Poder e Governo

Presidente da CCJ do Senado condiciona avanço do projeto da Dosimetria à restrição ao 8 de janeiro

Senador Otto Alencar afirma que texto aprovado pela Câmara "não passa" como está, defende veto de Lula e reconhece brechas que podem beneficiar condenados por outros crimes violentos.

Agência O Globo - 15/12/2025
Presidente da CCJ do Senado condiciona avanço do projeto da Dosimetria à restrição ao 8 de janeiro
Presidente da CCJ do Senado condiciona avanço do projeto da Dosimetria à restrição ao 8 de janeiro - Foto: Mário Agra/Câmara dos Deputados

O senador Otto Alencar (PSD-BA) afirmou nesta segunda-feira que o projeto da Dosimetria só terá condições de avançar no Senado se for expressamente restrito aos condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Em entrevista à GloboNews, o parlamentar declarou que o texto aprovado pela Câmara "não passa" da forma como chegou ao Senado e concordou com a avaliação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que a proposta deve ser vetada caso não seja corrigida.

Segundo Otto, seria "uma temeridade" aprovar o projeto com a redação atual. Ele destacou que qualquer alteração precisa deixar claro que o benefício se aplica apenas aos réus do 8 de janeiro, sem abrir margem para redução de pena em outros tipos penais. O senador também afirmou que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), está alinhado a esse encaminhamento ao enviar a matéria para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

— Eu tenho certeza absoluta de que, do jeito que está, esse texto não passa. Seria uma temeridade aprová-lo, e eu concordo com o presidente Lula em vetar o projeto da forma como veio para o Senado — reforçou Otto.

A posição do senador ocorre em meio a críticas de colegas parlamentares, juristas e integrantes do governo ao conteúdo da proposta aprovada pela Câmara. Conforme reportou o jornal O Globo, o texto não se limita aos crimes relacionados aos atos antidemocráticos e altera regras da Lei de Execução Penal, permitindo a progressão de regime com 16% da pena cumprida para uma série de crimes cometidos com violência ou grave ameaça, que atualmente exigem 25%.

Na prática, a redação aprovada pelos deputados pode beneficiar condenados por delitos como exploração violenta da prostituição, interferência violenta em licitações, incêndio doloso, resistência, coação no curso do processo e atentado à soberania nacional, além dos crimes de tentativa de golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.

Durante a entrevista, Otto relatou ter conversado com senadores como Renan Calheiros (MDB-AL), Eduardo Braga (MDB-AM), Omar Aziz (PSD-AM), Alessandro Vieira (MDB-SE) e Esperidião Amin (PP-SC). Segundo ele, há disposição no Senado para examinar o texto "item por item" e barrar qualquer solução que mantenha as brechas apontadas desde a tramitação na Câmara.

O projeto da Dosimetria foi aprovado pelos deputados com 291 votos a favor e 148 contra, chegando ao Senado sob a justificativa de corrigir penas impostas aos condenados pelos atos de 8 de janeiro. No entanto, a redação ampliou o alcance da medida e passou a ser vista, inclusive por aliados do governo e da oposição, como um risco de afrouxamento generalizado da execução penal.

O senador Esperidião Amin deve apresentar seu relatório na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) nesta quarta-feira. Existe a possibilidade de a votação ocorrer no mesmo dia, mas, caso haja resistência, a análise pode ser adiada para a próxima semana.