Internacional
Reino Unido suspende algumas licenças de armas para Israel, e Netanyahu chama medida de 'vergonhosa'
Com a justificativa de que os armamentos poderiam ser usados para violar o direito internacional, decisão tem impacto limitado, mas aumenta a pressão contra o Estado judeu

O governo do primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, anunciou nesta segunda-feira que irá suspender as exportações de algumas armas para Israel. Com a justificativa de que os armamentos poderiam ser usados para violar o direito internacional, a medida na prática tem impacto militar limitado — a suspensão afetará 30 das 350 licenças de exportação — mas aumenta a pressão contra o Estado judeu, já que o governo britânico é um dos aliados mais próximos do país.
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O secretário das Relações Exteriores britânico, David Lammy, disse que o governo concluiu que existe um “claro risco” de que alguns componentes possam ser usados para “cometer ou facilitar uma grave violação do direito humanitário”. A medida impacta a exportação para Israel de componentes utilizados em aeronaves F-16, helicópteros, drones e sistemas navais, além de itens que facilitam a mira em solo. Lammy não anunciou a duração da suspensão, mas afirmou que a decisão não foi uma “determinação de inocência ou culpa” sobre se Israel havia violado o direito internacional, e que não se tratava de um embargo de armas.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, classificou a decisão como “vergonhosa” e disse que ela “não mudará a determinação de Israel” de derrotar o grupo terrorista Hamas, “uma organização genocida que assassinou brutalmente 1,2 mil pessoas em 7 de outubro, incluindo 14 cidadãos britânicos”. No X, o premier acrescentou que o Hamas mantém na Faixa de Gaza “mais de 100 reféns, incluindo cinco cidadãos britânicos”. “Em vez de se posicionar ao lado de Israel, uma democracia irmã que se defende contra a barbárie, a decisão equivocada do Reino Unido só irá encorajar o Hamas”, escreveu.
“Assim como a postura heroica do Reino Unido contra os nazistas é vista hoje como vital para defender nossa civilização comum, a História também julgará a postura de Israel contra o Hamas e o eixo do terror do Irã. Com ou sem armas britânicas, Israel vencerá esta guerra e garantirá nosso futuro comum”, continuou Netanyahu, que tem enfrentado pressão significativa dentro do Estado judeu devido a alegações de que sua resistência em negociar um cessar-fogo teria indiretamente levado à morte de seis reféns israelenses em Gaza.
O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, disse ter ficado “profundamente desanimado” com a decisão do Reino Unido. Ele lamentou que a medida tenha sido anunciada dias após a morte dos reféns — e enquanto Tel Aviv ainda luta em várias frentes, incluindo contra o grupo xiita libanês Hezbollah. Em comunicado, Gallant disse que as tropas israelenses e as agências de segurança do país “trabalham com imensa coragem, profissionalismo e valores morais”.
Além das peças para aeronaves militares, a administração britânica vende rifles de assalto e dispositivos explosivos para Tel Aviv. O comércio de armas do Reino Unido para Israel, no entanto, não se compara ao dos Estados Unidos. Enquanto Londres forneceu 42 milhões de libras (R$ 309 milhões) em 2022, Washington fornece US$ 3,8 bilhões (R$ 21,7 bilhões) em ajuda militar anual para o governo israelense.
Críticas de ambos os lados
A decisão do governo trabalhista, que está no poder há apenas dois meses, abriu espaço para críticas tanto por parte dos apoiadores de Israel, que dizem que o Reino Unido está retirando apoio de um aliado-chave do Ocidente e um bastião da democracia no Oriente Médio, quanto por parte dos críticos da incursão militar de Israel em Gaza, que afirmam que a suspensão de cerca de 10% das licenças não foi longe o suficiente. Para Starmer, porém, o anúncio da suspensão limitada pode ajudar a acalmar as tensões em seu partido, que está dividido pela guerra.
— Parece que Starmer estava tentando fazer um ponto para manter a coerência dentro do partido sem tentar fazer uma grande diferença — disse Aaron David Miller, pesquisador sênior do Carnegie Endowment for International Peace em Washington.
O governo de Starmer tem se mostrado mais receptivo que seu antecessor aos argumentos de que a conduta de Israel na guerra poderia violar o direito humanitário. No final de julho, o primeiro-ministro retirou as objeções da gestão anterior ao pedido do promotor do Tribunal Penal Internacional (TPI) de um mandado de prisão contra Netanyahu. O Reino Unido também retomou o financiamento para a principal agência da ONU para refugiados palestinos, a UNRWA, após concluir que o órgão tomou medidas para garantir os “padrões de neutralidade”.
A administração britânica estava sob crescente pressão para suspender as vendas de armas para Israel. Em abril, após um ataque a um comboio humanitário em Gaza que matou sete trabalhadores humanitários, incluindo três britânicos, mais de 600 advogados e juízes aposentados enviaram uma carta ao governo, argumentando que as vendas violavam o direito internacional. Citando o risco de fome entre os palestinos, o iminente ataque israelense em Rafah e a conclusão do principal tribunal da ONU, que indicava a existência de um “risco plausível” de genocídio em Gaza, os advogados instaram o primero-ministro da época, Rishi Sunak, a “suspender a provisão de armas” para os israelenses.
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