Política
Secretária diz que recebeu pedido de Mauro Cid para pesquisar e identificar compradores de Rolex
Maria Farani afirma que apenas intermediou negociação, mas não soube desfecho do caso
Ex-assessora da Presidência durante a gestão de Jair Bolsonaro, Maria Farani, que aparece como interlocutora de Mauro Cid em conversa por e-mail sobre a venda de um Rolex, afirmou ao GLOBO nesta sexta-feira que o tenente-coronel pediu a ela uma pesquisa na internet de contatos de possíveis compradores para o relógio.
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Farani é o remetente do e-mail enviado em inglês, em posse da CPI do 8 de Janeiro, em que o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro negocia a venda do relógio, recebido de presente em viagem oficial, pelo valor de US$ 60 mil dólares (aproximadamente R$ 300 mil).
A servidora atuava como secretária no gabinete da presidência da República e era responsável por, entre outros afazeres, enviar diariamente uma lista de aniversariantes do dia de autoridades do Poder Executivo, Legislativo e Judiciário. Segundo Farani, Cid pediu ajuda na intermediação porque ela fala inglês.
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— Por eu falar inglês, ele pediu que eu mandasse esses e-mails e, quando recebi as respostas, encaminhei para ele — disse. — Ali, eu fazia secretariado-executivo, então, eu auxiliava todas as autoridades. Se pediam para mim ou para outra pessoa, não tinha como falar ‘eu não vou fazer’— disse.
— Eu apenas intermediei, mas eu não sei com quem ele tratou. Eu repassei para ele os e-mails e foi só essa minha participação, eu não sei qual foi o desfecho disso. Não passou mais por mim — acrescentou a funcionária ao GLOBO.
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Farani era uma servidora e às vezes ajudava Mauro Cid a escrever correspondências em inglês. Em uma outra troca de e-mails, ela chegou a auxiliá-lo a redigir uma carta para uma escola norte-americana.
Na mesma época em que ela mandou o e-mail sobre a suposta tentativa de vender o relógio, outros ajudantes de ordens trocaram e-mails, também em análise pela CPI do oito de janeiro, sobre presentes recebidos pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
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Uma mensagem de 2 de junho trazia um arquivo com o título "lista de relógios" — um catálogo de mais de 30 relógios do acervo privado de Jair Bolsonaro enumerado por fabricantes — entre eles constava um Rolex.
Outro e-mail de 8 de junho vinha com um arquivo pdf com o título "Kit Rolex". No arquivo, havia a descrição de presentes dados a Bolsonaro por autoridades da Arábia Saudita, entre eles um relógio Rolex "confeccionado em ouro branco e diamantes".
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Segundo Maria Farani, o pedido do Rolex foi o único feito por Mauro Cid envolvendo a venda de um objeto.
Farani também enviou uma nota sobre a sua participação no caso:
“Exercia a função de secretariado executivo no Gabinete Pessoal da Presidência da República. A pedido de Mauro Cid, por falar inglês, realizei uma pesquisa na internet para identificar possíveis compradores de relógio. Apenas enviei os e-mails e, ao receber respostas, retransmiti ao endereço eletrônico de Mauro Cid. Não tive conhecimento do desfecho de uma eventual negociação”.
Entenda o caso
Como o GLOBO revelou na manhã desta sexta-feira, a Comissão Parlamentar de Inquérito Mista (CPMI) do 8 de janeiro analisa e-mails do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, negociando um relógio da marca Rolex recebido em uma viagem oficial.
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De acordo com o material em posse da comissão, em 6 de junho de 2022, Cid recebeu um e-mail em inglês de uma interlocutora. “Obrigado pelo interesse em vender seu rolex. Tentei falar por telefone, mas não consegui", disse ela. “Quanto você espera receber por ele? O mercado de rolex usados está em baixa, especialmente para os relógios cravejados de platina e diamante, já que o valor é tão alto. Eu só quero ter certeza que estamos na mesma linha antes de fazermos tanta pesquisa", escreveu.
Em resposta, Mauro Cid disse que não possuía o certificado do Rolex, pois “foi um presente recebido durante uma viagem oficial", e que pretendia vender a peça por US$ 60 mil (cerca de R$ 300 mil, em cotação atual). Os e-mails não detalham o contexto do recebimento do relógio.
Joias de Bolsonaro
Em outubro de 2019, durante uma visita à Arábia Saudita, o então presidente Jair Bolsonaro recebeu um conjunto de joias, composto por um Rolex, um anel, uma caneta e um rosário islâmico, do rei Salman bin Abdulaziz Al Saud.
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Em 6 de junho de 2022, mesma data do e-mail em que Mauro Cid negocia um relógio, o Rolex recebido por Bolsonaro foi encaminhado para o gabinete da Presidência da República, segundo documentos que estão em posse da CPI. O Gabinete Adjunto de Documentação Histórica da Presidência, que cuida do acervo, recebeu o relógio em 27/03/2020.
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