Política

Governo de SP vê uso político da PF contra Tarcísio após abertura de novo inquérito

Secretários estaduais acreditam que há instrumentalização da Polícia Federal contra o governador com a investigação para apurar se ele forjou um atentado em 2022

Agência O Globo - GLOBO 23/10/2023
Governo de SP vê uso político da PF contra Tarcísio após abertura de novo inquérito
Tarcisio Freitas - Foto: Reprodução

A Polícia Federal (PF) investiga se o tiroteio ocorrido durante uma visita de Tarcísio de Freitas, então candidato ao governo de São Paulo, a Paraisópolis durante a campanha eleitoral do ano passado foi fabricado para beneficiá-lo eleitoralmente, conforme revelado pelo jornal Estado de S. Paulo nesta segunda-feira.

Em janeiro, a Justiça acolheu um pedido do Ministério Público e arquivou um inquérito que investigava a morte de uma pessoa durante a agenda de Tarcísio, mesmo sem ter identificado de qual arma partiram os tiros. A versão da polícia aponta um soldado da Polícia Militar (PM) como responsável pelos tiros, mas investigadores alegaram que os testes balísticos não comprovaram a autoria.

Para aliados de Tarcísio, a PF vem sendo usada politicamente contra Tarcísio e outros adversários políticos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Eles dizem que o caso já estava resolvido após a Justiça Eleitoral ter concluído, na semana passada, que o episódio se tratou de ocorrência policial, sem ingerência política ou eleitoral, e não haveria fato novo para uma nova investigação ser feita.

A referida ação foi aberta pela Procuradoria Regional Eleitoral Eleitoral, alegando que Tarcísio teria feito uso indevido de serviços de agente público durante o horário do expediente — no caso, do policial federal Danilo Campetti, que integrava a equipe de segurança da campanha. O relator Márcio Kayatt entendeu que o uso de arma de fogo e distintivo do agente decorreu de "seu dever funcional como policial, não caracterizando a prática de conduta vedada". Ele não tratou da acusação de atentado forjado.

Aliados também alegam que Tarcísio nunca falou em "atentado", apesar de ter convocado um pronunciamento para a imprensa no mesmo dia, em que afirmou ter sido alvo de um ataque.

— Não houve nada de bom com isso, só uma equipe traumatizada com a situação e uma crise para lidar — disse um secretário sob anonimato.

Outro argumento é que Tarcísio estava em uma situação eleitoral favorável e não teria por que forjar um atentado para se colocar como vítima e atrair a atenção do eleitorado. Naquela ocasião, Fernando Haddad, candidato do PT, tinha deixado o primeiro turno com 44,38% dos votos, e Tarcísio, 32,56% — ambos se enfrentariam, portanto, no segundo turno, mas o bolsonarista aparecia à frente das pesquisas.

Aliados de Tarcísio também citam o caso de Campetti como evidência de que a nova direção da PF partiu para cima dos bolsonaristas. Campetti está afastado das funções desde agosto, alvo de processo disciplinar que apura se ele usou o distintivo de forma irregular durante a troca de tiros em Paraisópolis.

Campetti concorreu a uma vaga na Assembleia Legislativa (Alesp), mas não conseguiu e eleger e hoje é primeiro suplente do Republicanos. Sua campanha foi baseada na imagem do "policial que prendeu o Lula" e usou ostensivamente uma foto em que aparece escoltando o petista no velório de seu neto em São Paulo — o que foi visto pelos adversários como apelativo.

Acusações de uso político das instituições policiais e de inteligência dispararam sob o governo Bolsonaro, do qual Tarcísio fez parte enquanto ministro da Infraestrutura. Em uma reunião ministerial em abril de 2020, por exemplo, Bolsonaro defendeu troca na PF para evitar que familiares e aliados fossem prejudicados.

A Polícia Rodoviária Federal (PRF), por sua vez, se envolveu num escândalo no ano passado ao concentrar operações de trânsito em redutos petistas no dia da eleição — o ex-diretor Silvinei Vasques foi preso numa investigação sobre interferência eleitoral.

Na última sexta-feira, a PF fez uma operação para investigar o uso de um programa secreto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que monitorou no governo Bolsonaro a localização de cidadãos por meio do celular.

Até o momento, dois servidores da agência foram presos e cinco afastados, enquanto US$ 171,8 mil em dinheiro vivo foram apreendidos. Segundo a colunista do GLOBO Bela Megale, o sistema foi acionado mais de 30 mil vezes.