Política

Debate na CPI do Crime Organizado revela atuação nacional de facções criminosas

Especialistas destacam expansão do PCC e Comando Vermelho em todos os estados e defendem integração de políticas para enfrentar o crime organizado

26/11/2025
Debate na CPI do Crime Organizado revela atuação nacional de facções criminosas
- Foto: Reprodução / Agência Brasil

Facções do crime organizado, como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), atuam atualmente em todos os 26 estados brasileiros e no Distrito Federal. A informação foi destacada durante reunião da CPI do Crime Organizado, nesta quarta-feira (26), pelo presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima.

Segundo Lima, o CV possui presença hegemônica em seis estados e ampliou sua atuação de 128 para 286 cidades na Amazônia nos últimos três anos. Já o PCC mantém domínio em sete estados. O especialista defendeu a recriação do Ministério da Segurança Pública e informou que, juntas, as facções e outros integrantes do crime organizado movimentam cerca de R$ 300 bilhões por ano. Para ele, o crime organizado vive um processo de expansão global, com parcerias internacionais e crescente profissionalização.

— A convergência criminal é o maior desafio, ou seja, diversas atividades sendo controladas pelo crime organizado de base faccional, e a urgência de uma resposta multidimensional — avaliou Lima.

O jornalista investigativo e pesquisador da USP, Bruno Paes Manso, ressaltou que os avanços tecnológicos também impulsionam o cotidiano e a expansão internacional das facções. Ele destacou o uso de criptoativos, casas de apostas e internet via satélite como instrumentos para lavagem de dinheiro e comunicação em áreas remotas.

Paes Manso defendeu uma articulação nacional para enfrentar o novo cenário, marcado pela atuação interestadual e internacional das organizações criminosas. Para ele, o sistema prisional é estratégico no combate à criminalidade e a segurança pública precisa de mais integração.

— A nacionalização e o compartilhamento de informações entre instituições são fundamentais, pois há uma nova cena no crime. O crime se nacionalizou, mas a segurança pública ainda não. (...) Reduzir homicídios e a letalidade policial é uma forma de libertar comunidades das facções e evitar que a polícia seja empurrada para o crime — afirmou o jornalista.

O presidente da CPI, senador Fabiano Contarato (PT-ES), afirmou que os senadores estão aprofundando a investigação sobre o funcionamento das facções, sua organização, fontes de financiamento, disputa de territórios, influência nas economias locais e penetração em contratos e estruturas governamentais.

— A partir desse entendimento, buscamos identificar quais políticas públicas podem interromper esse ciclo, com inteligência, cooperação federativa, transparência, controle e proteção das populações mais vulneráveis. Por isso, a próxima etapa será ouvir governadores e secretários de segurança, que comandam as polícias civis, militares e demais institutos estatais responsáveis pela prevenção, investigação, policiamento ostensivo, gestão do sistema prisional e formulação das políticas de segurança pública — adiantou Contarato.

O relator da CPI, senador Alessandro Vieira (MDB-SE), destacou que órgãos como a Receita Federal, o Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf), o Banco Central e a Polícia Federal “precisam fortalecer suas estruturas” para aprimorar o combate ao crime organizado, facções, milícias e à corrupção policial, empresarial e política.

— Sem o combate à corrupção, continuaremos apenas legislando, mas sem resultados práticos. (...) O desafio é promover uma faxina moral dentro do próprio Estado e das instituições; há envolvimento de políticos com o crime organizado, lavagem de dinheiro e emendas parlamentares, entre outras práticas que precisam ser enfrentadas — afirmou Alessandro.