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Chefe da Autoridade Palestina acusa Israel de tornar Cisjordânia 'inabitável' e sabotar reformas

Mohammad Mustafa afirma que ações israelenses dificultam vida na Cisjordânia e inviabilizam eleições e reformas palestinas.

Sputnik Brasil 07/12/2025
Chefe da Autoridade Palestina acusa Israel de tornar Cisjordânia 'inabitável' e sabotar reformas
Mohammad Mustafa acusa Israel de dificultar reformas e eleições na Cisjordânia, agravando crise palestina. - Foto: © AP Photo / Adam Gray

O presidente da Autoridade Palestina, Mohammad Mustafa, acusou Israel de tornar a Cisjordânia "inabitável" e de sabotar as reformas e as eleições palestinas, em entrevista ao jornal britânico Financial Times.

Mustafa afirmou que a coalizão liderada por Benjamin Netanyahu pressiona os palestinos a deixarem o território, facilitando um processo contínuo de anexação. Segundo ele, cresce a percepção de que o objetivo israelense é criar condições tão adversas que parte da população saia voluntariamente.

Desde o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, a Cisjordânia enfrenta seu período mais violento em décadas, com aumento de ataques de colonos, incursões militares e quase mil palestinos mortos, segundo a ONU.

Israel, paralelamente, ampliou seu controle sobre o território ao instalar centenas de barreiras que restringem a circulação e ao anunciar a maior expansão de assentamentos em anos — considerados ilegais pelo direito internacional. A coalizão governista, que inclui figuras ultranacionalistas como Bezalel Smotrich, também intensificou a pressão financeira ao reter US$ 3,6 bilhões (cerca de R$ 19,5 bilhões) em receitas devidas à Autoridade Palestina.

De acordo com o FT, a crise fiscal resultante permitiu ao governo palestino pagar apenas 60% dos salários, enquanto a dívida total já ultrapassa US$ 14,9 bilhões (mais de R$ 80,8 bilhões). A Jordânia teme um fluxo migratório crescente da Cisjordânia, preocupação intensificada nos últimos dois anos. Vários governos ocidentais sancionaram Smotrich e o ministro Itamar Ben-Gvir por incitarem à violência contra os palestinos.

Mustafa declarou que as ações israelenses buscam enfraquecer a Autoridade Palestina e inviabilizar a criação de um Estado palestino, tentando convencer o mundo de que tal projeto é impossível. Apesar do desgaste interno e das acusações de ineficácia, a Autoridade Palestina, liderada por Mahmoud Abbas há duas décadas, ainda é vista por países árabes e europeus como o único parceiro palestino viável.

Desde outubro de 2023, a liderança palestina sofre pressão internacional por reformas e pelo aumento de legitimidade, inclusive para eventualmente assumir o governo de Gaza. Netanyahu, no entanto, rejeita qualquer papel da Autoridade Palestina no enclave e se orgulha de bloquear iniciativas relacionadas à solução de dois Estados.

A Autoridade Palestina já implementou mudanças exigidas pelos EUA e União Europeia e promete realizar eleições após o fim da guerra em Gaza, insistindo que o pleito inclua Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Oriental.

Mustafa afirmou ao FT que fará "tudo o que puder" para viabilizar as eleições, mas acusa Israel de tentar sabotá-las, questionando como seria possível garantir eleições livres sob ocupação e com a divisão política mantida há anos.