Internacional

Tribunal holandês proíbe ex-policial de alegar conspiração de pedofilia satânica em cidade

Moradores de Bodegraven-Reeuwijk, na Holanda, sofrem com teorias compartilhadas em rede social sobre um culto satânico que seria realizado na região; A acusada, Alice Besselink, criticou a punição

Agência O Globo - EXTRA 27/08/2024
Tribunal holandês proíbe ex-policial de alegar conspiração de pedofilia satânica em cidade

A pequena cidade holandesa de 35 mil habitantes, Bodegraven-Reeuwijk, está aprendendo da pior forma possível o que seria uma fake news. Moradores vivem com a infame história divulgada em redes sociais de que em 1980 haveria um culto satânico e pedófilo no local. A primeira vez que os boatos surgiram, 4 anos atrás, terminaram com a prisão de três homens e, nesta segunda-feira (25), o tribunal holandês puniu mais uma pessoa. A influenciadora e ex-policial Alice Besselink deverá apagar as postagens sobre a história e não poderá mais mencionar o assunto no futuro, com pena que pode ser de 5 mil euros (R$ 30,6 mil ) a prisão de 60 dias se descumprir.

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Ao voltar a divulgar a história sem fundamentos, cidadãos foram ameaçados de diferentes formas, informou o tribunal em um documento postado online. A linha de atendimento ao cliente da cidade foi inundado com ameaças de morte, assim com o telefone do próprio prefeito e funcionários ainda relataram o caso de um homem que ao entrar nos escritórios municipais, agiu de forma ameaçadora.

Apesar disso tudo, Alice não aceitou parar de divulgar a história e a cidade entrou com um processo contra a ex-policial demitida da corporação.

O juiz impôs a proibição de novas postagens online e ordenou que a ex-policial removesse todos os comentários anteriores "dentro de 48 horas". Se ela continuasse, seria multada em 5 mil euros (R$ 30,6 mil ) toda vez que postasse algo, chegando a um máximo de 2400.000 euros (R$2,4 milhões).

E caso esse valor seja atingido e ela persistir com suas postagens, enfrentará uma sentença de prisão de 60 dias.

Em resposta, a policial criticou a falta de apoio em seu Facebook:

- Os tribunais estão chegando... E aqueles que me atacaram por ego, vocês receberão sua plataforma como atacantes contra os protetores de crianças - escreveu.

Entenda a história

Bodegraven tem sido o foco de teorias da conspiração nas redes sociais desde 2020, quando três homens começaram a espalhar histórias infundadas sobre abuso e assassinato de crianças que, segundo eles, ocorreram na cidade nos anos 1980. O principal instigador das histórias disse que tinha memórias de infância de testemunhar o abuso por um grupo de pessoas na região.

As histórias causaram muita comoção e chegaram a reunir dezenas de pessoas no cemitério local para colocar flores e mensagens escritas nos túmulos de crianças mortas de formas aparentemente aleatórias, que eles alegaram terem sido vítimas do grupo satânico.

No ano seguinte, o mesmo tribunal ordenou que os homens removessem imediatamente todos os conteúdos online relacionados à história para garantir que nada disso pudesse surgir novamente. Mas as histórias sobre Bodegraven ainda circulam nas mídias sociais, já que outras pessoas continuaram a ecoar os relatos, levando a cidade a discutir o assunto com o próprio Twitter - plataforma em que os boatos mais se enraizaram.

Em 2022 a cidade levou o Twitter à Justiça para exigir que a rede social retirasse todas as publicações relacionadas a teoria da conspiração que envolve o local. Segundo o boato, havia na década de 1980 um suposto grupo de pedófilos satanistas que teria atuado na cidade.

Os três homens por trás das alegações estão atualmente cumprindo sentenças de prisão após condenações em casos separados por incitação e ameaças de morte contra várias pessoas, incluindo o primeiro-ministro holandês Mark Rutte.