Poder e Governo
Em livro, Boulos prega discurso bélico nas redes
Aposta do governo para relação com movimentos, ministro defende ‘gerar indignação’ para disputar atenção com a direita
No livro “Pra onde vai a esquerda?”, lançado em julho, o novo ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos (PSOL), que recebeu a missão de aproximar o governo Lula das “ruas” até as eleições de 2026, defende ser “inescapável” adotar uma postura beligerante nas redes sociais e gerar indignação para disputar a hegemonia nas plataformas com o campo da direita. O agora integrante do Planalto também rejeita adotar o “centrismo” como forma de atrair apoio de outros setores da sociedade, ao mesmo tempo que prega uma composição com o campo para uma frente ampla.
Luiz Fux:
'Vergonhoso':
“Quando atacávamos adversários (em campanhas) e mostrávamos situações indignantes, o engajamento explodia. É claro que esta é a lógica do algoritmo das redes, que não necessariamente reflete o conjunto complexo dos sentimentos na sociedade. Mas, para disputar a hegemonia digital, é uma lógica inescapável”, escreve o político do PSOL.
O diagnóstico faz parte de um dos três pontos que Boulos elenca para justificar como a extrema direita passou a dominar as redes: a compreensão do algoritmo, mais propenso a postagens que despertam raiva do que a pautas positivas. Os outros dois motivos, segundo o ministro, são a unidade narrativa daquele campo político e a formação de um “ecossistema próprio” para promover a guerra cultural.
No texto publicado pela editora Contracorrente, Boulos sentencia que a esquerda vive um “estado de confusão e apatia”, mesmo quando é governo. A capacidade de pautar o debate público e de mobilização, avalia, está “do lado de lá”.
Ao traçar uma análise histórica do que levou ao avanço da extrema direita, o ministro se debruça sobre pautas com as quais lidará no ministério, como a fragmentação do mundo do trabalho, marcado por trabalhadores de aplicativo e mudanças nos vínculos profissionais. Ontem, em entrevista à GloboNews, o chefe da pasta confirmou que Lula impôs a ele a missão de conversar com a “nova classe trabalhadora”. Recentemente, o ministro chegou a lançar mão nas redes de uma espécie de guerra cultural contra o iFood, uma das principais empresas do setor delivery.
Boulos dá motivos para explicar a ascensão de bandas radicais da direita no mundo. Além da pulverização das relações de trabalho e da ascensão das redes, cita a crise das democracias liberais, a reação conservadora a mudanças culturais e a sensação permanente de insegurança. Para ele, os progressistas precisam saber dar uma resposta ao brasileiro que se revolta ao ser vítima de um crime.
Armadilhas para esquerda
A esquerda também precisa evitar cair em duas armadilhas, indica o ministro. A primeira é o que chama de “centrismo”: a ideia de que é preciso abandonar pautas progressistas para atrair outros setores da sociedade. Aqui, diz, o risco é desaparecer enquanto campo político, já que “quem não é visto não é lembrado”.
A outra é o “sectarismo”, como classifica quem rechaça a formação de alianças com partidos de centro e prega uma radicalização do discurso. Afinal, explica Boulos, virar de centro e compor com o centro são movimentos diferentes, e a vitória de Lula em 2022 seria exemplar da possibilidade de formar uma frente ampla para frear a extrema direita.
Com Lula eleito, três setores passaram a “cercá-lo”, aponta o aliado: a Faria Lima “e sua política fiscal”; o Centrão, “ávido por ampliar o sequestro do Orçamento Federal por meio das emendas parlamentares”; e, claro, o bolsonarismo.
Para combater as desigualdades e “encurralar” a extrema direita, o ministro dá algumas senhas: enfrentar as taxas de juros e o que chama de “agiotagem financeira”; denunciar a “especulação” no preço dos alimentos; lutar pelo fim da escala 6x1; e “desmascarar”, assim, o campo político oposto, que ficará sempre “ao lado dos bilionários”. Além dos fatores globais que enumera para justificar como a extrema direita virou realidade, Boulos avalia que o caso brasileiro contou com componentes adicionais, como o avanço da teologia da prosperidade e o discurso antipolítica na Lava-Jato.
Em relação aos evangélicos, o ministro constrói uma leitura otimista e vislumbra caminhos para a reaproximação da esquerda com os fiéis. Um deles seria via defesa de políticas públicas, “lembrando que o perfil da massa evangélica é de trabalhadores, a maioria negros, que vivem em periferias urbanas com precariedade de serviços essenciais”. O outro, pelo que chama de sintonia aos “valores cristãos”, por meio de pautas como redução do acesso a armas de fogo e combate à fome.
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