Poder e Governo

'Operação bem-sucedida' x 'Foram para assassinar': evento sobre segurança expõe racha no PT do Rio

Pré-candidata ao Senado, Benedita da Silva criticou ação policial que deixou 121 mortos no Rio; dirigente rival pediu para partido deixar de 'demagogia'

Agência O Globo - 02/12/2025
'Operação bem-sucedida' x 'Foram para assassinar': evento sobre segurança expõe racha no PT do Rio
Benedita da Silva - Foto: Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados

O , nesta segunda-feira, expôs o racha do partido na definição de candidaturas ao Senado no Rio. Dividindo a mesa de abertura, a deputada federal Benedita da Silva e o presidente do diretório estadual, Diego Zeidan, apresentaram visões opostas sobre a na capital fluminense.

Disputa e piada sobre 'imbrochável':

Os dois representam alas do partido que, embora concordem sobre a de 2026, divergem no posicionamento que deve ser adotado por candidatos petistas, o que influencia a definição do nome que será lançado ao Senado no estado.

Diego, que é filho do vice-presidente nacional petista Washington Quaquá, afirmou no evento que a megaoperação "foi bem-sucedida" e que o PT não pode "ter demagogia de achar que a polícia não pode entrar com arma" em favelas sob domínio de grupos criminosos.

Em uma crítica à atuação do governo do Rio, o dirigente petista também afirmou que o estado "tem que entrar com combate, mas também com acolhimento da população vulnerável".

— Não podemos cometer o erro de ser contra um tipo de operação como essa. O povo sofre muito com a perda do direito de ir e vir. A violência é sofrida pelos moradores de favelas por conta dos dois agentes: sofre violência do traficante e também da polícia. (...) A crítica que eu faço a essa operação, que na minha opinião foi bem-sucedida, é no dia seguinte o Estado sair da favela. Não foi nenhuma autoridade visitar a favela, nem do estado, nem da prefeitura — afirmou Diego.

Benedita, por sua vez, afirmou que os policiais "foram para assassinar" na megaoperação e afirmou que "é muito fácil criar uma consciência bélica e promover um apartheid" nas favelas, se contrapondo à fala do correligionário. Ela argumentou que o caminho correto seria prender, e não matar, pessoas investigadas por envolvimento com o crime organizado.

— Aqui no Rio de Janeiro, nós, que conhecemos esse estado e a favela, sabemos perfeitamente como as coisas aconteceram. E elas aconteceram pela ausência total do Estado na formação das comunidades, que surgiram pelo êxodo de pessoas que vieram para trabalhar na construção e na modernização da cidade, e depois não tinham onde morar. (...) Quem errou, (que se) prenda, dê a sentença. Essa é a política que temos que fazer — disse a deputada.

'Futura senadora'

Benedita foi apresentada no evento como "futura senadora" pelo presidente nacional do PT, Edinho Silva, que também afirmou que o PT não pode "abrir mão de seus princípios humanistas" para "fazer coro com o pensamento majoritário" sobre segurança pública.

Após a apresentação, em entrevista a jornalistas, Benedita disse que o candidato ao Senado no Rio precisa ser "quem tiver mais em condição com relação ao programa do partido". Edinho, em sua fala no seminário, disse que "às vezes é difícil enfrentar a opinião pública", em uma referência a pesquisas que mostraram aprovação popular à megaoperação no Rio, mas defendeu que "esse é o papel do PT".

— Um partido como o nosso não pode ter medo, nem ser hegemonizado pelo senso comum. Não podemos, porque a sociedade está reproduzindo determinado pensamento, abrir mão do que nos trouxe até aqui para fazer coro ao senso comum. Queremos uma política de segurança pública, mas não podemos bater palma para 121 corpos negros estirados no chão, o que mostra que o Estado falhou. Nós devemos ter vergonha do que aconteceu, e não fazer coro com o pensamento majoritário — afirmou o presidente do PT.

Já o grupo de Diego e Quaquá defende uma candidatura do sambista Neguinho da Beija-Flor ao Senado e tenta barrar o movimento de Benedita. A deputada tem o apoio de nomes como o ex-deputado André Ceciliano e o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias. Ambos são rivais de Quaquá na política interna do partido, e vêm trocando farpas publicamente com o dirigente petista nos últimos meses.

Diego, que já foi vice-prefeito de Maricá, também aproveitou o seminário de segurança pública do PT para defender o armamento das guardas municipais, medida que vem sendo adotada no município — hoje governado por seu pai, Quaquá.

Edinho, por sua vez, que foi prefeito de Araraquara (SP), arrancou aplausos do público ao frisar, depois da fala de Diego, que a "minha guarda municipal é desarmada". O presidente do PT argumentou ter colhido bons resultados em segurança pública em Araraquara com o uso de cerca de 3 mil câmeras de monitoramento pela cidade.