Mundo Científico
'Baiaconha'? Como golfinhos usam baiacus para buscar efeitos psicoativos, segundo estudos
Pesquisadores australianos documentam comportamento surpreendente: golfinhos manipulam peixes tóxicos para experimentar possíveis efeitos narcóticos
O comportamento curioso de golfinhos interagindo com baiacus — peixes conhecidos por sua potente toxina — vem intrigando cientistas e despertando o interesse do público. Estudos da Universidade de Murdoch, na Austrália, e imagens do documentário Dolphins – Spy in the Pod, da BBC, registraram jovens golfinhos na costa australiana manipulando baiacus de maneira aparentemente intencional para experimentar efeitos psicoativos.
Nas redes sociais, internautas brincam com a ideia dos golfinhos “chapados”, mas a ciência mostra que o fenômeno vai além da diversão. Os animais parecem saber exatamente como manusear o baiacu para estimular efeitos narcóticos sem se expor a riscos graves. Passando o peixe de boca em boca, eles flutuam na superfície, observam o próprio reflexo e exibem comportamentos sociais complexos — como se participassem coletivamente de uma experiência de relaxamento no oceano.
Por que eles fazem isso? Pesquisadores sugerem que a prática pode ser uma forma de combater o tédio. Golfinhos são conhecidos por sua inteligência avançada, curiosidade e criatividade, características que os levam a buscar novas experiências e tornar o cotidiano mais interessante.
O baiacu, nome comum de diversos peixes da ordem Tetraodontiformes, infla-se quando ameaçado e possui, em órgãos como fígado, ovários, pele e intestinos, a neurotoxina tetrodotoxina (TTX). Essa substância bloqueia canais de sódio nas membranas nervosas, interrompendo a transmissão de sinais entre nervos e músculos. A toxina é extremamente perigosa: pequenas doses podem causar dormência; quantidades maiores podem levar à paralisia e até à morte por insuficiência respiratória.
O documentário da BBC indica que pequenas doses de tetrodotoxina, ao serem ingeridas, podem produzir efeitos narcóticos. No entanto, ainda há debate científico sobre se os golfinhos realmente sentem uma “brisa” ou apenas uma sensação de dormência. Para o zoólogo Rob Pilley, produtor do filme, a delicadeza com que os golfinhos manipulam o baiacu demonstra intenção e cuidado: “Eles estavam especificamente e deliberadamente lidando com o peixe de forma a liberar a toxina, sem machucá-lo”.
Além do aspecto recreativo, o estudo australiano reforça a inteligência sofisticada desses mamíferos. Golfinhos vivem em grupos sociais complexos, possuem diferentes personalidades, têm nomes próprios e demonstram luto, como aponta pesquisa publicada na revista Animal Behaviour em 2020.
Krista Nicholson, da Murdoch University, destaca que alguns pesquisadores veem essa prática como uma brincadeira — semelhante ao uso ocasional de algas ou caranguejos por outros golfinhos. Ainda assim, o fenômeno revela como esses animais combinam cognição, curiosidade e interação social de formas que lembram costumes humanos.
Em meio à imensidão azul, os golfinhos mostram que comportamentos curiosos e socialmente sofisticados não são exclusividade da nossa espécie — e que a natureza também tem seu próprio senso de humor químico.
Mais lidas
-
1DEFESA NACIONAL
'Etapa mais crítica e estratégica': Marinha avança na construção do 1º submarino nuclear do Brasil
-
2ECONOMIA GLOBAL
Temor dos EUA: moeda do BRICS deverá ter diferencial frente ao dólar
-
3CRISE INTERNACIONAL
UE congela ativos russos e ameaça estabilidade financeira global, alerta analista
-
4REALITY SHOW
'Ilhados com a Sogra 3': Fernanda Souza detalha novidades e desafios da nova temporada
-
5FUTEBOL INTERNACIONAL
Flamengo garante vaga na Copa do Mundo de Clubes 2029 como quinto classificado