Poder e Governo

“Vamos jogar o jogo”: secretário Júlio Cezar subiu o tom e tentou coagir subtenente da reserva com chantagem velada

Mensagens enviadas à noite mostram tentativa de coerção para que o militar se posicione a favor do secretário, sob ameaça de devolução de valores recebidos enquanto atuava na Prefeitura

Redação 06/11/2025
“Vamos jogar o jogo”: secretário Júlio Cezar subiu o tom e tentou coagir subtenente da reserva com chantagem velada
Secretário de Estado é o "stalker" de miilitar que exercia cidadana nas redes sociais - Foto: Reprodução

As ameaças e intimidações feitas pelo atual secretário de Estado de Relações Federativas e Internacionais, Júlio Cezar, contra o subtenente da reserva do Exército Brasileiro, James Cavalcante Ferreira, ganharam novos capítulos. Mesmo após o registro do boletim de ocorrência por assédio moral com conotação política e militar, as mensagens enviadas por Júlio Cezar mostram que as investidas contra o militar continuaram, agora em tom ainda mais provocativo.

Nas conversas obtidas pelo Tribuna do Sertão remetidas pelo militar, o secretário, que também é ex-prefeito de Palmeira dos Índios, questiona a legalidade da atuação de James Ferreira na Prefeitura e o acusa de irregularidades nas folhas de frequência, insinuando devolução de valores ao erário, inclusive mostrando à vítima os valores que ele e a mulher teriam que devolver. “Cadê suas frequências? Você poderia receber sendo aposentado e militar do Exército?”, escreveu o secretário, em mensagem acompanhada de planilhas com supostos valores recebidos.

O subtenente respondeu com firmeza, rebatendo as acusações e apontando contradições administrativas. “Quem acusa tem a obrigação de provar. Assinamos todas as folhas de frequência. Onde elas estão? Irei solicitar em juízo”, afirmou. Em outra mensagem, James reforça que militares da reserva podem ocupar cargos comissionados e de contrato, conforme prevê a legislação brasileira, e ironiza a falta de conhecimento do secretário: “Por que você acha que militares da reserva podem ser ministros?”

O militar ainda destacou que sempre cumpriu suas funções e que o próprio ex-prefeito tinha plena ciência de sua atuação. “Durante o tempo em que trabalhei, coloquei meu carro à disposição da Prefeitura diversas vezes, sem receber sequer combustível”, relatou, defendendo também a atuação de sua esposa, profissional de saúde que atuou na linha de frente da pandemia.

A troca de mensagens reforçou o uso do poder político e institucional para constranger um militar da reserva, configurando um quadro de intimidação continuada mesmo após a denúncia formal. O subtenente afirmou que irá à Justiça para exigir as folhas de frequência e comprovar sua assiduidade, além de acionar o Ministério Público por novas ameaças.

O Tribuna do Sertão procurou o secretário Júlio Cezar para responder. À reportagem ele se limitou a dizer que iria respondê-lo na Justiça.

No final da tarde de ontem (05), o secretário de estado resolveu se justificar nas redes sociais. Em vídeo o secretário de Estado e ex-prefeito de Palmeira dos Índios, Júlio Cezar, negou as acusações de ameaça e intimidação feitas pelo subtenente da reserva James Cavalcante Ferreira, atribuindo-as a motivações políticas e a uma suposta revolta pessoal do militar por não ter sido mantido na gestão atual.

Durante o pronunciamento, o secretário acusou o subtenente de perseguição, fez insinuações sobre sua vida pessoal e religiosa, e anunciou que vai acioná-lo judicialmente por divulgar conversas privadas, citando o artigo 153 do Código Penal. Júlio também afirmou confiar na Justiça e disse que “corrigirá as injustiças” em juízo.

Ao mesmo tempo, procurou politizar o caso, dizendo ser alvo de perseguição há oito anos e relacionando a repercussão ao contexto eleitoral de 2026, afirmando que “nada tirará seu foco”.

As contradições, porém, são evidentes:

  • Ao negar ameaças, o secretário mantém o tom de intimidação, dizendo que o subtenente “terá um encontro comigo nas barras da justiça”.
  • Alega confiar na Justiça, mas tenta desqualificar o denunciante com ofensas pessoais.
  • Defende transparência, mas ataca quem divulgou provas das mensagens que ele mesmo enviou.

A defesa do atual secretário e ex-prefeito, ao tentar inverter o foco das acusações, acabou reforçando o caráter político e coercitivo do episódio que originou a denúncia.