Política

Senador pede à PF abertura de inquérito contra Mauro Cid após Coaf apontar movimentação financeira de R$ 3,2 milhões

Como revelado pelo GLOBO, relatório do órgão de combate à lavagem de dinheiro mostrou movimentação de R$ 3,2 milhões em seis meses de ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que tem remuneração de R$ 26 mil

Agência O Globo - GLOBO 31/07/2023
Senador pede à PF abertura de inquérito contra Mauro Cid após Coaf apontar movimentação financeira de R$ 3,2 milhões
Waldemir Barreto/Agência Senado - Foto: Em discurso, à tribuna, senador Jorge Kajuru (PSB-GO).

O senador Jorge Kajuru (PSB-GO), vice-líder do governo no Senado, pediu à Polícia Federal a abertura de um inquérito para apurar possíveis indícios de lavagem de dinheiro nas contas do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro. O militar está preso e é investigado pela Polícia Federal por participar de um esquema de supostas fraudes no cartão de vacina e por manter conversas de teor golpista.

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A reportagem procurou a defesa de Mauro Cid para comentar o pedido à PF, mas não teve resposta até a publicação desse texto.

Como o GLOBO revelou, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão de combate à lavagem de dinheiro, apontou movimentação “atípica” e “incompatível” nas contas bancárias do ex-ajudantes de ordens.

Ao analisar as transações financeiras de Cid, o Coaf registrou que o militar movimentou R$ 3,2 milhões em seis meses — de 26 de julho de 2022 a 25 de janeiro de 2023. Nesse período, ele registrou operações de R$ 1,4 milhão em débitos e R$ 1,8 milhão em créditos. Militar da ativa, o tenente-coronel recebe mensalmente uma remuneração de R$ 26.239.

“A ilicitude é clara e salta aos olhos, visto que Mauro Cid recebia R$ 26 mil de salário bruto, algo em torno de R$ 17 mil líquidos, portanto a movimentação milionária detectada pelo COAF é totalmente incompatível com sua atividade profissional”, escreve Kajuru no pedido.

O pedido de Kajuru é para uma investigação das contas desde o início do mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro em 2019 até o final em 2022.

Por uma limitação jurídica, a CPI não só pode investigar e pedir dados referentes ao marco temporal de 8 de janeiro de 2023.

“Se o coronel Mauro Cid movimentou R$ 3,2 milhões em seis meses (26/07/2022 e 25/01/2023), quantos milhões ele movimentou nos quatro anos do mandato de Jair Messias Bolsonaro? Essa pergunta precisa ser respondida. Seria muita ingenuidade sugerir que a movimentação milionária aconteceu somente entre julho de 2022 e janeiro de 2023”, diz o senador no pedido para justificar o recorte temporal.

Entre as operações destacadas pelo Coaf, está o envio de remessas aos Estados Unidos no valor de R$ 367.374 em 12 de janeiro de 2023 — data em que Cid e Bolsonaro se encontravam naquele país. Os dois saíram do Brasil no fim de 2022 e não acompanharam a transmissão do cargo para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“Considerando a movimentação elevada, o que poderia indicar tentativa de burla fiscal e/ou ocultação de patrimônio e demais atipicidades apontadas, comunicamos pela possibilidade de constituir-se indícios do crime de lavagem de dinheiro ou com ele relacionar-se”, diz trecho do relatório.

O Coaf também chamou a atenção para quatro pessoas que fizeram transações com Mauro Cid. Entre elas, há um “caixeiro viajante”, um “ourives”, um tio de sua esposa e o sargento Luis Marcos dos Reis, que era subordinado do ex-ajudante de ordens na Presidência e também é investigado pela Polícia Federal.