RJ em Foco
Novo controlador vai encontrar uma série de desafios na Linha Amarela
Mubadala Capital, braço de investimentos do fundo soberano de Abu Dhabi, está fechando operação acionária
Com troca de comando à vista, a Linha Amarela deve mudar de mãos, mas seu destino é incerto. O grupo Invepar (Investimentos e Participações em Infraestrutura S.A.) anunciou, na última segunda-feira, a transferência do controle da Lamsa, concessionária que administra a via expressa, para o Mubadala Capital, braço de investimentos do fundo soberano de Abu Dhabi. A operação ainda depende do aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e da Prefeitura do Rio, mas de concreto serão herdadas pistas marcadas não só pela sua importância como por desafios e tropeços ao longo de seu percurso de 28 anos.
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Apesar da relevância e de eventuais medidas para melhorar o fluxo, com seus mais de 17 quilômetros de extensão — ligando a Cidade Universitária, na Ilha do Fundão, à Barra da Tijuca, na Zona Sudoeste — , a via é marcada por engarrafamentos e pela sensação de insegurança que preocupa motoristas, passageiros e pedestres. Ela corta 23 comunidades, onde vivem 500 mil pessoas, e 13 bairros.
— O trânsito na hora do rush é muito pesado e sempre tem engarrafamento. Se você se distrair e não entrar na reversível (funciona nos dias úteis entre 6h e 9h), vai se atrasar. A reversível ajuda, mas o problema é que até ela está começando a engarrafar — diz Marcelo Saldanha, que mora na Barra e trabalha em Deodoro.
Ainda em relação a engarrafamentos, o coordenador do Fórum de Mobilidade Urbana do Rio, Licínio Rogério, aponta as filas de pedágio como uma das causas.
— Os engarrafamentos chegam até o Túnel da Covanca em horários de rush. O fundamental é instalar na via um sistema Free Flow (pedágio eletrônico que elimina praças físicas) — sugere Rogério, que considera importante ainda a elaboração de estudo para a implantação de novas agulhas de acesso e saída da via.
Já para o contador Haroldo Teles, a pista é boa, mas cara:
— Para uma via que fica dentro da cidade, o preço poderia ser menor.
Hoje, a tarifa básica é de R$ 3,80, cobrada em uma praça com 20 cabines, sendo 12 manuais e oito eletrônicas, que funcionam nos dois sentidos.
Medo constante
O receio de assaltos e de balas perdidas é rotina para quem passa pela via. Wanderley Alcântara, morador de Todos os Santos, na Zona Norte, usa a Linha Amarela diariamente para trabalhar no Centro. Conta que presenciou trocas de tiros, ouviu relatos sobre assaltos e já foi vítima de tentativa de roubo. Lembra que, meses atrás, quando voltava para casa com a mãe, de noite, foi abordado por homens armados numa moto, quando trafegava na altura de Del Castilho.
— Emparelharam, e o garupa mandou encostar. Ameacei parar, mas joguei o carro contra eles e acelerei. Não acertei ninguém, mas se assustaram e desistiram.
No último domingo, o meio-campista do Flamengo Arrascaeta e a mulher, Camila, grávida, também escaparam de uma tentativa de assalto após o jogo contra o Palmeiras, no Maracanã. O casal voltava para casa, na Zona Sudoeste, com motorista em um carro blindado, quando foi surpreendido por quatro criminosos no acesso da Avenida Brasil. Segundo o colunista Diogo Dantas, do GLOBO, o motorista não parou e conseguiu escapar.
De acordo com o Instituto Fogo Cruzado, tiroteios são outro fator que reforça a insegurança. Entre janeiro e outubro deste ano, a via foi fechada três vezes por conta de confrontos. A última ocorreu em 26 de setembro, quando a pista foi bloqueada nos dois sentidos, na altura do Complexo da Maré, durante uma operação da Polícia Civil.
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Em maio, outro fechamento aconteceu na altura da Cidade de Deus, quando o policial José Antônio Lourenço, da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), morreu em operação. Motoristas abandonaram carros e motos para se proteger no asfalto. Passageiros de ônibus deitaram no chão dos veículos, na tentativa de escapar dos tiros.
O técnico de eletrônica Gustavo Martins, morador do Méier, na Zona Norte, trabalha no Recreio, na Zona Sudoeste, e faz o trajeto de ônibus todos os dias. Estava presente naquele dia 19, mas revela que não foi o único momento de medo:
— Quando tem tiroteio, é um desespero. Todo mundo tenta se abaixar e reza.
Pouco lembrados por quem passa em alta velocidade nos automóveis que cortam a Linha Amarela, os pedestres também enfrentam riscos nas 14 passarelas da via. Maria Fernanda, assistente social que atravessa diariamente a passarela que liga as ruas Ramiro Magalhães e Rua Pompílio de Albuquerque, no Engenho de Dentro, reclama da falta de segurança.
— Acontecem muitos assaltos aqui, e a iluminação é precária porque furtam as lâmpadas. Há pontos enferrujados e usuários de drogas à noite. Quando escurece, fica impossível passar.
Outro desafio de manutenção está nos painéis de mensagens eletrônicas. São oito fixos e quatro móveis ao longo da via, mas muitos apresentam falhas visuais, e as informações não aparecem completas para os motoristas.
Planos desconhecidos
Retrocedendo no tempo, auditoria da Controladoria Geral do Município, concluída em 2019, apontou que a Lamsa não executou integralmente obras e melhorias previstas no contrato de concessão, o que teria causado um prejuízo de R$ 1,6 bilhão aos cofres públicos. Tais irregularidades motivaram uma disputa judicial que resultou no rompimento do contrato pelo então prefeito Marcelo Crivella. Mas a concessionária conseguiu na Justiça o direito de continuar administrando a via.
O principal questionamento foi o fato de não ter sido executado um plano de investimentos acordado em aditivo de contrato de 2010, para a prorrogação da concessão por mais 15 anos. Foram citadas ainda falhas na manutenção e na conservação. Incidentes graves, como o do caminhão que pegou fogo no ano passado, dentro do Túnel da Covanca — com mais de dois mil metros de extensão —, deixando mais de cem pessoas feridas, revelaram falhas em equipamentos de segurança, como detectores de incêndio e ventiladores de exaustão.
As disputas judiciais entre a prefeitura e a Lamsa duraram anos. Contudo, um acordo, de junho deste ano, no Supremo Tribunal Federal (STF), manteve a concessão da Lamsa, com a redução do pedágio.
Obras de revitalização
Responsável pela via, a prefeitura nada informa sobre investimentos previstos em contrato que não avançaram. Tampouco cita um plano de modernização da via. A Companhia Carioca de Parcerias de Investimentos (CCPar) diz apenas que, até agora, não recebeu notificação sobre o futuro controlador da Lamsa. “Avaliaremos as condições do contrato após o envio da documentação por parte da concessionária”, afirma em nota.
A Invepar só se refere ao controle acionário. E o Mubadala alega que, por ora, nada tem a falar sobre projetos para a via, porque ainda há etapas do processo a serem cumpridas até o fechamento da operação que tornará o fundo o controlador da Lamsa.
Quanto a queixas de usuários, a Lamsa ressalta que “trabalha continuamente para proporcionar maior agilidade na praça de pedágio”, que manter as passarelas ao longo da via não faz parte de suas obrigações contratuais e que a manutenção da iluminação sob sua responsabilidade se restringe ao eixo principal, acessos e saídas da via.
Já a Polícia Militar informa que realiza patrulhamento ostensivo e ações preventivas, “com o objetivo de impedir e reduzir os índices de roubos”. E que realiza mapeamentos estratégicos.
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