indício de vida circulando pela área, eram alguns poucos veículos em velocidade acima do normal.
Zona Oeste e Sudoeste
Algumas das principais vias das zonas Oese e Sudoeste foram interditadas por barricadas realizadas por traficantes ao longo desta terça-feira. Por isso, também foi uma madrugada difícil nessas regiões.
Por isso, muitos moradores passaram a madrugada com dificuldades para voltar para casa, após um dia de trabalho. IÉ o caso de Iasmin Vieira, que trabalha no Centro, mas mora no bairro de Campo Grande. Com dificuldades em encontrar um ônibus que a levasse para casa, desistiu de esperar e optou por dormir na casa de um casal de amigos, no Leme.
— Já esperei por muito tempo para ir embora e não consegui. A hora está avançada e o centro um deserto. No medo de ficar na rua, falei com um casal de amigos que mora no Leme e eles ofereceram a casa — compartilhou Iasmin, enquanto aguardava os amigos chegarem na Central para buscá-la de carro.
— Tem ônibus para lugar algum — completou.
Rio segue em estágio 2
Segundo o Cor, a cidade do Rio de Janeiro segue em Estágio 2 desde 13h48 desta terça-feira. Neste momento, os transportes operam regularmente. Com BRT, VLT, MetrôRio, SuperVia, Barcas e Rodoviária operando sem alterações.
No entanto, o órgão recomenda que as pessoas com viagens rodoviárias marcadas pelo terminal hoje, façam contato direto com a Viação.
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