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Sobrevivente de ataque a tiros em Irajá foi baleado no rosto, num joelho e no tórax e segue entubado

Crime na madrugada desta sexta-feira deixou dois mortos. Cápsulas de fuzil e pistola foram encontradas no local

Agência O Globo - 17/10/2025
Sobrevivente de ataque a tiros em Irajá foi baleado no rosto, num joelho e no tórax e segue entubado

Um , na madrugada desta sexta-feira, deixou dois homens mortos e um terceiro gravemente ferido em , Zona Norte do Rio. O sobrevivente, Jaílton Matias Anselmo, de 37 anos, foi atingido, segundo a família, por pelo menos três disparos — um no rosto, um no tórax e outro em um dos joelhos — e segue entubado no Hospital Estadual Getúlio Vargas (HEGV), na Penha. As vítimas dormiam sob o viaduto da Avenida Pastor Martin Luther King Jr., próximo à estação do metrô de Irajá, quando foram surpreendidas por tiros disparados por criminosos que saíram de um carro ainda não identificado.

‘Começava a cantar e animava todo mundo’:

Aterros do Rio:

Segundo Carlos Augusto, primo de Jaílton, ele e outro parente foram ao hospital, na tarde desta sexta-feira, após verem a notícia do ataque pela televisão.

— Ficamos sabendo pela TV e viemos por conta própria, porque ele é da nossa família. É meu primo por parte de pai, mas pouco sabemos da vida dele hoje em dia. Sempre foi trabalhador, não mexia com ninguém — afirmou.

Ainda de acordo com Carlos Augusto, Jaílton foi colocado na sala verde do hospital ainda pela manhã. No entanto, por volta das 13h, quando os parentes chegaram para visitá-lo, foram informados de que ele havia sido transferido para a sala vermelha, em estado mais grave, e que, por isso, não poderiam vê-lo. Segundo os dois primos, ele está entubado.

Por que a rua vira casa?

Jaílton vivia nas ruas há pelo menos dez anos, e dormia exatamente no local onde foi atacado, sob o viaduto. Ainda criança, veio com os pais do Nordeste para o Rio de Janeiro. Os pais retornaram para sua cidade natal, mas Jaílton permaneceu para tentar a vida. Durante os anos em que teve moradia, trabalhou em supermercados e aceitava "bicos", os trabalhos temporários, que aparecesse, segundo a família.

Ataque deixou dois mortos

O ataque ocorreu por volta das 4h45 desta sexta-feira. Segundo testemunhas e policiais militares do 41º BPM (Irajá), um carro parou no sentido Pavuna, e homens desceram atirando em direção às pessoas em situação de rua que dormiam sob o viaduto. Os disparos ocorreram em pontos diferentes do local — os dois mortos foram encontrados perto dos colchões que usavam.

Equipes do Corpo de Bombeiros encontraram dois homens já sem vida. . Ele era morador de rua há mais de 10 anos e, antes disso, . Natural de Salvador, Bahia também era percussionista e chegou a participar de projetos sociais de música na Zona Norte do Rio.

Segundo Luccas Xaxará, diretor do grupo Batikum Afro, que realiza oficinas e apresentações de música afro-brasileira na região, Bahia era figura frequente nos encontros:

Recomeço:

— Ele cantava, participava e estava sempre com a gente. Tocávamos percussão baiana, e ele lembrava muito da sua terra, de Salvador. Um dia apareceu do nada e começou a interagir. Criamos uma relação. Todo ensaio ele aparecia — contou Luccas.

Mesmo após sofrer um AVC, que limitou os movimentos de um dos braços, Bahia continuava a frequentar os encontros musicais e cantava com o grupo.

— Chegava, começava a cantar e animava todo mundo — relembrou o diretor.

A terceira vítima do ataque foi Jaílton, único sobrevivente, que foi socorrido pelos bombeiros em estado grave e levado para o HEGV.

Cedae x concessionárias:

Cápsulas de fuzil e pistola foram encontradas

No local do crime, a , o que indica o uso de armamento pesado no ataque. A investigação ainda não determinou a motivação do crime. O viaduto onde as vítimas estavam fica na divisa entre as comunidades Rio D’Ouro e Malvina, área de atuação do Terceiro Comando Puro (TCP), o que levanta a possibilidade de relação com disputas territoriais, mas nenhuma linha é descartada até o momento.

Durante a manhã, agentes da Secretaria Municipal de Assistência Social estiveram no local para prestar apoio às pessoas em situação de rua que ainda permaneciam sob o viaduto. Colchões, cobertores, sofás e roupas estavam espalhados no local do ataque.

Moradores da região afirmam que o crime causou espanto. Uma mulher, que preferiu não se identificar, relatou que os homens que viviam ali eram conhecidos e não apresentavam risco à vizinhança.

— Se fosse o contrário, não estaríamos aqui falando isso. Eles ficavam na deles, até protegiam quem passava por aqui à noite — disse.

A investigação do caso está sob responsabilidade da Delegacia de Homicídios da Capital. A Polícia Civil tenta identificar os autores do ataque e o veículo utilizado.