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Complexos alvos de operação funcionam como QG do Comando Vermelho e abrigam principais nomes da cúpula da facção

Ação foi recebida com intenso poder de fogo, numa tentativa de proteger o alto comando da facção. Os criminosos até usaram drones para lançar granadas contra as forças especiais

Agência O Globo - 28/10/2025
Complexos alvos de operação funcionam como QG do Comando Vermelho e abrigam principais nomes da cúpula da facção
- Foto: Reprodução

A megaoperação das polícias, realizada nesta terça-feira, tem como foco : os complexos do Alemão e da Penha. O objetivo da ação é prender integrantes da facção — sendo 30 deles oriundos de outros estados — que estariam escondidos nos dois conjuntos de favelas. Os complexos da Penha e do Alemão somam 26 comunidades, onde vivem cerca de 112,7 mil moradores. É desses locais que as principais lideranças do CV, fora dos presídios, tomam decisões sobre disputas por territórios e os rumos da organização dentro e fora do estado. Por essa razão, a operação foi recebida com intenso poder de fogo, numa tentativa de proteger o alto comando da facção. Os criminosos até usaram drones para lançar granadas contra as forças especiais.

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Disputa de territórios: '

Apesar de exercerem papéis semelhantes dentro da estrutura criminosa, a polícia aponta que os dois complexos têm “especializações” distintas. O Alemão concentraria maior poder financeiro, enquanto a Penha seria o centro das decisões estratégicas. A Penha foi apontada pelo MPRj como uma das principais bases estratégicas do Comando Vermelho (CV) para implementar seu projeto de expansão territorial rumo à Zona Sudoeste, especialmente na região de Jacarepaguá. A informação consta em denúncia apresentada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO/MPRJ).

Na Penha, o principal nome é Edgar Alves de Andrade, o Doca. Nascido na Paraíba, ele ocupa o segundo posto na hierarquia da facção, estando abaixo apenas de Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, preso há mais de 30 anos. Durante a madrugada, moradores relataram queima de fogos em comemoração à data, que deve ser celebrada à noite em um salão de festas de uso exclusivo do tráfico na Penha. No Conselho Nacional de Justiça, constam 26 mandados de prisão em aberto contra Doca — o mais recente expedido em 4 de janeiro.

No complexo também há a presença de “subgrupos” do Comando Vermelho, como a Equipe Sombra, especializada em disputas territoriais na Zona Oeste, e a Equipe do Ódio, formada por adolescentes envolvidos em roubos de veículos e confrontos com traficantes do Terceiro Comando Puro (TCP).

No Alemão, um dos principais nomes da liderança é Luciano Martiniano da Silva, o Pezão. Ele é o integrante da cúpula do CV foragido há mais tempo. Quando 3,5 mil homens das polícias Civil e Militar, do Exército e da Marinha ocuparam os complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio, em 28 de novembro de 2010, Pezão já tinha a prisão decretada. Contudo, fugiu dois dias antes da megaoperação, provavelmente utilizando uma tubulação de esgoto.

Em uma demonstração de poderio bélico sem precedentes, traficantes usaram drones para lançar granadas contra forças especiais da Polícia Civil e Militar do Rio na tentativa de conter a operação desta terça-feira.

O uso de drones para lançar granadas contra forças de segurança marca uma nova escalada do poder de fogo do crime organizado no Rio. Criminosos lançam o equipamento sobre alvos, acionam um gatilho mecânico ou elétrico que libera a carga e se afastam sem se expor. Além de servir como “bombardeiro” improvisado, o drone também funciona como equipamento de reconhecimento para orientar a reação das quadrilhas. Imagens deste terça-feira mostram ainda barricadas em chamas formando colunas de fumaça visíveis a quilômetros de distância.

Operação deixa ao menos 20 mortos

A megaoperação deixou dois policiais civis mortos e ao menos outro oito agentes feridos, na manhã desta terça-feira. De acordo com a Polícia Civil, 18 suspeitos foram mortos, dois deles da Bahia. Quatro moradores também foram atingidos.

O objetivo da ação é cumprir mandados de prisão contra integrantes do Comando Vermelho (CV), 30 deles de fora do Rio, escondidos nos dois conjuntos de favelas, identificados pela investigação como bases do projeto de expansão territorial do CV. Até o fim da manhã, 56 pessoas foram presas e 31 fuzis foram apreendidos na ação, que mobiliza 2,5 mil policiais e também promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPRJ).