Política

Entenda a cronologia do relato de hacker em CPI, que inclui foto com Zambelli e reunião com Bolsonaro

Walter Delgatti Netto relatou duas conversas com o então presidente da República, além de cinco idas ao Ministério da Defesa durante campanha eleitoral de 2022

Agência O Globo - GLOBO 17/08/2023
Entenda a cronologia do relato de hacker em CPI, que inclui foto com Zambelli e reunião com Bolsonaro
Walter Delgatti - Foto: Lula Marques/Agência Brasil

O depoimento do hacker Walter Delgatti Netto à CPI do 8 de janeiro, nesta quinta-feira, apresentou uma linha do tempo que inclui duas conversas com o então presidente Jair Bolsonaro (PL) e cinco reuniões no Ministério da Defesa durante a campanha eleitoral de 2022. Durante esta sequência de eventos, Delgatti relatou aos parlamentares que recebeu pedidos para manipular urnas eletrônicas e assumir a autoria de um suposto "grampo" realizado contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

Veja a seguir a cronologia apresentada por Delgatti à CPI:

28 de julho de 2022 - Encontro com a deputada Carla Zambelli

O primeiro registro de Delgatti no entorno bolsonarista ocorreu em julho do ano passado, cerca de dois meses antes da eleição presidencial. Em publicação nas redes sociais, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), aliada do então presidente Jair Bolsonaro, divulgou o que chamou de "encontro fortuito" com o hacker em um hotel de Ribeirão Preto, interior de São Paulo.

Após ser alvo de operação da Polícia Federal (PF), há duas semanas, Zambelli reiterou ter encontrado Delgatti "por acaso" na ocasião, e disse que o hacker pediu seu número de telefone. Posteriormente, ainda segundo a deputada, ela custeou a ida de Delgatti a Brasília para tratar de "serviços ao PL".

9 de agosto de 2022 - Reunião entre Delgatti e cúpula do PL

No depoimento à CPI, nesta quinta-feira, Delgatti relatou duas reuniões com integrantes do PL em Brasília em agosto de 2022. Na manhã do dia 9, o hacker afirmou ter se encontrado com o presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, junto a Zambelli e familiares da deputada.

O advogado de Delgatti, Ariovaldo Moreira, que o acompanhou no depoimento à CPI do 8 de janeiro, também estava presente no encontro na sede do PL, mas se retirou antes do término. No ano passado, Ariovaldo afirmou à revista Veja que compactuou com a argumentação dos presentes de uma suposta fragilidade das urnas eletrônicas.

Em seguida, à tarde, no mesmo dia 9, Delgatti disse aos parlamentares que se reuniu, também na sede do PL, com o marqueteiro Duda Lima, responsável pela campanha de Bolsonaro. No encontro, segundo o hacker, Lima teria sugerido ações com o intuito de colocar as urnas eletrônicas em descrédito. Uma dessas ações seria inserir um "código malicioso" em um exemplar de urna a fim de fazer uma demonstração pública, no dia 7 de setembro. Lima nega ter se reunido com Delgatti.

10 de agosto de 2022 - Reunião com Bolsonaro no Palácio da Alvorada

O hacker também relatou que, no dia seguinte à conversa com integrantes do PL, foi recebido pelo próprio Bolsonaro no Palácio da Alvorada, em Brasília. Naquele encontro, de acordo com o relato de Delgatti, Bolsonaro endossou a suposta ideia do marqueteiro Duda Lima, de manipulação da urna eletrônica, e ainda teria prometido ao hacker um indulto presidencial.

O indulto teria o objetivo, segundo o relato, de proteger Delgatti caso tivesse problemas judiciais por conta dos ataques ao sistema eleitoral brasileiro.

Setembro de 2022 - Contato por telefone com Bolsonaro

Delgatti também relatou à CPI uma conversa por telefone com o então presidente Jair Bolsonaro, em setembro do ano passado. Segundo o hacker, um motorista a serviço da deputada Carla Zambelli foi buscá-lo em sua residência, em Ribeirão Preto, para um "assunto urgente". Ele afirmou ter encontrado a deputada em um restaurante de beira de estrada.

De acordo com o relato de Delgatti, Zambelli teria pegado um telefone "aparentemente novo" e ligado para Bolsonaro, colocando o hacker em contato com o chefe do Executivo. Nesse diálogo, Bolsonaro teria relatado a Delgatti, ainda segundo o hacker, a existência de um grampo contra o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Na ocasião, além de um suposto pedido a Delgatti para que assumisse a autoria do grampo, Bolsonaro teria novamente garantido um indulto presidencial para blindar o hacker de problemas judiciais.

-- E ele ainda disse assim: "Olha, se caso alguém te prender, eu mando prender o juiz", ele usou essa frase - relatou Delgatti à CPI.

Durante do depoimento, a defesa de Bolsonaro anunciou que entrará com queixa-crime por calúnia e difamação contra Delgatti. O advogado e ex-secretário de Comunicação do governo Bolsonaro, Fábio Wajngarten, afirmou que o "entorno primário" de Bolsonaro não praticou grampos. A defesa de Zambelli também negou as acusações.

9 de novembro de 2022 - Entrega de relatório das Forças Armadas ao TSE

Sem detalhar as datas, Delgatti afirmou ter comparecido ao Ministério da Defesa em cinco ocasiões, para reuniões com funcionários de TI e com o então ministro, general Paulo Sérgio Nogueira. De acordo com o relato, o hacker disse ter comparecido ao ministério em três ocasiões numa mesma semana, e em duas ocasiões na semana seguinte.

À época, segundo Delgatti, servidores do Ministério da Defesa inspecionavam o código-fonte das urnas eletrônicas -- o TSE havia admitido a participação de representantes das Forças Armadas em sua comissão de fiscalização e transparência das eleições. Delgatti alegou ter dado orientações aos seus interlocutores da pasta da Defesa sobre supostas vulnerabilidades no sistema eletrônico de votação.

O hacker afirmou ainda à CPI que suas sugestões serviram de base para um relatório entregue pelo Ministério da Defesa ao TSE em novembro, após o segundo turno da eleição presidencial, com sugestões de aprimoramentos no teste de integridade das urnas. O relatório, porém, não encontrou nenhum indício de fraude na eleição de 2022.

-- Eu posso dizer hoje que, de forma integral, aquele relatório tem exatamente o que eu disse, não tem nada menos e nada mais - disse Delgatti à CPI.

4 de janeiro de 2023 - Inclusão de mandado de prisão falso contra Moraes

O hacker também afirmou ter sido contatado por Zambelli para que invadisse sistemas internos do Poder Judiciário, com o objetivo de trazer à tona eventuais fragilidades. Delgatti disse ter passado quatro meses com acesso ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Com este acesso, o hacker registrou um mandado de prisão falso contra o ministro Alexandre de Moraes em janeiro deste ano.

Segundo o hacker, Zambelli fez uma série de pagamentos, no total de R$ 40 mil, para custear seus serviços, incluindo a invasão aos sistemas. A invasão fez com que Delgatti se tornasse alvo de inquérito da PF.