Internacional
EUA avaliam sanções contra aliados de Maduro que teriam 'obstruído a realização de eleições livres e justas'
Washington reconhece opositor Edmundo González como verdadeiro vencedor e critica conselho eleitoral por dar vitória ao chavista sem publicar as atas da votação

Enquanto a ordem de prisão contra o candidato opositor Edmundo González chacoalha a Venezuela e a comunidade internacional em mais um capítulo da conturbada eleição de 28 de julho, os Estados Unidos estão preparando as bases para novas sanções contra autoridades do governo da Venezuela em resposta à votação, na qual o presidente Nicolás Maduro foi proclamado vencedor pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), de maioria chavista. Os planos podem ser anunciados já nesta semana e podem mudar antes de serem finalizados.
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De acordo com documentos vistos pela Bloomberg, o Departamento do Tesouro está prestes a anunciar 15 sanções individuais contra autoridades afiliadas a Maduro que, segundo o departamento, "obstruíram a realização de eleições presidenciais livres e justas". Além disso, o Departamento de Estado planeja impor restrições de visto a 34 parentes de funcionários do governo, de acordo com duas pessoas com conhecimento do assunto, que pediram para não serem identificadas porque não estão autorizadas a falar publicamente.
As medidas têm como alvo os principais líderes que, segundo os EUA, colaboraram com Maduro para minar a votação de 28 de julho, uma lista que inclui membros da autoridade eleitoral, o Tribunal Superior da Venezuela, a Assembleia Nacional e as polícias de inteligência e inteligência militar, conhecidas como Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin) e Direção de Contrainteligência Militar (DGCIM).
De acordo com os documentos, os EUA consideram que as autoridades apoiaram Maduro na quebra de um acordo feito em outubro entre seu governo e a oposição para garantir uma votação mais livre e justa, o chamado Acordo de Barbados. No âmbito do acordo, Washington chegou a suspender as sanções contra o petróleo e o gás venezuelano, que acabaram sendo retomadas após os candidatos da oposição terem sido impedidos de concorrer à Presidência.
Entre os que deverão ser sancionados estão o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil; Héctor Rodríguez, governador do estado de Miranda e um dos principais negociadores de Maduro; a presidente da Suprema Corte, Caryslia Rodríguez; a diretora do conselho eleitoral, Rosalba Gil; e o vice-presidente da Assembleia Nacional, Pedro Infante. A lista também incluiria um grupo de oficiais militares por trás da repressão, perseguição, prisão e tortura de dissidentes de Maduro.
Os EUA também estão preparando um grupo separado de sanções contra os principais financiadores do regime, disseram as fontes.
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Um assessor de imprensa do Departamento do Tesouro se recusou a comentar, e um representante do governo da Venezuela não respondeu aos pedidos de comentários. Um funcionário do Departamento de Estado disse que a agência não avisa com antecedência sobre ações de sanções. A Bloomberg também não conseguiu contatar os supostos alvos das sanções imediatamente na segunda-feira.
Onda de sanções
Desde 2005, Washington impôs sanções a indivíduos e entidades da Venezuela "que participaram de ações criminosas, antidemocráticas ou corruptas", segundo um documento do Congresso dos EUA. Foi durante o governo Donald Trump que elas foram reforçadas significativamente. Em 2019, após os EUA acusarem Caracas de fraudar a eleição presidencial, o ex-presidente Donald Trump impôs diversas punições ao setor petroleiro do país visando a queda de Maduro. Na época, Washington reconheceu a autoridade de Juan Guaidó, ex-presidente da Assembleia Nacional da Venezuela que se autoproclamou chefe de Estado do país.
A última onda de sanções ocorreu um mês após o CNE declarar Maduro reeleito para um terceiro mandato consecutivo sem mostrar as atas que sustentem o resultado, enquanto a oposição, liderada por María Corina Machado, defende que o verdadeiro vencedor é o seu candidato, o ex-diplomata Edmundo González. Os líderes opositores criaram um site para publicar as cópias das atas a qual eles alegam terem dito acesso e que, segundo afirmam, mostram a vitória acachapante de González. Os EUA e outros países também questionaram a legitimidade da contagem dos votos do CNE, e alguns aliados de Maduro, incluindo o Brasil e a Colômbia, que se propuseram a mediar um acordo entre situação e oposição, pediram ao governo que publicasse as atas da votação.
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As atas da oposição são consideradas "forjadas" por Maduro, embora o Centro Carter, um dos poucos observadores internacionais do processo eleitoral na Venezuela, tenha afirmado que essas atas são "consistentes" e que González venceu de maneira clara e "por uma margem intransponível". A reeleição do chavista também instigou protestos por Caracas e outras cidades venezuelanas, que deixou 27 mortos e pelo menos 192 feridos. Estimativas apontam ainda que mais de 2,4 mil venezuelanos foram presos, incluindo mais de cem menores de idade, dos quais 86 foram libertados no final de semana, na mais feroz repressão ao longo dos 11 anos do governo Maduro.
Mandado de prisão contra González
Na segunda-feira, a Justiça venezuelana acatou o pedido do Ministério Público que determinou a prisão de González, cuja vitória também foi reconhecida pelos EUA e outros países. O ex-diplomata de 75 anos é acusado de usurpação de funções, falsificação de documentos públicos, instigação à desobediência às leis, conspiração, "sabotagem de danos aos sistemas" (sic) e associação no pedido de prisão entregue pelo promotor Luis Ernesto Dueñez, encarregado da 58ª Promotoria Nacional, ao Primeiro Tribunal Especial de Primeira Instância, com jurisdição sobre casos de terrorismo.
María Corina reagiu ao mandado de prisão afirmando que o o governo "perdeu a noção da realidade". Os EUA, através do chefe da diplomacia americana para a América Latina e o Caribe, Brian Nichols, o chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, e nove países da América Latina — Argentina, Costa Rica, Equador, Guatemala, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai — também rechaçaram a ordem.
Mas, apesar de toda a pressão, o presidente disse que só entregará a Presidência para outro "presidente chavista".
— Eu sou o primeiro presidente chavista e, quando eu entregar o comando, quando chegar a hora, eu o entregarei a um presidente chavista — declarou em encontro com lideranças do Partido Socialista Unido da Venezuela (Psuv) na segunda-feira. — Ninguém pode se considerar indispensável em qualquer cargo ou tarefa, nem mesmo eu, o ego, pelo amor de Deus, é o terreno fértil para a corrupção, para a traição. Todos nós que estamos aqui estamos vacinados.
Na segunda-feira, o Departamento de Justiça dos EUA apreendeu um dos aviões de Maduro, um jato Dassault Falcon 900EX, após concluir que ele foi comprado e operado em violação às sanções dos EUA. O jato, que foi levado para a Flórida, foi apreendido no início deste ano pela polícia da República Dominicana quando aterrissou na capital Santo Domingo.
"É um passo importante para garantir que Maduro continue a sentir as consequências de seu mau governo na Venezuela", disse um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional. (Com Bloomberg e AFP)
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