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Taxas futuras de juros longas têm alta discreta com aversão ao risco no cenário externo

Movimento reflete cautela global e fortalecimento do dólar, enquanto indicadores domésticos mantêm ritmo previsto pelo mercado

04/11/2025
Taxas futuras de juros longas têm alta discreta com aversão ao risco no cenário externo
- Foto: Depositphotos

As taxas futuras de juros de longo prazo apresentaram leve alta nesta terça-feira (4), influenciadas principalmente pelo aumento da aversão ao risco no cenário internacional, e não por fatores fiscais internos. A curva a termo mostrou inclinação tímida, com avanço mais acentuado nos vértices longos e queda nas taxas de curto prazo.

Ao fim do pregão, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 recuou de 13,887% para 13,870%. O DI para janeiro de 2029 subiu de 13,1% para 13,120%. Já no trecho mais longo, a taxa projetada para janeiro de 2031 encerrou o dia em 13,435%, ante 13,39% no ajuste anterior, após bater máxima intradia de 13,46%.

Segundo operadores, a abertura das taxas longas foi impactada principalmente pelo fortalecimento global do dólar, impulsionado por alertas de grandes instituições sobre uma possível desaceleração das Bolsas americanas, especialmente em ações de tecnologia. O recuo nos rendimentos dos Treasuries dos EUA ajudou a limitar a alta dos DIs.

Na véspera da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que deve manter a Selic em 15%, o recuo de 0,4% da produção industrial entre agosto e setembro, já descontados os efeitos sazonais, veio em linha com as projeções do mercado e confirmou o ritmo gradual de desaceleração da atividade, sem alterar de forma relevante a curva de juros.

"Acredito que boa parte da alta dos DIs mais longos hoje reflete a piora do cenário global", afirmou o economista de uma grande tesouraria ao Broadcast. "Houve um movimento de 'risk-off', com depreciação de várias moedas e queda expressiva do índice S&P 500", acrescentou.

Andrea Damico, economista-chefe e fundadora da consultoria Buysidebrazil, avaliou que o pregão desta terça foi um exemplo clássico de 'risk-off', com fuga para o dólar, perdas nas Bolsas dos Estados Unidos e queda nos rendimentos dos títulos soberanos americanos. "Tivemos um dia de dólar mais forte, queda da Bolsa e os Treasuries sendo vistos como porto-seguro", disse. Para Damico, embora o rendimento menor dos títulos públicos dos EUA pudesse aliviar a curva local, a depreciação do real teve impacto mais relevante sobre os DIs. "Somos considerados um país de risco, por isso os DIs sofreram um pouco hoje", completou.

Nesta terça, CEOs de instituições como Capital Group, Goldman Sachs e Morgan Stanley alertaram, em entrevista à agência Bloomberg, que investidores devem se preparar para uma possível queda de até 15% no mercado acionário americano nos próximos um a dois anos, em um ajuste considerado "saudável".

No Brasil, a queda de 0,4% na atividade industrial em setembro em relação a agosto, divulgada pelo IBGE, reforçou a percepção de que a economia segue perdendo fôlego em linha com as expectativas do mercado e do Banco Central, segundo Damico. Entre o segundo e o terceiro trimestres, a produção industrial ficou praticamente estável, com alta de 0,1% na comparação dessazonalizada.

No campo fiscal, o presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Renan Calheiros (MDB-AL), anunciou que o Projeto de Lei 5.473/2025, que eleva a tributação sobre bets e fintechs, será analisado pela comissão nesta quarta-feira. Também está prevista para amanhã a votação do projeto que amplia a isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil. Calheiros manteve os principais pontos do texto e as alterações feitas pelo deputado Arthur Lira (PP-AL). "Não acredito que essa questão do IR tenha influenciado o mercado hoje", avaliou a economista da Buysidebrazil.

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