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PCC percebeu que atividade usada para lavar dinheiro também é lucrativa, diz secretário do Piauí

Facção paulista controlava postos e distribuidoras de combustíveis no Norte e Nordeste, movimentando R$ 5 bilhões e usando fundos de investimento para ocultar origem dos recursos

06/11/2025
PCC percebeu que atividade usada para lavar dinheiro também é lucrativa, diz secretário do Piauí
- Foto: Tânia Rêgo/Arquivo/Agência Brasil

O secretário de Segurança Pública do Piauí, Chico Lucas, afirmou que a Operação Carbono Oculto 86, deflagrada na terça-feira (4), revelou pela primeira vez a ligação entre o braço financeiro do Primeiro Comando da Capital (PCC) e o setor de combustíveis no Norte e Nordeste do Brasil. Segundo ele, a facção paulista utilizava fundos de investimento sediados na Faria Lima, em São Paulo, para controlar postos e distribuidoras no Piauí, Maranhão e Tocantins.

"Essa rede já era investigada por fraudes e adulteração de combustíveis, mas não sabíamos a origem dos recursos. Quando tivemos acesso às informações da operação Carbono Oculto de São Paulo, percebemos que os fundos eram os mesmos e pertenciam ao PCC", afirmou o secretário. A investigação nos três Estados contou com a colaboração do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), que compartilhou informações da Operação Carbono Oculto, realizada em agosto deste ano.

A operação desta semana resultou na interdição de ao menos 49 postos de combustíveis nos três Estados. De acordo com a investigação, o grupo empresarial "Rede de Postos HD" apresentou crescimento acelerado, porém, informações coletadas em bases públicas e oficiais apontaram para discrepâncias patrimoniais e alterações societárias incompatíveis com a dinâmica regular do setor.

Para o secretário, a operação expôs uma nova lógica do crime organizado. "Eles perceberam que a atividade usada para lavar o dinheiro também podia ser lucrativa, desde que fossem feitos alguns ajustes ilegais, como, por exemplo, sonegar impostos. Se o sujeito trafica droga, adulterar combustível não é nada. Então, a lavagem virou também um negócio lucrativo, com fraude fiscal, sonegação e concorrência desleal", explicou Chico Lucas.

Entre as companhias citadas no inquérito estão Altinvest Gestão de Recursos, Pima Energia Participações, Mind Energy Participações e o fundo Jersey FIP Multiestratégia. Os principais alvos da operação são Haran Santhiago Girão Sampaio e Danillo Coelho de Sousa, antigos proprietários da rede "HD", apontados como responsáveis pela expansão do grupo e posterior "venda"; Moisés Eduardo Soares Pereira e Salatiel de Araújo, empregados e intermediadores locais, utilizados, segundo a investigação, como laranjas em holdings com sede em São Paulo; Denis Alexandre Jotesso Villani, empresário paulista vinculado à Rede Diamante, com participação em 40 empresas, incluindo 12 postos no Piauí; e Rogério Garcia Peres, gestor da Altinvest, já apontado como operador financeiro do PCC. O Estadão não conseguiu contato com a defesa dos investigados. O espaço segue aberto para manifestações.

Segundo a investigação, o esquema envolvia lavagem de dinheiro, fraude fiscal e crimes contra o consumidor, como adulteração de combustíveis e sonegação de impostos. As empresas passaram a operar sob diferentes marcas, entre elas Postos HD, Postos Pima e Rede Diamante, para dissimular a origem dos lucros. Os postos de combustíveis ligados ao PCC movimentaram R$ 5 bilhões nos três Estados, conforme apuração da Polícia Civil e do Ministério Público do Piauí (MP-PI).

O juiz Valdemir Ferreira Santos, da Central de Inquéritos de Teresina, determinou o bloqueio de R$ 348,7 milhões em bens e contas bancárias dos investigados, além da suspensão das atividades de 73 empresas e da indisponibilidade de quatro aeronaves. Apesar de negar os pedidos de prisão temporária, o magistrado impôs medidas cautelares, como a proibição de saída do País e a restrição de comunicação entre os suspeitos.