Poder e Governo

CPI do Crime Organizado mira líderes do PCC, diretor da Abin e presidente do Coaf

Convocações e convites incluem também governadores e especialistas em segurança; comissão inicia trabalhos focada em facções e lavagem de dinheiro

Agência O Globo - 06/11/2025
CPI do Crime Organizado mira líderes do PCC, diretor da Abin e presidente do Coaf

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Crime Organizado, recém-instalada no Senado sob a presidência do senador Fabiano Contarato (PT-ES), iniciou a semana com uma série de requerimentos para convocação e convite de autoridades, governadores e especialistas. Entre os pedidos apresentados estão o de ouvir lideranças do Primeiro Comando da Capital (PCC), o diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa, e o presidente do Coaf, Ricardo Saadi.

As solicitações partem de senadores de diferentes espectros políticos e precisam ser pautadas e aprovadas para terem efeito. Na terça-feira, outros requerimentos do relator Alessandro Vieira (MDB-SE) já foram aprovados. Vieira pretende elaborar um “mapa das facções criminosas” no país, com base em informações fornecidas por órgãos de inteligência e segurança pública.

Dentre os novos requerimentos, destacam-se os pedidos de convocação de detentos apontados como integrantes da cúpula do PCC, apresentados pelo senador Marcos do Val (Podemos-ES). A lista inclui:

Alejandro Herbas Camacho Júnior, o Marcolinha, considerado interlocutor do PCC com o Comando Vermelho;

Júlio César Guedes de Moraes, o Julinho Carambola, apontado como braço direito de Marcola;

Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, preso em 2020 em Moçambique e suspeito de comandar o tráfico internacional de drogas da facção.

Do Val também propôs a oitiva de Roberto Augusto Leme da Silva, apontado pelo Ministério Público como responsável por um esquema bilionário de lavagem de dinheiro do PCC no setor de combustíveis.

Entre os pedidos assinados pelo senador Angelo Coronel (PSD-BA) estão convites para:

Luiz Fernando Corrêa, diretor-geral da Abin, detalhar ações de inteligência no combate ao crime organizado;

Ricardo Saadi, presidente do Coaf, explicar o rastreamento de movimentações financeiras de facções;

Andrei Rodrigues, diretor-geral da Polícia Federal, relatar as operações de repressão;

Ricardo Lewandowski, ministro da Justiça, esclarecer a atuação do governo federal na área de segurança pública.

Esses requerimentos ampliam o escopo da CPI, que busca avaliar a coordenação entre órgãos de investigação e inteligência, além das falhas orçamentárias apontadas por Vieira em seu plano de trabalho.

O senador Jorge Kajuru (PSB-GO) protocolou pedidos para ouvir os governadores Cláudio Castro (PL-RJ) e Ronaldo Caiado (União-GO). No caso do Rio de Janeiro, o requerimento menciona a operação policial que resultou em 121 mortes nos complexos do Alemão e da Penha, solicitando esclarecimentos sobre a atuação das forças de segurança e eventuais ligações de agentes públicos com milícias.

A ofensiva de requerimentos ocorre em um momento em que o governo busca controlar o rumo da CPI, após a vitória na disputa pela presidência do colegiado.

A despeito disso, a oposição promete utilizar as convocações para pressionar o Planalto — especialmente após as declarações do presidente Lula, que classificou como “matança” a operação policial no Rio.

Nos bastidores, aliados de Contarato afirmam que o objetivo é evitar que a comissão se torne um palanque político, enquanto o relator Alessandro Vieira defende “serenidade e rigor técnico” nas oitivas.