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Turistas italianos pagavam para atirar em crianças durante cerco de Sarajevo

Ministério Público de Milão apura denúncias de participação de empresários, médicos e mercenários italianos em 'safáris humanos' na Guerra da Bósnia, entre 1992 e 1995.

13/11/2025
Turistas italianos pagavam para atirar em crianças durante cerco de Sarajevo

O Ministério Público de Milão investiga denúncias chocantes de que turistas italianos teriam pago valores adicionais para participar de "safáris humanos" durante o cerco de Sarajevo, um dos episódios mais trágicos da Guerra da Bósnia (1992-1995), período marcado pela dissolução da antiga Iugoslávia.

Segundo apuração do repórter e escritor italiano Ezio Gavazzeni, publicada pelo jornal La Repubblica, os participantes desembolsavam entre € 80 mil (cerca de R$ 493 mil) e € 100 mil (aproximadamente R$ 616 mil) para atirar e matar civis, incluindo crianças. O dinheiro era repassado a intermediários das milícias sérvias.

Os suspeitos podem responder por homicídio doloso agravado por crueldade e motivos torpes.

Como funcionava o esquema

De acordo com a denúncia, os turistas italianos viajavam até Belgrado, na Sérvia, pela companhia aérea Aviogenex. De lá, seguiam de helicóptero ou por terra até as colinas próximas à capital da Bósnia e Herzegovina, onde recebiam armas e eram posicionados estrategicamente para atirar contra civis.

Quem são os suspeitos?

A maioria dos atiradores, segundo a reportagem, era formada por políticos ou simpatizantes da extrema-direita, com idades entre 40 e 50 anos, provenientes das regiões de Lombardia, Piemonte e Triveneto. O perfil inclui indivíduos com paixão por armas e busca por experiências de adrenalina "sádica".

Entre os chamados "turistas de guerra", destacam-se:

  • Empresários – um deles proprietário de uma clínica particular em Milão;
  • Médicos;
  • Mercenários.

Quem será ouvido pelo Ministério Público de Milão?

  • Um ex-funcionário da agência de inteligência da Bósnia, que, segundo o La Repubblica, já havia alertado o Serviço de Inteligência e Segurança Militar (Sismi) da Itália sobre o caso em 1994;
  • Um oficial da Eslovênia;
  • Um bombeiro que depôs no julgamento do ex-presidente da Sérvia, Slobodan Milosevic, e relatou a presença de "atiradores turistas" com roupas e armamentos incomuns para a região;
  • Os pais de uma bebê de um ano assassinada no chamado "beco dos atiradores".