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Petrobras tem três meses para apresentar plano de adequação do gás natural da UTG Caraguatatuba

ANP prorroga autorização para venda de gás, mas exige que estatal apresente estratégia para garantir teor mínimo de metano na produção

18/11/2025
Petrobras tem três meses para apresentar plano de adequação do gás natural da UTG Caraguatatuba
- Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

A diretoria da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) decidiu, de forma unânime, prorrogar por até oito meses a autorização que permite à Petrobras comercializar o gás natural processado pela Unidade de Tratamento de Gás Natural de Caraguatatuba (UTGCA). A medida estabelece um prazo de três meses para que a estatal apresente um plano detalhado de adequação, visando atender à especificação da agência para produção de gás com teor mínimo de 85% de metano.

O cronograma aprovado prevê três meses para a Petrobras entregar o plano de adequação da UTGCA, mais três meses destinados à análise técnica da ANP e, por fim, dois meses para a decisão final da diretoria. O desenho desse calendário contou com contribuições dos diretores Pietro Mendes e Symone Araújo, e o processo tem como relator o diretor Daniel Maia.

Em seu pedido de prorrogação da Autorização 279/2025, que expira em 21 de novembro, a Petrobras apresentou um relatório técnico-econômico à agência. No documento, a empresa alegou mudanças estruturais no mix de produção e risco de restrição de oferta. Segundo o relatório, sem a autorização especial, haveria uma redução significativa na capacidade de escoamento do gás do pré-sal pela rota 1, com potencial restrição de 3,3 milhões de metros cúbicos por dia em 2025, podendo alcançar até 5,5 milhões de metros cúbicos diários entre 2027 e 2030.

De acordo com a Petrobras, um dos principais desafios é o aumento progressivo da participação do gás do pré-sal, que hoje representa 72% do volume processado, enquanto a planta foi originalmente projetada para 50%. A unidade opera com um sistema de resfriamento a propano em estágio único, que apresenta limitações termodinâmicas e de capacidade, dificultando o aumento do teor de metano ao patamar exigido pela ANP.

Durante a reunião, a diretora Symone Araújo destacou que, desde 2007, quando começaram as discussões sobre a ampliação da UTG de Caraguatatuba — antes mesmo do início das operações em 2010 —, a Petrobras se compromete a adaptar a planta para processar o gás rico do pré-sal. "Até hoje, 18 anos depois, a Petrobras não apresentou uma solução. Continuamos na mesma situação e o blend do pré-sal cada vez maior. O que faremos quando tivermos, exclusivamente, escoando pelo hub de Mexilhão?", questionou.

O diretor-geral da ANP, Artur Watt, também manifestou preocupação com o tema e ressaltou o impacto social do debate. "Não podemos nos descolar do cenário. Temos o programa Gás para Entregar, que pode ampliar o consumo de GLP. O desenho do programa, além de permitir acesso, implica em aumento do consumo total do Brasil de um produto que é marginalmente importado", observou. "As medidas regulatórias, que visam investimentos dentro de um plano de desenvolvimento da produção de gás natural no pré-sal, são o caminho que precisamos trilhar", afirmou.

Com a extensão do prazo por oito meses, o colegiado avalia que será possível realizar uma análise adequada do processo. No entanto, o relator Daniel Maia endossou as preocupações dos demais diretores e avaliou que, para garantir a oferta de gás com o mínimo de 85% de metano, a prorrogação do prazo para a Petrobras se mostra "inevitável". "Mantendo a decisão de investimento por parte da Petrobras, será uma decisão por prorrogar o prazo necessário ao investimento ser realizado. Parece que isso é inevitável, sob pena de paralisação da produção na rota 1", concluiu.