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'Linha do inferno': autor lança livro sobre ônibus 474; saiba de que temas a obra trata
Entre 2015 e 2016, uma medida implementada pela prefeitura do Rio alterou o trajeto do ônibus 474 Jacaré – Jardim de Alah. A partir daqueles anos, uma das linhas de ônibus mais conhecidas da cidade no transporte de passageiros entre as zonas Norte e Sul passaria a atravessar o Túnel Santa Bárbara, com trajeto mais curto. O ponto final, em vez de Ipanema, seria Copacabana. A proposta, feita em nome da racionalização do sistema, inspirou outras questões: seria aquela uma estratégia de controle, já que a linha agora passaria por rotas com mais supervisão policial e teria o ponto final retirado de Ipanema, um dos bairros mais elitizados da cidade?
Defensoria pede Liberdade:
Rio das Pedras:
Pode ter sido esta a inspiração de Chico Buarque para a canção “As caravanas” (2017), que traduziu a segregação nos versos “Não há barreira que retenha esses estranhos/ suburbanos tipo muçulmanos do Jacarezinho/ a caminho do Jardim de Alá”. A reflexão sobre a cidade também intrigou o carioca Gabriel Weber, que morava no Riachuelo, e transformou inquietações numa pesquisa que virou livro, “474 Jacaré/Copacabana”, da Sobinfluencia Edições. A obra ganha lançamento nesta terça-feira (28) na livraria Travessa de Botafogo, às 19h. Arquiteto, ele se dedicou a estudar a organização espacial do ônibus e seu itinerário na cidade, sem deixar de levar em conta o componente social.
— O 474 era representado numa perspectiva: a externa. E era normalmente a da Zona Sul. Quando o 474 aparecia lá, era como se ele não tivesse vindo de nenhum começo. Ou que, antes do túnel, ele viesse de uma grande zona nebulosa — diz o autor, de 28 anos, que ouviu “seu” ônibus ser chamado de “Linha do inferno”. — Existem várias verdades sobre a linha 474. Não é que não exista arruaça. Minha ideia era revelar as múltiplas camadas.
‘Eles têm direito de ir e vir’
Uma das análises do livro trata dos perfis de passageiros em dias úteis e nos fins de semana. O autor lembra que, na época da pesquisa, praias banhadas pela Baía de Guanabara não eram próprias para banho, o que levava a um movimento pendular de moradores da favela do Jacarezinho a praias da Zona Sul.
– Os moradores do Jacarezinho e da Zona Norte têm o direito de ir a Ipanema de todas as formas, o direito de poder se refrescar. Em dias úteis, muitos trabalhadores passavam o deslocamento para o trabalho viajando apertados, em pé, no ônibus. Muitas pessoas moram em barracos, com calor. Então, no fim de semana eles também têm o direito de ir e vir ao mar – defende.
O dia a dia da pesquisa incluiu idas e vindas, conversas com despachantes, motoristas e passageiros e surpresas pelo caminho. Numa das viagens, Gabriel foi abordado por um homem que perguntou as horas, pediu para ver seu celular e sua bolsa.
– Vi que ele estava querendo me assaltar. Como eu só tinha o Riocard, perguntei se poderia entrevistá-lo para um trabalho. Perguntei para que ele pegava o 474, e ele me disse: “Para assaltar”. Contou que embarcava um ponto depois do primeiro do Jacaré, dando calote, que ia até Copacabana e depois andava até o Leblon para ver se conseguia alguma coisa– lembra, detalhando que o assaltante tinha uma tatuagem no tórax com número 157, que no Código Penal tipifica roubo.
No livro, fruto de um estudo de arquitetura, os personagens estão relacionados aos espaços que ocupam. Nas páginas, há representações de como é o ônibus por dentro, detalhamento de episódios que têm como protagonistas os surfistas que andam pelo teto dos veículos, entre outras ilustrações.
Tempo bom, tempo ruim
A investigação traz informações sobre a logística da empresa responsável pelo 474. O planejamento para a linha, segundo o autor, muda de acordo com a meteorologia: varia, caso faça chuva ou faça sol. O bom tempo pode levar a uma maior escala de carros e à convocação de motoristas “resilientes”, acostumados a eventos adversos, como episódios de arrastão ou de superlotação do veículo. Segundo Gabriel, um dos profissionais habilitados revelou que, quando era escalado para trabalhar à tarde num fim de semana com sol, recorria a remédios para ansiedade.
— Muitos motoristas já estão anestesiados, mas um me revelou que quando ele ouve a Silvana Ramiro, do Bom Dia Rio, dizer que o sábado e domingo serão de sol e praia, começa a tomar Alprazolam dois dias antes das viagens por indicação do médico de família dele — lembra. — Esses eventos parecem disruptivos na cidade, mas na verdade são cíclicos. Todo mundo espera: a polícia espera, os passageiros esperam.
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