Geral
62% dos brasileiros não sabem como ajudar vítimas de violência, revela pesquisa
Estudo mostra desconhecimento sobre leis, tipos de agressão e canais de denúncia, além de descompasso entre discurso e prática
Apesar de avanços em políticas públicas e campanhas de conscientização, 62% dos brasileiros afirmam não ter informação suficiente para ajudar uma mulher em situação de violência. O dado é do Índice de Conscientização sobre Violência contra Mulheres, divulgado neste mês pelo Instituto Natura e pela Avon. O levantamento também aponta que quatro em cada dez brasileiras não reconhecem espontaneamente situações de agressão vividas como violência contra a mulher.
Realizada entre junho e agosto deste ano, a pesquisa ouviu 4.224 pessoas acima de 18 anos em todas as regiões do País. Apenas 38% da população declara ter algum conhecimento sobre leis, tipos de violência doméstica — física, sexual, patrimonial, moral e psicológica — e canais de denúncia. Além disso, 40% dos entrevistados não se recordam de ter visto campanhas sobre o tema nos últimos 12 meses.
O estudo revela ainda que somente 29% dos participantes demonstraram alto ou muito alto nível de conscientização sobre a violência contra mulheres, enquanto 28% apresentaram níveis baixos ou muito baixos. O índice considera conhecimento sobre o tema, atitudes diante de casos de agressão e valores relacionados à percepção social do problema.
"A conscientização é parte da solução do problema social que é a violência contra mulheres e meninas", afirma Maria Slemenson, superintendente do Instituto Natura. "O índice não é uma pesquisa pontual, mas uma ferramenta perene, um instrumento de acompanhamento da conscientização sobre a violência contra as mulheres, que nos ajuda a compreender se estamos evoluindo enquanto sociedade e a nortear nossas ações para promover transformação social".
O levantamento também evidencia um descompasso entre discurso e prática. Entre as mulheres entrevistadas, 98% disseram que tomariam alguma atitude caso sofressem violência, especialmente acionar a polícia. No entanto, entre aquelas que de fato passaram por situações de agressão, apenas 73% buscaram ajuda, e a maioria o fez de forma privada, sem formalizar denúncia ou acionar as autoridades.
Para Beatriz Accioly, antropóloga e líder de Políticas Públicas pelo Fim da Violência Contra Meninas e Mulheres no Instituto Natura, o dado mostra que a violência ainda é tratada como um problema doméstico. "Embora tenhamos a impressão de que este seja um assunto em evidência na sociedade, a maior parte da população não conhece informações fundamentais sobre leis e políticas públicas de proteção e apoio. Esse cenário contribui para que a violência contra a mulher, em especial a doméstica, permaneça na esfera privada, e não seja tratada como um problema social mais amplo", afirma.
O estudo também aponta que 96% dos entrevistados reconhecem responsabilidade coletiva diante da violência contra a mulher, mas 60% acreditam que conflitos de casal devem ser resolvidos apenas entre os parceiros, e 15% dizem que não ajudariam por considerar o tema "assunto alheio".
O índice foi aplicado em seis países da América Latina — Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Peru e México — e revelou padrões semelhantes: em todos, mais de um terço da população afirma não ter informações suficientes para ajudar uma mulher em situação de violência.
Como denunciar
Denúncias podem ser realizadas em todo o País, 24 horas por dia e sete dias por semana, de forma anônima, por meio da Central de Atendimento à Mulher. Os canais de atendimento são:
Telefone: 180
E-mail: [email protected]
WhatsApp: (61) 9610-0180
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