Política

'Não banalizo a tribuna' e 'falar só por falar': as justificativas da 'bancada do silêncio', sem discursos na Câmara

Foco da interlocução está nos bastidores, e excessos fazem parte de estratégia dos apoiadores do ex-presidente para as redes sociais

Agência O Globo - GLOBO 01/08/2023
'Não banalizo a tribuna' e 'falar só por falar': as justificativas da 'bancada do silêncio', sem discursos na Câmara
André Janones - Foto: Câmara dos Deputados

Longe da tribuna do plenário da Câmara dos Deputados, parlamentares que não usaram o espaço para discursar no primeiro semestre do ano alegam que "não banalizam o uso da tribuna" e que "não vão falar só por falar". Levantamento do GLOBO publicado nesta terça-feira mostra que 87 dos 513 deputados federais não chegaram ao púlpito para emitir posicionamentos nos primeiros seis meses da nova Legislatura.

Muito ativo nas redes sociais, o deputado federal André Janones (Avante-MG) foi um dos parlamentes que não usou o espaço para se manifestar politicamente no começo do ano. Ao GLOBO, ele afirmou:

— Não banalizo o uso da tribuna. Só a uso para mobilizar a população ou tentar convencer meus colegas de algum ponto de vista — explicou Janones.

Já o deputado federal Celso Russomanno (Republicanos-SP) argumenta que, por ter uma atuação política mais focado na Comissão de Defesa do Consumidor, onde foi o deputado que mais discursou, mas também reforça que a distância do púlpito do plenário não reflete baixa participação legislativa:

— Não vou falar só por falar. Vou discursar quando tiver algo realmente importante a dizer.

Os dados analisados são da própria Câmara, que contabiliza e registra a íntegra dos discursos. A maior parte das explanações também é transmitida ao vivo pela TV Câmara e disponibilizada em tempo real pelo aplicativo (Infoleg). O levantamento mostra ainda que, no período analisado, 50 deputados falaram na tribuna em apenas uma ocasião, enquanto outros 36 só usaram duas vezes o espaço.

Já o agora deputado licenciado Celso Sabino (União-PA) para a cadeira de ministro do Turismo quase não chegou ao púlpito do plenário. Em seis meses, ele esteve na tribuna uma única vez. Longe dos microfones, e tendo como aliado o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) — dono de 14 discursos —, Sabino articulou para ingressar na Esplanada de Lula, no momento em que o petista busca consolidar sua base no Congresso com o apoio do Centrão.

Em sua sexta legislatura, Carlos Sampaio (PSDB-SP) está no rol dos que “optaram pelo silêncio” no plenário, sob a justificativa de que atua em atividade internas da Casa. Ele destaca ainda que a forma de se comunicar com a sociedade mudou:

— Como ouvidor-geral da Câmara, achei que deveria deixar a tribuna para os meus pares. Além disso, vejo nas redes sociais um caminho muito mais ágil e eficiente para falar com meus eleitores.

Também presentes como exemplos de quem não pôs os pés na tribuna, o ex-presidente do PT Rui Falcão, que comanda a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, e Tiririca foram procurados, mas não responderam.