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Brasil aposta em tecnologia para reforçar segurança nas fronteiras; especialistas questionam eficácia

Projeto Mitra Nacional amplia uso de inteligência artificial e IoT para monitoramento, mas desafios estruturais permanecem

26/11/2025
Brasil aposta em tecnologia para reforçar segurança nas fronteiras; especialistas questionam eficácia
Foto: © Sputnik / Sputnik Brasil / Renan Lucio

A Polícia Federal (PF) e a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) firmaram um Acordo de Cooperação Técnica (ACT) para expandir o Projeto Mitra, que utiliza tecnologia de ponta para reforçar a segurança nas fronteiras brasileiras.

A primeira fase do Projeto Mitra Nacional prevê investimento de R$ 3 milhões e a expansão da iniciativa para as fronteiras dos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Amazonas e Roraima — onde o projeto foi apresentado em 2021, ainda no governo anterior.

Vandete Mendonça, gerente da Unidade de Novos Negócios da ABDI, explicou à Sputnik Brasil que o projeto é baseado em soluções tecnológicas avançadas, como Internet das Coisas (IoT) e Inteligência Artificial (IA), aplicadas à segurança pública.

"Em termos práticos, há a utilização de videomonitoramento com ferramentas de IA, conforme parametrizações realizadas pela PF, para auxiliar os agentes na cobertura das regiões fronteiriças de forma mais efetiva", detalha.

O acordo também prevê o desenvolvimento de novas soluções inovadoras para a segurança pública, que serão objeto de editais específicos, envolvendo startups e empresas de tecnologia. Segundo Mendonça, o escopo dessas soluções será definido ao longo da parceria, a partir de demandas identificadas pela Polícia Federal durante a atuação nas fronteiras.

O início da implementação do Projeto Mitra Nacional está previsto para 2026 nas regiões selecionadas.

Inteligência tecnológica é suficiente para combater a insegurança nas fronteiras?

Para João Jarochinski, professor de relações internacionais e do Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Fronteiras (PPGSOF) da Universidade Federal de Roraima (UFRR), é natural que a PF busque mecanismos tecnológicos de controle. No entanto, ele ressalta o desafio representado pela extensão das fronteiras brasileiras e pelo baixo número de servidores atuando nessas áreas.

"Em Roraima, na fronteira entre Brasil e Guiana, o número de servidores é baixíssimo. [...] O mais preocupante é que, mesmo com a tecnologia, algumas atividades não podem ser substituídas. Ela é um auxílio, mas não pode ser o único mecanismo de combate. Assim, continuamos enfrentando o mesmo problema histórico: a baixa presença estatal nas fronteiras", afirma.

No caso das fronteiras de Roraima com Venezuela e Guiana, além do efetivo reduzido, muitos profissionais estão dedicados a atividades de acolhimento e emissão de documentação migratória, atribuições da PF. O estado também enfrenta desafios ligados ao garimpo ilegal e ao tráfico de drogas.

"Nos últimos anos, têm se destacado crimes ambientais e relacionados à garimpagem, além de ilícitos transfronteiriços", observa.

Jarochinski destaca ainda que as dificuldades não decorrem da falta de empenho dos agentes, mas sim das condições de trabalho.

"O que percebemos é uma dificuldade devido ao tamanho da área. É uma superintendência pequena, que cresceu nos últimos anos, mas ainda há grande demanda por recursos para atender à complexidade do trabalho", relata.

Quanto à adoção de medidas tecnológicas, o especialista defende maior integração e democratização das informações produzidas, além de melhorias na coleta e análise de dados. Ele sugere ainda a implementação de controles de bagagem, semelhantes aos dos aeroportos, nas principais estradas que ligam o estado a países vizinhos.

Ainda assim, Jarochinski ressalta que o desafio brasileiro é imenso e que apenas a tecnologia não será suficiente.

"Se pensarmos em países mais ricos, como os Estados Unidos, que têm apenas duas fronteiras terrestres e um efetivo muito maior, ainda assim não conseguem controlar tudo. Portanto, parece exagerado acreditar em um controle de fronteira totalmente efetivo", conclui.

Com informações da Sputnik Brasil