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Construtora vai remover 118 árvores de bosque na zona oeste de SP após acordo com Prefeitura

Tegra Incorporadora inicia retirada de árvores no Bosque dos Salesianos, no Alto da Lapa, após firmar compromisso ambiental que prevê compensação e revitalização de praças; moradores protestam contra a medida.

04/11/2025
Construtora vai remover 118 árvores de bosque na zona oeste de SP após acordo com Prefeitura
- Foto: Reprodução / Agência Brasil

Após mais de um ano de disputa judicial, a Tegra Incorporadora iniciou a retirada de 118 árvores do terreno do Bosque dos Salesianos, uma área de 7 mil m² com 207 árvores localizada entre as ruas Pio XI, Sales Júnior e Presidente Antônio Cândido, no Alto da Lapa, zona oeste de São Paulo. O local será destinado à construção de torres residenciais.

A autorização para a retomada das atividades foi concedida pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, após a suspensão da obra a pedido da Promotoria de Justiça do Meio Ambiente. Em agosto, a construtora firmou um Termo de Compromisso Ambiental com a Prefeitura, permitindo o manejo das árvores mediante o plantio compensatório de 1.799 mudas nativas na região e investimentos para melhorias no bairro.

De acordo com o termo assinado entre a Prefeitura e a Tegra, serão cortadas 26 árvores nativas da Mata Atlântica, além de 66 de espécies exóticas e sete invasoras. O documento também aponta que 19 exemplares já estavam mortos.

Está previsto o plantio de 120 mudas dentro do próprio terreno e o plantio compensatório de outras 1.679 mudas em diferentes áreas do bairro.

O acordo determina que cada muda tenha pelo menos três centímetros de diâmetro e seja de espécie nativa do Estado. O plantio deverá ocorrer após a conclusão das obras.

Em nota, a Prefeitura informou que "não há, atualmente, qualquer decisão judicial que impeça a intervenção no local citado" e destacou que a liberação foi baseada em "fundamentação técnica e legal, prezando pelo equilíbrio ambiental".

A Tegra Incorporadora ressaltou que possui todas as autorizações necessárias e que irá revitalizar quatro praças na região, com investimento superior a R$ 1 milhão.

Nesta terça-feira, 4, moradores realizaram um protesto contra o início da obra, organizado pelo Movimento Salve o Bosque. "Na semana da COP-30, enquanto o mundo inteiro se reúne para discutir soluções e mudanças necessárias para reverter a crise climática, na zona oeste da capital paulista a incorporadora começou a derrubar o Bosque dos Salesianos com árvores centenárias e nativas", declarou a entidade em suas redes sociais.

Diversas associações de moradores também se manifestaram. O diretor de Relações de Governo da Associação Viva Leopoldina, Carlos Alexandre de Oliveira, criticou a decisão: "Infelizmente, a Prefeitura, de uma maneira muito célere, autorizou a compensação, ou seja, na prática, a derrubada de árvores centenárias no bosque, um dos últimos pulmões verdes da região, totalmente na contramão das boas práticas do meio ambiente", afirmou.

Na ação inicial do Ministério Público, de outubro de 2024, o promotor Carlos Henrique Prestes Camargo alertou para "danos irreversíveis ao patrimônio ambiental" da cidade. "O perigo decorre da destruição definitiva de uma área de suma importância para a cidade e, especialmente, para a população que reside no bairro da Lapa, comprovadamente desprovido de áreas verdes", apontou.

Moradora do bairro há décadas, Elysa Levi Fonseca, de 88 anos, destacou a importância histórica do local: "Era uma área verde de um colégio muito frequentado, onde era feita a formação de padres salesianos", relembra.