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Príncipe William no Rio: Quem são os guardiões do mangue que acompanharam passeio na Baía de Guanabara
Durante visita à APA de Guapimirim, herdeiro britânico conheceu o trabalho de três homens que dedicam a vida à preservação do maior manguezal do estado do RJ
No segundo dia de agenda no Rio de Janeiro, o príncipe William, do País de Gales, trocou o cenário urbano da capital fluminense pelo verde e o silêncio da Área de Proteção Ambiental (APA) de Guapimirim, onde o tempo parece correr no ritmo das marés. O herdeiro da coroa britânica atravessou de barco alguns dos canais e rios do maior manguezal do estado do Rio de Janeiro, .
'Deixei ele fazer o gol':
Visita real:
Ao lado do príncipe
Fiscal do mangue, de poucas palavras e olhar atento, Adilson Fernandes, de 66 anos, é o condutor das embarcações que dão suporte às equipes e visitantes da APA. Sua rotina é percorrer, diariamente, o espelho d’água da unidade, fiscalizando irregularidades e notificando infratores. Nenhum curral de pesca ilegal, rede proibida ou madeira cortada à margem da lei passa despercebido.
Nascido em São Fidélis, no Noroeste Fluminense, Russo chegou a Magé ainda criança, com seis anos. Foi acompanhado dos pais e 12 irmãos. Antes de conhecer o valor do mangue, passou três décadas nas olarias da região — locais de fabricação artesanal de tijolos e telhas — onde trabalhou como carregador, motorista e gerente. Durante seis anos, transportou lenha retirada justamente do manguezal que hoje protege.
No balanço do barco:
Encontro com Cafu no Maracanã, vôlei na praia e passeio de bondinho:
A transformação foi acontecendo pouco a pouco. Entre uma conversa ali e outra aqui, recebeu um convite para integrar a equipe da APA de Guapimirim, onde trabalha há mais de 10 anos.
— Eu não via a natureza. Era muito nervoso, de difícil relacionamento. A APA mudou meu modo de pensar, de ser e de agir. O mangue pune quem trata ele mal. Hoje, meu trabalho também é uma forma de redenção — conta Russo, que costuma levar a neta Maria Emília, de 6 anos, para passear pelos canais da baía quando está de folga.
Curupira do mangue
Chamado carinhosamente pelos colegas de “Curupira do mangue”, o biólogo Breno Herrera tem 47 anos e uma longa relação com a natureza. Criado entre as trilhas da Floresta da Tijuca, ele decidiu seguir carreira na biologia e se formou na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e, hoje, atua como gerente da região sudeste do Instituto Chico Mendes (ICMBio).
Segundo dia de visita:
Em 2002, ficou em segundo lugar no concurso do Ibama e, um ano depois, assumiu a chefia da APA de Guapimirim.
Durante os nove anos em que esteve à frente da unidade, criou o Comitê Gestor da APA, que reúne moradores, pescadores, autoridades e ambientalistas. Foi nesse período que nasceu a Estação Ecológica da Guanabara, área de proteção integral dentro da própria APA. A iniciativa garantiu a inviolabilidade da região, mesmo diante da instalação do Complexo Petroquímico de Itaboraí (Comperj), empreendimento que ameaçava alterar profundamente o equilíbrio do local.
Hoje, Curupira é gerente da região sudeste do ICMBio e segue guiado pela fé franciscana — um modo de vida inspirado em São Francisco de Assis, que valoriza a simplicidade e o respeito à vida.
Quando não está atuando nos trabalhos de proteção no mangue, está em trilhas e travessias de alguma área verde dentro ou fora do território fluminense.
— As caminhadas e travessias que faço são momentos de concentração e oração. O contato direto com a natureza me ajuda a amadurecer e a manter o foco — contou.
O cientista da baía
Também biólogo, Maurício Muniz é um dos principais especialistas na dinâmica ambiental da Baía de Guanabara e coordenador da região sudeste do ICMBio. Foi ele quem para o equilíbrio da região.
— Os manguezais funcionam como verdadeiras estações de tratamento naturais. Eles asseguram a qualidade da água e mantêm viva uma parte essencial da Baía de Guanabara — explicou.
Essa qualidade da água também pode ser vista através da biodiversidade e da presença das dezenas de botos encontrados na região do mangue. Isto porque estes animais vivem, se alimentam e procriam em águas limpas. Por isso, enquanto são vistos, são sinais de boa balneabilidade.
No entanto, embora sua presença comprove a preservação, os cerca de 30 botos que vivem atualmente na região são um número bem menor que os 400 registrados na década de 1980.
Esquema especial:
Muniz ainda lembra que a equipe da APA foi decisiva para conter a extração ilegal de madeira usada para alimentar fornos de olarias em Itaboraí. Segundo ele, o mangue atua como “esponja” contra tempestades e elevação do nível do mar, além de capturar cinco vezes mais carbono que uma floresta tropical, então, seu desmatamento é prejudicial de muitos modos.
— Quem visita APA de Guapimirim descobre uma Baía de Guanabara muito diferente da imagem de poluição. Nela, ainda é possível ver peixe, mangue, comunidade tradicional, pescador. É o que restou de uma baía ancestral — resumiu.
Na visita desta terça-feira, o que resiste entre as águas e as árvores. E, de quebra, conheceu quem longe dos holofotes, dedica a vida a garantir que o mangue continue respirando — e refletindo, como um espelho, a história da Baía de Guanabara.
APA de Guapimirim
Criada em 1984, a Área de Proteção Ambiental (APA) de Guapimirim foi a primeira do país destinada a proteger os manguezais, essenciais para o equilíbrio da biodiversidade na Baía de Guanabara.
Seu objetivo principal é proteger remanescentes de manguezais situados no recôncavo leste da Baía de Guanabara e assegurar a permanência e a sobrevivência de populações que mantêm relação próxima com o ambiente, vivendo dos recursos naturais e perpetuando características tradicionais no convívio com o meio ambiente.
Antes do Príncipe William:
Localizada na região metropolitana do Rio, tem aproximadamente 14 mil hectares. Abrange parte dos municípios de Magé, Guapimirim, Itaboraí e São Gonçalo. Além de estar inserida na Baía de Guanabara.
Ao norte da área existe divisa com a rodovia BR-493, que liga Itaboraí a Magé, enquanto que ao sul faz fronteira a Serra de Itaúna e a Ilha de Itaoca, no município de São Gonçalo.
Dentro da APA também é possível encontrar a Estação Ecológica da Guanabara. Ela está presente em parte do território de Guapimirim e Itaboraí. Criada em 2006, ela abrange 2 mil hectares, mas também é considerada a área mais conservada de toda Baía de Guanabara e apresenta características cênicas semelhantes às encontradas antes da colônia europeia.
Nela, estão presentes o clima tropical e vegetação rica com espécies como mangue vermelho, preto e branco, além de peixes, crustáceos, répteis, mamíferos e diversas aves migratórias.
Também estão presentes jacarés-de-papo-amarelo, botos e colhereiros — aves de grande porte com bico em formato de colher.
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