Internacional
Oposição na Venezuela denuncia fuga de centenas de 'comanditos' em meio à repressão do governo Maduro
Ativistas e testemunhas eleitorais atuavam para monitorar a votação e se organizar para garantir a ida dos eleitores às urnas, oferecendo caronas e guardando combustível
A oposição venezuelana, liderada por María Corina Machado, denunciou que centenas de seus ativistas e testemunhas eleitorais — os chamados "comanditos" — estão fugindo do país em meio à repressão contra aqueles que contestam a reeleição de Nicolás Maduro, anunciada pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) venezuelano. Desde que o chavista foi proclamado vencedor, no dia 29 de julho, mais de 2,4 mil pessoas foram detidas e pelo menos 27 pessoas morreram, segundo o procurador-geral venezuelano, William Saab Tarek.
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— Deixei minha mãe que tem 84 anos... Meu marido fez o mesmo. Minha mãe me disse: 'Seja forte, meu amor, tudo sairá bem; a alegria voltará à Venezuelana, estarei aqui te esperando. Se eu já não estiver aqui quando voltar, saberei pelo menos que você é uma pessoa livre — contou uma das opositores à rede CNN sob condição de anonimato.
A mulher estaria sendo perseguida por reunir mais de 1,2 mil atas, peça-chave nessa eleição. Até o momento, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) não apresentou os comprovantes, e o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), a quem Maduro solicitou uma perícia técnica dos resultados poucos dias após ser proclamado vencedor, tampouco os apresentou ao respaldar na semana passada o resultado divulgado pelo conselho.
A oposição, por sua vez, reivindica a vitória de Edmundo González Urrutia e alega ter reunido mais de 80% dessas atas (contagens de mais de 25 mil máquinas, segundo o jornal New York Times) que, segundo afirmam, mostram a vitória do ex-diplomata com 67% dos votos — atas que o chavismo considera "forjadas". María Corina e González lançaram um site poucos dias após a votação para hospedar esses comprovantes e torná-los públicos.
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A situação é similar à de Andrés Villavicencio, de 30 anos, que fugiu para Madri. O homem é militante do partido Primero Justicia, que integra a Plataforma Democrática Unitária (PUD) e lançou González como candidato, e vice-presidente do partido no seu município, Carirubana, no estado venezuelano de Falcón. Ele era uma das 90 mil pessoas que participaram como testemunha da oposição durante o pleito do último dia 28.
— Fui testemunha eleitoral oito vezes na minha vida. Esta foi a primeira eleição em que tivemos que exigir que a ata fosse entregue às testemunhas — lembrou Villaicencio à rede BBC, contando que a intimidação e assédio começaram ainda no dia seguinte.
O homem contou que, enquanto as ruas fervilhavam com protestos contra o resultado divulgado pelo CNE, dois homens bateram à porta de sua casa, apresentando-se como técnicos de uma empresa de internet. Villavicencio estranhou, já que ninguém havia solicitado a visita. Assim, decidiu não abrir a porta.
— Neguei a entrada deles, embora eles insistissem. Depois, tiraram fotos da minha casa por muito tempo, até irem embora. Foi aí que começou o assédio — relatou, afirmando que, após a situação, nunca mais saiu de casa sozinho.
No último dia 9, a oposição denunciou que o governo venezuelano vinha anulando os passaportes de dezenas de opositores. Com Villavicencio não foi diferente: ao entrar para conferir o status de seu passaporte, letras vermelhas e maiúsculas compunham a palavra "cancelado". No dia seguinte, ele contou que um outro carro estacionou em frente à sua casa mas, em vez de bater, passaram quatro horas sem sair do local (além de bater mais fotos da residência).
Ao ligar para um informante que conhece do governo para entender a situação, cujo nome ele não revelou para não expor, descobriu que sua "prisão era iminente e que meu local de confinamento seria Helicoide". Sem passaporte, decidiu cruzar a fronteira com a Colômbia, onde seu passaporte continuava válido, e de lá voar para a Europa.
— Antes de sair de casa, desconectei o chip do meu telefone para evitar ser geolocalizado. Já na fronteira, conectei outro chip. Fui até um local onde me buscaram e me cruzaram para a Colômbia — explicou à BBC, afirmando que "não me arrependo de nada".
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Outras pessoas que conversaram com a CNN relataram algumas trocas de roupa durante a fuga e até esconderijos em arbustos. Eles aproveitavam o período da noite e se escondiam durante o dia para evitarem as dezenas de postos de controle montados pelas forças venezuelanas (que horas após as eleições e sua subsequente crise declararam "lealdade absoluta" a Maduro). Alguns relataram também terem sido simplesmente ignorados por alguns oficiais que acreditavam ser simpáticos à oposição.
Apesar do dia 28 e os seguintes representarem a escalada da repressão, a organizadora da oposição do estado de Trujillo Viviana Save afirmou à CNN que a repressão começou muito antes da eleição. A mulher, que supervisionava as equipes de "comanditos", está fora de casa desde o dia 20 de julho com medo de ser presa pelas forças do governo, já que alguns estacionavam na frente de sua casa como forma de intimidação.
— Eles paravam do outro lado da rua, um caminhão do (serviço de inteligência) SEBIN, ou das forças especiais, com as janelas abaixadas e os policiais usando balaclavas ou máscaras de caveira para assustar minha família — contou.
Para intimidar os opositores, Maduro disse que estava preparando prisões de segurança máxima para receber mais de, até então, mil manifestantes detidos durante os protestos que eclodiram, e o governo tocou a chamada Operação Tun Tun (referência ao som das batidas na porta) que visavam a prisão de setores mais pobres.
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