Política
Empreiteiro e conselheiro de Bolsonaro: quem é Meyer Nigri, empresário investigado por mensagem golpista
Apuração da PF contra dono da construtora Tecnisa foi prorrogada após mensagem contra as urnas que teria vindo do celular do ex-presidente ser localizada no aparelho dele
Apoiador de primeira hora de Jair Bolsonaro, desde 2018, Meyer Joseph Nigri, dono da construtora Tecnisa, é alvo de uma investigação da Polícia Federal (PF) por conta de conversas de teor golpista que ele teria mantido com outros empresários. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), prorrogou a apuração por mais 60 dias depois que uma mensagem atribuída ao ex-presidente com ataques às urnas eletrônicas e ao sistema eleitoral foi encontrada no celular de Nigri. O empreiteiro nega as acusações.
Mensagem: Bolsonaro pediu a contatos para 'repassar ao máximo' texto com ataques ao STF e TSE
Investigação: Moraes prorroga por mais 60 dias apuração contra Luciano Hang e o fundador da Tecnisa
Engenheiro, investidor e influente em diferentes meios, Nigri foi um dos conselheiros informais do ex-mandatário enquanto ele ocupava a Presidência. Neto de libaneses e filho de brasileiros, o empresário é formado em Engenharia Civil pela Universidade de São Paulo (USP). Além de fundador e ex-presidente da Tecnisa, empresa que atua no mercado imobiliário brasileiro, ele também é dono de uma confraria de vinhos e investe em um projeto com start-ups ligadas a campanhas de marketing.
Logo no início da campanha de Jair Bolsonaro à Presidência, em 2018, Nigri abriu seu apartamento em São Paulo para apresentar o candidato e permitir que ele falasse de seu projeto de governo à elite paulistana. Frequentador de uma sinagoga ortodoxa e considerado filantropo da comunidade judaica de São Paulo, o empresário teve influência direta na intenção de transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, logo após a eleição de Bolsonaro, o que acabou não se concretizando.
Durante o mandato do ex-presidente, Nigri serviu como consultor de Bolsonaro para temas que iam de política externa a questões empresariais. Ele também influenciou diretamente em indicações do alto escalão do governo. O dono da construtora tem digitais na escolha do ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles e do ex-ministro da Saúde Nelson Teich. O executivo também fortaleceu a escolha de Fábio Wajngarten para chefiar a Secretaria Especial de Comunicação da Presidência e de Augusto Aras para a Procuradoria-Geral da República (PGR).
Na mira da Polícia Federal
Investigação da Polícia Federal apontou que um contato apontado como do então presidente Jair Bolsonaro solicitou ao empresário, em troca de mensagens por um aplicativo, que "repassasse ao máximo" uma mensagem que insinuava, sem provas, uma fraude do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nas eleições do ano passado. O texto ainda continha ataques ao ministro Luís Roberto Barroso, do STF.
Relatório da PF mostra que a mensagem de Bolsonaro foi recebida por Nigri em junho do ano passado. O ex-presidente tinha o hábito de mandar a mesma mensagem para diversos contatos, o que indica que possa ter sido enviado para outras pessoas.
Na época, um contato identificado como "Pr Bolsonaro 8" — que a PF afirma ser do ex-presidente — enviou a Nigri uma mensagem afirmando que Barroso cometeu "interferência" e "desserviço à democracia" por atuar contra a adoção do voto impresso. O texto ainda afirma, sem provas, que o instituto de pesquisa Datafolha estaria "inflando" os números do então pré-candidato Luiz Inácio Lula da Silva para "dar respaldo" ao TSE.
Ao final, a mensagem dizia: "Repasse ao máximo". Nigri, então, respondeu: "Já repassei pra vários grupos!". O trecho da conversa entre Bolsonaro e Nigri foi utilizado como justificativa pelo ministro Alexandre de Moraes para prorrogar a investigação contra o empresário.
O ministro concordou com um pedido da PF e considerou que o órgão "ratificou a existência de vínculo entre ele (Nigri) e o ex-presidente Jair Bolsonaro, inclusive com a finalidade de disseminação de várias notícias falsas e atentatórias à Democracia e ao Estado Democrático de Direito".
Através de nota divulgada pelo seu advogado, Meyer Nigri reafirmou "que jamais foi disseminador de notícias falsas, mas apenas, de forma eventual e particular, encaminhou mensagens de terceiros no aplicativo WhatsApp para fomentar o legítimo debate de ideias". O texto acrescenta que o empresário "sequer possui contas em redes sociais como Twitter, Facebook, Instagram, nem em qualquer outra plataforma de disseminação em massa". "Por fim, com serenidade e respeito, reforça confiar na Justiça e ter plena certeza de que ficará devidamente demonstrado que não praticou crime algum", diz a nota assinada pelo advogado Alberto Zacharias Toron.
Investigação prolongada
Na segunda-feira, Moraes arquivou a investigação contra outros seis empresários que participaram da troca de mensagens de cunho golpista em um grupo de WhatsApp. O ministro, contudo, prorrogou a apuração contra Nigri e contra Luciano Hang, dono da Havan, também alvo do inquérito.
Em agosto do ano passado, os oito empresários foram alvos de mandados de busca e apreensão, após suas conversas serem reveladas pelo site "Metrópoles". Os outros seis participantes do grupo do WhatsApp eram: Afrânio Barreira Filho, dono do Coco Bambu; André Tissot, da Sierra Móveis; Ivan Wrobel, da W3 Engenharia; José Isaac Peres, da Multiplan; José Koury, do Barra World Shopping e Marco Aurélio Raymundo, da Mormaii.
Moraes considerou que os seis, "embora anuíssem com as notícias falsas, não passaram dos limites de manifestação interna no referido grupo, sem a exteriorização capaz de causar influência em terceiros como formadores de opinião".
Nas mensagens de Nigri, ele "defendia a contagem paralela de votos nas eleições por uma comissão externa". O empresário, segundo os investigadores, teria acusado três ministros do STF de "aumentar a desconfiança de fraudes preparadas por ocasião das eleições". De acordo com um relatório produzido pelo juiz auxiliar de Moraes, o empresário teria "apagado alguns conteúdos das suas redes sociais", o que reforçaria a necessidade de ser alvo de busca e apreensão para evitar a ocultação de "dados importantes para a continuidade das investigações".
O ministro também ressaltou que, em relação à quebra do sigilo telemático dos investigados, "restou evidenciado que cinco, das seis contas analisadas, pertencem aos familiares dos empresários" e que por isso não haveria "interesse direto para a investigação em comento".
Ainda no ano passado, Nigri recusou o convite do presidente Jair Bolsonaro para participar da cerimônia de Sete de Setembro, em Brasília. Sob pressão, ele foi aconselhado por pessoas próximas a não participar para evitar exposição e desgaste com o ministro Alexandre de Moraes. Luciano Hang também foi chamado e permaneceu ao lado do ex-presidente durante boa parte do evento.
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