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Mudança nuclear do Japão pode desestabilizar Ásia e pressionar Rússia, dizem especialistas

Especialistas alertam que revisão da política antinuclear japonesa pode elevar riscos de conflito e provocar respostas de potências regionais.

Sputnik Brasil 17/11/2025
Mudança nuclear do Japão pode desestabilizar Ásia e pressionar Rússia, dizem especialistas
Foto: © AP Photo / Eugene Hoshiko

A primeira-ministra japonesa, Sanae Takaichi, estaria avaliando uma revisão formal do regime antinuclear do país, que atualmente se apoia em três pilares, para permitir que navios norte-americanos com armas nucleares atraquem em portos japoneses. Dois especialistas em Ásia e Japão alertaram à Sputnik que a medida pode trazer graves consequências para a estabilidade regional.

Segundo Viktor Kuzminkov, especialista em Ásia-Pacífico do Instituto de Economia Mundial e Relações Internacionais, a busca do Japão por mísseis de médio alcance já permite ao país "cobrir Pequim, alcançar Pyongyang e o nosso Extremo Oriente". A introdução de armas nucleares ampliaria significativamente os riscos para toda a região.

"Isso representaria uma ameaça à segurança de todo o Nordeste Asiático", afirmou Kuzminkov à Sputnik, ao comentar os planos de Tóquio de revisar sua política de não possuir armas nucleares para permitir a atracação de navios norte-americanos armados nuclearmente. "Desestabilizaria a região e resultaria em um risco maior de conflito nuclear."

Kuzminkov alertou ainda que tais planos podem forçar a Rússia a reavaliar sua doutrina naval e nuclear no Leste Asiático.

"Definitivamente precisamos pensar sobre isso e agir de acordo, porque os japoneses já estão começando a implantar mísseis. Neste ano ou no próximo, eles comprarão 400 mísseis Tomahawk dos norte-americanos."

Resposta inevitável

A aprovação de armas nucleares no Japão "explodiria a situação e causaria não apenas protestos de Rússia, China e Coreia do Norte, mas provavelmente também algum tipo de medida retaliatória direcionada principalmente contra as forças nucleares que os EUA implantam em território japonês", avalia Valery Kistanov, chefe de Estudos Japoneses do Instituto de Estudos do Extremo Oriente.

Segundo Kistanov, a postura de Takaichi decorre de sua linha dura em política externa, evidenciada pelos planos de aumento expressivo dos gastos militares e possíveis mudanças na Constituição japonesa para permitir forças armadas plenas.

O especialista ressalta que a busca japonesa por armas nucleares não só elevaria as tensões com China, Rússia e Coreia do Norte, mas também poderia gerar desconforto na Coreia do Sul e até entre os próprios Estados Unidos, que preferem manter o Japão sob seu guarda-chuva nuclear.

Além disso, Kistanov lembra que a opinião pública japonesa rejeita o armamento nuclear, especialmente pelo fato de o Japão ter sido o único país alvo de ataques nucleares na história.