Poder e Governo
Secretário nacional critica equiparação de facções a terroristas e defende retomada de territórios
Mário Sarrubbo, do Ministério da Justiça, anuncia diálogo com o governo do Rio para ampliar programa de expulsão de facções e condena projeto que inclui traficantes na Lei Antiterror
O secretário nacional de Segurança Pública, Mário Sarrubbo, criticou a megaoperação policial no Rio de Janeiro que resultou em 121 mortes, destacando que a ação não teve como objetivo a retomada de territórios dominados por facções, medida considerada essencial para desmantelar o crime organizado. Em entrevista ao GLOBO, Sarrubbo, integrante do Ministério da Justiça e Segurança Pública, defendeu a expansão do programa federal de ocupação de áreas sob controle do tráfico, que será discutido com o governo fluminense.
Na esfera legislativa, o secretário classificou como "incoerente e desonesta" a proposta que equipara facções criminosas a organizações terroristas. "Essas facções não têm nenhum viés terrorista. O problema do crime organizado não é falta de cooperação internacional. Reconhecer como terrorista não facilita nada", afirmou. Sarrubbo citou o exemplo das máfias italianas, que nunca foram consideradas terroristas: "O terrorismo é um conceito ligado a projetos políticos, raça, religião. As facções são negócios: querem ganhar poder e dinheiro."
Sobre o projeto antifacção, Sarrubbo destacou a necessidade de atualização da legislação para refletir a realidade atual, com territórios dominados e controle de mercados antes pertencentes ao Estado e à sociedade civil. "É preciso agir em várias frentes e com base em evidências e dados, abandonando o populismo na discussão da segurança pública", defendeu.
Questionado sobre a operação no Rio, Sarrubbo avaliou que o sucesso deveria ser medido pela prisão de criminosos, não pelo número de mortes. "Operação de sucesso é aquela sem mortos, com poucos feridos e com prisões que possibilitem investigações e produção de inteligência para ações futuras. Não é simples em comunidades grandes, mas é preciso desestruturar as facções de forma estratégica."
O secretário afirmou que a operação não visava a retomada territorial, mas sim o cumprimento de cerca de 90 mandados de prisão. "Para retomar território, a polícia precisa entrar, permanecer e saturar a área. As pessoas dessas comunidades pedem socorro e precisamos transformar essa realidade", disse.
Sarrubbo revelou que o governo federal pretende focar em inteligência financeira, estradas e divisas, além de operações como a "Carbono Oculto" para seguir o dinheiro do tráfico. Ele ressaltou o papel da sociedade civil no combate ao crime organizado, alertando que até a compra de produtos falsificados alimenta esse mercado ilegal.
Sobre a atuação conjunta com o governo do Rio, Sarrubbo informou que há conversas para identificar áreas que necessitam de reforço policial e que projetos mais estruturantes serão implementados gradualmente. O secretário também anunciou o lançamento da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Armas, Munições e Explosivos, inicialmente com foco no Rio, mas com expansão prevista para todo o país, integrando delegacias especializadas, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Exército.
Por fim, Sarrubbo destacou uma experiência positiva de retomada territorial no Rio Grande do Norte, que deverá ter resultados anunciados em breve e poderá ser replicada no Rio de Janeiro.
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