Poder e Governo

Operação policial no Rio teve impacto 'ínfimo' contra Comando Vermelho, afirma oficial de inteligência da PM-RJ ao Congresso

Daniel Ferreira de Souza reconheceu o valor simbólico da ação, mas admite que operação não enfraqueceu facção criminosa

Agência O Globo - 06/11/2025
Operação policial no Rio teve impacto 'ínfimo' contra Comando Vermelho, afirma oficial de inteligência da PM-RJ ao Congresso

O subsecretário de Inteligência da Secretaria de Estado de Polícia Militar do Rio de Janeiro, Daniel Ferreira de Souza, afirmou nesta quarta-feira que a megaoperação realizada no Rio teve relevância principalmente no campo simbólico, mas apresentou resultado "ínfimo" para desarticular o poder do Comando Vermelho no Estado. A declaração foi dada durante reunião da Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência (CCAI), no Senado.

— Aquela grande operação teve um resultado impressionante à vista dos números, mas que ainda assim foi algo ínfimo dentro do poder do Comando Vermelho e das outras facções na estrutura do Rio de Janeiro. Então, isso não resolveu. Foi importante a nível simbólico para o Estado mostrar que ele é capaz de entrar em qualquer local, porque uma das bandeiras que era vendida, muito por conta da ADPF (das favelas), é que havia locais onde não era possível o Estado entrar — destacou o subsecretário, representante do governo do Rio de Janeiro no colegiado.

O oficial explicou ainda que essa narrativa era utilizada pelo Comando Vermelho para atrair lideranças criminosas de outros Estados. Entre os alvos da operação estavam integrantes do Pará, Bahia, Ceará e Amazonas.

A megaoperação das Polícias Civil e Militar do Rio resultou em mais de 121 mortos e 113 presos nos Complexos da Penha e do Alemão, sendo classificada como a ação policial mais letal da história do Estado. O governador Cláudio Castro (PL) considerou a operação um "sucesso" e um duro golpe contra o Comando Vermelho.

Diante dos parlamentares da CCAI, Daniel Ferreira reforçou que a ação buscava minar a "retórica do Comando Vermelho" disseminada nacionalmente.

— Então, se essa operação não vai resolver o problema, nós sabemos que não vai, ao mesmo tempo mostrou que a retórica que o Comando Vermelho usava para conseguir converter e atrair lideranças do Brasil foi subvertida e o Estado entra em qualquer lugar de fato.

O subsecretário também ressaltou a necessidade de maior integração federativa no combate ao crime organizado: "Logicamente, a gente precisa do apoio federal e nós o temos, mas precisamos aumentar essa integração. Se o Brasil não se ver como um país que possui países e Estados dentro do próprio Estado, talvez estejamos fadados a muitos problemas e talvez mortes de brasileiros", concluiu.

Na mesma sessão, o delegado da Polícia Federal Leandro Almada, chefe da Diretoria de Inteligência Policial (DIP) e ex-superintendente da PF no Rio, criticou o “custo imenso” da operação em relação à perda de vidas de agentes de segurança.

— O problema é que o Estado não precisa entrar, mas estar. Eu não consigo tachar como um sucesso uma operação em que você teve quatro enterros no dia seguinte. Uma ação dessa, com um custo imenso para as famílias dos policiais, teria que ter um resultado efetivo. E não entrar lá e, dois meses depois, fazer a mesma coisa. O que mudou efetivamente para o cidadão que mora lá? — questionou o delegado.