Política

Wajngarten manda indireta para Ricardo Nunes nas redes sociais e expõe mal-estar do prefeito com bolsonaristas

Embora o fogo amigo cause desgastes para a campanha do emedebista, integrantes do PL afirmam ser pouco provável que Valdemar Costa Neto não apoie o prefeito em 2024

Agência O Globo - GLOBO 06/09/2023
Wajngarten manda indireta para Ricardo Nunes nas redes sociais e expõe mal-estar do prefeito com bolsonaristas
Ricardo Nunes - Foto: Arquivo/ Instagram

A lua de mel dos bolsonaristas com o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes , arrisca chegar ao fim. Na noite desta terça-feira, Fabio Wajngarten, advogado do ex-presidente e um dos articuladores da aliança com o emedebista, resolveu expor o mal-estar com Nunes e, numa indireta pelas redes sociais, disse que "ninguém se apropriará de votos bolsonaristas e deixará Bolsonaro distante". "A era dos gafanhotos acabou", escreveu o ex-secretário de Comunicação de Jair Bolsonaro.

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Wajngarten estava se referindo a uma situação também alvo de críticas de parlamentares ligados a Bolsonaro: o fato de o prefeito paulistano manter certa discrição sobre a aliança com o ex-presidente nas eleições do ano que vem. Nesta terça-feira, em uma palestra a alunos da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), Nunes disse que "não tem proximidade com Bolsonaro" assim como não tem com o presidente Lula, em fala considerada infeliz por aliados próximos.

O ex-ministro do Meio Ambiente e deputado federal do PL, Ricardo Salles, ironizou a declaração do prefeito e escreveu, também em suas redes sociais, que "nada como um dia atrás do outro". Salles jogou a toalha de seu projeto de disputar a prefeitura de São Paulo em junho, após flertes de Bolsonaro e Valdemar Costa Neto, presidente do PL, com Nunes.

O prefeito é acusado por bolsonaristas de "esconder" o ex-presidente em suas redes sociais, ao contrário do que faz com o governador Tarcísio de Freitas. Outro pano de fundo da crise citado por bolsonaristas é o pouco espaço dado ao PL na gestão Ricardo Nunes. Aliados de Bolsonaro consideram que seria um aceno importante o prefeito dar mais espaço ao partido na gestão municipal — hoje, a legenda tem apenas uma secretaria, do Verde e do Meio Ambiente.

Uma situação que teria irritado o ex-secretário de Comunicação de Bolsonaro foi a especulação de vices para Ricardo Nunes que não têm ligação com o ex-presidente, em especial, a ex-prefeita e secretária Marta Suplicy (sem partido) e o deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil - SP). Aliados de Wajngarten têm cobrado um "reposicionamento" do prefeito, além de "mudança total" de postura daqueles que o assessoram.

Aliados de Ricardo Nunes sustentam que ele não tem controle sobre nomes ventilados, e que isso é mera especulação. Dizem ainda que a chapa será definida apenas no ano que vem, ouvindo todas as partes, e que a escolha do vice não foi imposta como condição para o apoio de Bolsonaro. No entanto, nesta segunda-feira, Valdemar publicou um vídeo contando que Bolsonaro ligou para ele e perguntou se estava "fechado" em São Paulo e se ele poderia indicar o vice de Nunes.

— Eu respondi: você pode indicar o vice onde quiser no Brasil, é você que tem voto, ainda mais em São Paulo, que você elegeu o senador e o governador — afirmou Valdemar.

Em relação à cobrança de "abraçar" o bolsonarismo, correligionários de Nunes afirmam que não é a melhor estratégia eleitoral, ao menos não agora. Isso porque, como mostrou pesquisa Datafolha, 68% dos eleitores rejeitam votar no candidato indicado por Bolsonaro em São Paulo. Uma associação forte à imagem do ex-presidente poderia se tornar um limitador de crescimento.

Embora o fogo amigo cause desgastes para a campanha de Ricardo Nunes, integrantes do PL garantem ser pouco provável que Valdemar Costa Neto não apoie o prefeito em 2024 e aposte em outro nome para a eleição paulistana. Na última pesquisa Datafolha, ele aparece em segundo lugar, com 24% das intenções de voto. Porém, há uma preocupação sobre qual efeito a insatisfação de Wajngarten possa ter sobre Bolsonaro, de quem o advogado é muito próximo.

—O barco continua remando para o Ricardo Nunes— garantiu o vereador Isac Félix, presidente municipal do PL-SP, ao GLOBO — O prefeito gosta do Bolsonaro, acha que é importante o apoio, mas ele é MDB. Não significa que vai ficar colado colado (no Bolsonaro). Temos que unir o centro e a direita para derrotar a extrema esquerda. Essa é a visão do PL. Nesta união, Bolsonaro está dentro — completou o dirigente.